"A requalificação do Estádio Nacional respeita o seu traçado histórico e pretende recuperar parte da memória do desporto português." A garantia foi dada ao DN por uma interveniente no processo de escolha do projeto vencedor, que será revelado na segunda-feira, na sede da Ordem dos Arquitetos, em Lisboa. Inaugurado a 10 de junho de 1944, o novo Jamor vai ter bancadas cobertas e manterá uma ocupação na ordem dos 36 mil lugares. Além da remodelação da pista de atletismo, está prevista a construção de novos balneários, casas de banho de raiz, zonas de adeptos separadas conforme as regras em vigor, delimitar zona de mobilidade reduzida e melhorar os acessos. O ponto de partida para a recuperação arquitetónica foi dado oficialmente no dia 15 de julho de 2023, com a assinatura de um protocolo entre o município de Oeiras, o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), a Direção Geral do Património Cultural (DGPC) e três federações nacionais (futebol, atletismo e râguebi). Seguiu-se a definição de um caderno de encargos e o lançamento de um concurso de ideias para recuperar e modernizar o histórico recinto, que continua à espera de ser classificado como Património Nacional. Também por isso a Direção Geral do Património Cultural fez parte do júri que escolheu o vencedor de entre os seis projetos a concurso. Era obrigatório respeitar o traçado histórico do Estádio Nacional.A verba estipulada no caderno de encargos para o custo da obra é de 25 milhões de euros, apesar das estimativas iniciais, feitas ainda sem se conhecerem os projetos de reabilitação, era de entre 30 a 40 milhões..Estádio Nacional. Uma obra da propaganda fascista para a modernidade.Olhado por muitos como uma obra-prima da arquitetura fascista, o recinto é resultado de uma promessa de Oliveira Salazar, no Congresso dos Clubes Desportivos em 1933. Ganhou vida um ano depois com a abertura de um concurso para a construção de um complexo desportivo no Vale do Jamor, em Oeiras. Concorreram vários arquitetos. Uma das propostas apresentadas foi a de Cristino da Silva, que tinha estado associado ao arquiteto Constantino Costantini na construção do Fórum Mussoulini, em Roma... mas não passou à final. Depois de escolher dois projetos dos arquitetos Francisco Caldeira Cabral, Konrad Wiesner e Jorge Segurado, o ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco, chamou a si a responsabilidade do projeto e delegou no arquiteto Jacobetty Rosa a sua execução. Foi dele a ideia da tribuna de honra, que ainda hoje recebe os vencedores e os vencidos após a Taça de Portugal..A longa espera pela classificação como Património NacionalInspirado no antigo Estádio Olímpico de Berlim, o recinto foi inaugurado no dia 10 de junho de 1944 - na altura Dia da Raça Nacional e atualmente Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas - pelo Presidente da República, Óscar Carmona, e pelo presidente do Conselho, António Oliveira Salazar. “Tal como as montanhas, a história só se vê à distância. Um dia, daqui a muitas décadas, alguém se debruçará sobre a história que aqui vivemos hoje”, escreveu o DN na altura, citando Salazar.A festa terminou com um Benfica-Sporting. Foi o primeiro de muitos dérbis lisboetas no Jamor e os leões venceram por 3-2. A partir daí e durante 12 anos, o estádio passou a ser a casa das seleções nacionais, que agora se concentram ali ao lado, na Cidade do Futebol. O recinto foi ainda talismã para os escoceses do Celtic, que lá venceu a antiga Taça dos Clubes Campeões Europeus (atual Liga dos Campeões). Todos os anos os seus adeptos visitam o relvado nacional para recordar essa conquista de 1967 frente ao Inter Milão (2-1). .O recinto acolhe a final da Taça de Portugal masculina desde 1946 (salvo cinco raras exceções) e final feminina desde 2004. Mas também os jogos da seleção de râguebi. A pista de atletismo tem recebido dois meetings por ano. Só no pós-25 de Abril, o complexo ganhou alguns dos espaços que agora tem, como a piscina, o centro de alto rendimento, o centro de ténis, vários campos de futebol e râguebi e uma residência para atletas. Hoje serve também o público na prática desportiva.Antes de ser assinado o protocolo para a reabilitação do espaço, o Estádio de Honra, court de ténis central, edifícios anexos e mata do Jamor permaneciam em vias de classificação como Património Nacional. Uma luta com mais de 10 anos. O primeiro pedido ocorreu em 2012, mas o procedimento só foi aberto em 2019 e logo depois alvo de “contestação” por parte da Câmara Municipal de Oeiras e mesmo impugnado pela construtora Silcoge, promotora do loteamento de Porto Cruz, na zona protegida do Vale do Jamor.IPDJ avança com remodelação da Praça da Maratona e acessos ao JamorAs obras de remodelação do estádio e pista de atletismo não são as únicas previstas até 2030. Segundo soube o DN, está também em marcha um projeto de requalificação dos acessos ao Complexo Desportivo do Jamor bem como mudanças estruturais na Praça da Maratona - a zona de entrada no estádio - e na Avenida Pierre de Coubertin, que vai até à zona das Piscinas. Tudo a tempo de receber o Mundial2030, uma vez que o recinto será um dos locais de treino para as seleções.isaura.almeida@dn.pt
