19 abril 2017 às 00h13

Sá Pinto: "Havia adeptos do Sporting para quem era mais importante ganhar ao Benfica do que o campeonato"

"Considerei sempre e considero que o Benfica é o meu eterno rival. Eram sempre jogos emotivos", diz o antigo treinador do Sporting, numa entrevista em que perspetiva o dérbi de sábado.

André Cruz Martins

Ricardo Sá Pinto foi o último treinador do Sporting que derrotou o Benfica em jogos do campeonato realizados em Alvalade. Na época de 2011/12, o triunfo por 1-0, a cinco jornadas do fim, foi fatal para os encarnados, que ficaram então a quatro pontos do líder FC Porto, não conseguindo depois recuperar a liderança. O que poucos saberão é que Sá Pinto foi o jogador em toda a história dos leões com a melhor média de resultados diante do eterno rival, considerando futebolistas que realizaram pelo menos dez jogos: em 14 partidas, ganhou nove, empatou duas e só perdeu em três ocasiões. Uma percentagem de 64% de vitórias, sendo que quem mais se aproximou foi Jesus Correia (59%). Enquanto treinador teve 100% de aproveitamento, com dois triunfos pelos juniores e a tal vitória de 2012 pelos seniores. O atual técnico dos gregos do Atromitos recorda este passado e antecipa o grande duelo do próximo sábado.

Tinha noção de ser o jogador na história do Sporting com melhores resultados com o Benfica?
Tenho a noção dos bons resultados que obtive contra o Benfica. Não só nos dérbis em que joguei, mas também como treinador, em que ganhei um jogo. Já quando estava no Salgueiros, em 1994, recebemos o Benfica na Maia, em casa emprestada, e ganhámos 1-0 com um golo meu.

Sentia que os jogos com o Benfica lhe corriam bem? Eram momentos especiais para si, sentia que tinham um clima diferente dos clássicos com o FC Porto?
Todos os jogos são especiais, já sentia isso quando era jogador profissional e agora sinto o mesmo como treinador. Para mim, todos são jogos para ganhar. Esforço-me ao máximo para conseguir ajudar a minha equipa a ter os meios necessários para que os jogos corram da melhor forma, com a equipa concentrada e com o melhor resultado possível. Também há o lado estratégico e emocional que tornam cada jogo diferente.
Mas os dérbis são sempre jogos especiais...
Considerei sempre e ainda considero que o Benfica é o meu eterno rival. Eram sempre jogos mais competitivos, mais emotivos e em que sentíamos a pressão do próprio jogo. Sentia mesmo que havia adeptos do Sporting para quem era mais importante ganhar ao Benfica do que, às vezes, ganhar o campeonato. Ou seja, se lhes déssemos a escolher, diziam que "perder contra o Benfica, nunca!", portanto sentíamos muito isso. Senti sempre que os dérbis eram diferentes por causa dessa rivalidade e por esse lado emocional.

Como treinador esteve na última vitória do Sporting em casa com o Benfica, em abril de 2012 (1-0, golo de Van Wolfswinkel). O que recorda desse jogo?
Recordo que fizemos um jogo extraordinário, em que dominámos o Benfica durante os 90 minutos e em que o resultado pecou por escasso. Lembro-me perfeitamente que nessa época era o Benfica que lutava pelo título e que depois desse resultado deixou de o poder fazer. Ou seja, retirámos todas as hipóteses ao Benfica de poder ser campeão e sabíamos perfeitamente a responsabilidade que representava esse jogo. O treinador nessa altura era Jorge Jesus, que nunca tinha perdido contra o Sporting e já contava com várias vitórias. E o Benfica era um adversário difícil, que era claramente favorito na altura. Claro que para um treinador do Sporting e, para mim em particular, sair vitorioso no meu primeiro dérbi foi muito importante e muito marcante.

Esse jogo de 2012, curiosamente, disputou-se numa situação muito semelhante à atual, com o Benfica a lutar pelo título e o Sporting afastado. Sentiu especial prazer em praticamente afastar o Benfica da luta pelo título? E acha que os jogadores do Sporting vão estar motivados para esta época fazerem o mesmo?
Enquanto jogador, para mim era importante ganhar todos os jogos, ou pelo menos tentar ganhar todos os jogos. Só entendia estar num clube com a dimensão do Sporting a lutar pela vitória em todos os jogos e por títulos. Enquanto treinador, a minha mentalidade é igual. Para mim, não há adversários favoritos, não me dá especial satisfação ganhar a um clube ou a outro. Para mim é importante ganhar, seja a que clube for.0

Pensa que existe um favorito para o dérbi de sábado? Poderá o Sporting ser beneficiado por jogar sem a pressão de ter de ganhar para ser campeão?
Costuma dizer-se que, nestes dérbis entre Benfica e Sporting, quem chega menos bem classificado é quem costuma ganhar ou, pelo menos, não perder. Há muitos jogos nesta longa história de confrontos entre as duas equipas que dizem isso. Mas um dérbi é sempre um dérbi, nunca se sabe o que pode acontecer. Mesmo o fator casa nem sempre é determinante, como a história também mostra.

O que acha do clima de enorme conflito entre Sporting e Benfica desde que Jorge Jesus se mudou para Alvalade?
Não tenho acompanhado. Estou muito focado aqui na Grécia no meu trabalho no Atromitos e, como tal, não posso comentar aquilo que não acompanho.

Qual é o jogo com o Benfica que recorda com mais saudade?
Todos aqueles que ganhei. Recordo grandes vitórias na Luz, duas vezes por 3-1, mas recordo sobretudo aquele que ganhei como treinador.

Quais os jogadores de uma e outra equipa que poderão ser decisivos neste jogo?
Podemos falar de alguns futebolistas que têm sido mais preponderantes no Sporting, nomeadamente os jogadores mais ofensivos, que desequilibram mais. Mas muitas vezes esses jogadores mais importantes não são os que decidem os dérbis... Se do lado do Sporting temos Gelson Martins ou Bas Dost, do outro lado do Benfica há o Jonas e o Mitroglou. Muitos dirão que esses são os jogadores que poderão concretizar as oportunidades, mas normalmente nos dérbis há poucas oportunidades de golo, por vezes até acabam por ser os lances de bola parada que decidem o jogo. E nesses lances, aparecem os tais jogadores que menos esperamos a marcar.