Saída imediata de Vieira divide benfiquistas mas todos dizem que o clube sai lesado
Gomes da Silva, Tinoco de Faria e Toni têm sensibilidades diferentes sobre o caso que está a abalar o clube da Luz com a detenção do presidente. Críticas também à restante direção.
A detenção de Luís Filipe Vieira, suspeito de burla, fraude fiscal, abuso de confiança, falsificação e branqueamento de capitais em negócios e financiamentos de valor superior a 100 milhões de euros, que poderão ter acarretado elevados prejuízos para o Estado e para algumas sociedades, deixou o universo benfiquista em choque. Como ainda não são conhecidas as medidas de coação - o interrogatório a Vieira foi adiado para hoje e os outros três arguidos só depois deste procedimento ficarão a conhecer a decisão do juiz Carlos Alexandre -, há personalidades ligadas ao clube que preferem esperar para se pronunciar. Mas há quem ache que o presidente devia já demitir-se.
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Toni, antigo jogador e treinador, e Tinoco de Faria, ex-presidente da mesa da assembleia geral do Benfica, defendem que é preciso esperar pelas medidas. Já Rui Gomes da Silva, que durante anos conviveu com Vieira na direção, mas que se tornou um feroz opositor, diz que o presidente tem de sair pelo próprio pé. Mas num ponto concordam: esta detenção constitui fortíssimo abalo na reputação nacional e internacional do Benfica. Gomes da Silva entende que Vieira "deve pedir a demissão por razões éticas, morais, de dignidade, interesse do Benfica e até amor ao Benfica, como ele tanto apregoa". O antigo vice-presidente das águias critica ainda os companheiros de direção e da SAD que se foram mantendo fiéis a Vieira.
"Gostaria de ver os votos contra que houve nas reuniões da administração e da SAD em algumas decisões que foram tomadas. Não se apercebiam do que se estava a passar? Havia negócios que eram evidentes e certamente havia mais pessoas a aperceberem-se dessas situações. Muitas das coisas que eu fui vendo enquanto estava no Benfica apontavam para este caminho e foi por isso que decidi bater com a porta", atirou Gomes da Silva, lançando algumas acusações: "Para esses negócios terem ido para a frente, houve alguém que assinou com Vieira. Não sei quem foi, só sei quando fui eu a assinar quando tive as funções de vice-presidente do Benfica e quando fui administrador da SAD."
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Caso se confirme a saída de Vieira da presidência, Rui Gomes da Silva defende que o melhor cenário será o de eleições antecipadas. Mas desconfia deque não será isso que irá acontecer. "As pessoas querem perpetuar-se no poder. Pois que o façam, desde que consigam construir uma grande equipa de futebol e que levem o clube ao sucesso. Mas eu quando me candidatei à presidência deixei claro que não queria ninguém que já estivesse no clube", recordou.
Gomes da Silva apontou o dedo a Rui Costa: "Se eu acho que ele seria uma boa solução para suceder a Vieira? Acho que ele quer avançar para a presidência e que esse será o maior erro que poderia cometer. Mas força, que vá em frente se acha que isso é o melhor para o Benfica. Eu tenho defendido que ele há muito deixou de fazer parte da solução e passou a ser um problema para o Benfica."
Apesar do atual contexto conturbado, Gomes da Silva não duvida de que muitos sócios do Benfica continuam a apoiar Vieira. "Pior cego é aquele que não quer ver. Andei anos a alertar que isto ia acontecer e não me deram ouvidos. Tem dúvidas que mesmo depois disto ainda haja quem o defenda?", atira.
Tempestade anunciada
Tinoco de Faria, presidente da mesa da assembleia geral do Benfica entre 2003 e 2006, sublinha que "neste momento é preciso prudência". "Estamos no período de inquirição e devemos esperar pela decisão do juiz, que está para muito breve", disse. No entanto, realça que "evidentemente que o que aconteceu foi muito grave e deixa todos os benfiquistas tristes e angustiados".
Tinoco de Faria lembrou que "Luís Filipe Vieira está há muitos anos na presidência do Benfica e se o juiz o impedir de exercer funções, isso poderá te consequências graves para o clube".
O antigo presidente da mesa da assembleia geral lançou duras críticas aos órgãos sociais. "Pecaram por omissão, pois o que aconteceu é o epílogo de uma tempestade anunciada. Nunca fizeram perguntas a Vieira, quando já era mais do que óbvio que algo se passava? Foram servis do presidente e agora lançam um comunicado a dizer que o Benfica nada tem que ver com isto e que vão assegurar a gestão do clube? E ainda por cima sem terem uma palavra para Vieira? É algo ignóbil", defendeu.
Presunção de inocência
Toni, ex-jogador e treinador, defende estarmos "perante uma situação muito delicada, que deve ser gerida sem precipitações". Na sua opinião, não existem razões no imediato para Vieira renunciar ao cargo. "Ele vai ser ouvido pelo juiz e depois vamos esperar para saber quais serão as medidas de coação. Considero que devemos ter em conta a presunção de inocência em todos os processos judiciais", sublinhou.
"O que mais me preocupa são as consequências que esta situação tem no bom nome do Benfica. E não estamos a falar apenas em Portugal... estas notícias estão a ser difundidas um pouco por todo o mundo, com óbvio prejuízo para a imagem de um clube que sempre foi respeitado", acrescentou preocupado Toni.
O treinador campeão pelo Benfica na época de 1993-94 refere, contudo, que "caso seja considerado culpado, obviamente que Vieira deixará automaticamente de ser presidente, mas se for inocente, não existirão razões para abandonar o cargo". E lembrou que "nas eleições de outubro foi eleito pelos sócios, com alguma margem de avanço sobre o segundo classificado [Luís Filipe Vieira teve 62,59%, contra 34,71% de João Noronha Lopes]".
Toni espera que "nada disto venha a ser provado, até porque seria uma grave desestabilização numa altura muito importante para o Benfica do ponto de vista financeiro, com o lançamento do empréstimo obrigacionista e também do ponto de vista desportivo, com o clube prestes a tentar a qualificação para a Liga dos Campeões".
dnot@dn.pt