"A requalificação do Estádio Nacional respeita o seu traçado histórico e pretende recuperar parte da memória do desporto português." A garantia foi dada ao DN por uma interveniente no processo de escolha do projeto vencedor, que será revelado na segunda-feira, na sede da Ordem dos Arquitetos, em Lisboa. Inaugurado a 10 de junho de 1944, o novo Jamor vai ter bancadas cobertas e manterá uma ocupação na ordem dos 36 mil lugares. Além da remodelação da pista de atletismo, está prevista a construção de novos balneários, casas de banho de raiz, zonas de adeptos separadas conforme as regras em vigor, delimitar zona de mobilidade reduzida e melhorar os acessos. O ponto de partida para a recuperação arquitetónica foi dado oficialmente no dia 15 de julho de 2023, com a assinatura de um protocolo entre o município de Oeiras, o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), a Direção Geral do Património Cultural (DGPC) e três federações nacionais (futebol, atletismo e râguebi). Seguiu-se a definição de um caderno de encargos e o lançamento de um concurso de ideias para recuperar e modernizar o histórico recinto, que continua à espera de ser classificado como Património Nacional. Também por isso a Direção Geral do Património Cultural fez parte do júri que escolheu o vencedor de entre os seis projetos a concurso. Era obrigatório respeitar o traçado histórico do Estádio Nacional.A verba estipulada no caderno de encargos para o custo da obra é de 25 milhões de euros, apesar das estimativas iniciais, feitas ainda sem se conhecerem os projetos de reabilitação, era de entre 30 a 40 milhões..Estádio Nacional. Uma obra da propaganda fascista para a modernidade.Olhado por muitos como uma obra-prima da arquitetura fascista, o recinto é resultado de uma promessa de Oliveira Salazar, no Congresso dos Clubes Desportivos em 1933. Ganhou vida um ano depois com a abertura de um concurso para a construção de um complexo desportivo no Vale do Jamor, em Oeiras. Concorreram vários arquitetos. Uma das propostas apresentadas foi a de Cristino da Silva, que tinha estado associado ao arquiteto Constantino Costantini na construção do Fórum Mussoulini, em Roma... mas não passou à final. Depois de escolher dois projetos dos arquitetos Francisco Caldeira Cabral, Konrad Wiesner e Jorge Segurado, o ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco, chamou a si a responsabilidade do projeto e delegou no arquiteto Jacobetty Rosa a sua execução. Foi dele a ideia da tribuna de honra, que ainda hoje recebe os vencedores e os vencidos após a Taça de Portugal..A longa espera pela classificação como Património NacionalInspirado no antigo Estádio Olímpico de Berlim, o recinto foi inaugurado no dia 10 de junho de 1944 - na altura Dia da Raça Nacional e atualmente Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas - pelo Presidente da República, Óscar Carmona, e pelo presidente do Conselho, António Oliveira Salazar. “Tal como as montanhas, a história só se vê à distância. Um dia, daqui a muitas décadas, alguém se debruçará sobre a história que aqui vivemos hoje”, escreveu o DN na altura, citando Salazar.A festa terminou com um Benfica-Sporting. Foi o primeiro de muitos dérbis lisboetas no Jamor e os leões venceram por 3-2. A partir daí e durante 12 anos, o estádio passou a ser a casa das seleções nacionais, que agora se concentram ali ao lado, na Cidade do Futebol. O recinto foi ainda talismã para os escoceses do Celtic, que lá venceu a antiga Taça dos Clubes Campeões Europeus (atual Liga dos Campeões). Todos os anos os seus adeptos visitam o relvado nacional para recordar essa conquista de 1967 frente ao Inter Milão (2-1). .O recinto acolhe a final da Taça de Portugal masculina desde 1946 (salvo cinco raras exceções) e final feminina desde 2004. Mas também os jogos da seleção de râguebi. A pista de atletismo tem recebido dois meetings por ano. Só no pós-25 de Abril, o complexo ganhou alguns dos espaços que agora tem, como a piscina, o centro de alto rendimento, o centro de ténis, vários campos de futebol e râguebi e uma residência para atletas. Hoje serve também o público na prática desportiva.Antes de ser assinado o protocolo para a reabilitação do espaço, o Estádio de Honra, court de ténis central, edifícios anexos e mata do Jamor permaneciam em vias de classificação como Património Nacional. Uma luta com mais de 10 anos. O primeiro pedido ocorreu em 2012, mas o procedimento só foi aberto em 2019 e logo depois alvo de “contestação” por parte da Câmara Municipal de Oeiras e mesmo impugnado pela construtora Silcoge, promotora do loteamento de Porto Cruz, na zona protegida do Vale do Jamor.IPDJ avança com remodelação da Praça da Maratona e acessos ao JamorAs obras de remodelação do estádio e pista de atletismo não são as únicas previstas até 2030. Segundo soube o DN, está também em marcha um projeto de requalificação dos acessos ao Complexo Desportivo do Jamor bem como mudanças estruturais na Praça da Maratona - a zona de entrada no estádio - e na Avenida Pierre de Coubertin, que vai até à zona das Piscinas. Tudo a tempo de receber o Mundial2030, uma vez que o recinto será um dos locais de treino para as seleções.isaura.almeida@dn.pt