Queiroz não está surpreendido com críticas de Ronaldo ao United

Selecionador do Irão, que já foi treinador adjunto dos <em>red devils</em>, diz que a equipa inglesa está a viver de há uns anos para cá momentos de grande instabilidade.
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O selecionador de futebol do Irão, o português Carlos Queiroz, não se mostrou este sábado surpreendido com as críticas do compatriota Cristiano Ronaldo ao Manchester United, acreditando que o avançado encontrou o clube inglês muito instável.

Em declarações em Doha, no Qatar, onde vai decorrer a fase final do Mundial 2022, o técnico português comentou a entrevista dada recentemente por Ronaldo, em que o capitão da seleção nacional arrasou o Manchester United e o treinador Erik ten Hag.

"Estou um pouco afastado, mas não me surpreende, porque o contexto do clube não é o mesmo. A verdade é que, talvez, a contratação de Cristiano como jogador é uma coisa, como elemento que teria chegar ao clube e fazer a viragem da filosofia, ou não filosofia, é outra completamente diferente", começou por dizer Carlos Queiroz, de 69 anos.

O antigo técnico-adjunto dos red devils entre 2002 e 2008 - pelo meio foi técnico principal do Real Madrid -, falou, depois, da "grande instabilidade" que o jogador português encontrou em Old Trafford.

"O clube está a viver um momento de grande instabilidade nestes anos. O Cristiano chegou e não viu a mesma mentalidade, a mesma forma de estar. Encontrou dificuldades na adaptação e rotinas num clube que foi sempre ganhador e que está a tentar levantar-se. Não se corrige isto em seis meses ou num ano, demora quatro a sete anos", analisou.

Ainda sobre o capitão da equipa das quinas, mas relativamente à gestão física em campo, tendo em conta os 37 anos de idade, Queiroz explicou que tem de existir uma abordagem diferente, tal como com o central Pepe, de 39.

"São jogadores que deram grandes contributos e soluções às equipas. Quando nós temos o Ronaldo com 37, obviamente que a abordagem da competição e do treino tem de ser diferente. Há que entender de forma diferente, com consideração e bom senso necessário para tirar partido de dois jogadores que foram importantes e continuam a ter um papel importante", argumentou.

De acordo com Queiroz, que treinou a seleção portuguesa entre 2008 e 2010, "não se pode gerir um jogador de 37 anos, como se gere um de 20 ou 21", pelo que é "preciso saber construir as melhores condições dentro do campo, como no passado".

Por fim, abordou a qualidade existente na equipa treinada por Fernando Santos, que tem "sabido equilibrar as estrelas" lusas, sem esquecer de referir que nunca Portugal reuniu "experiência e maturidade" como em 2022.

"Para a seleção portuguesa [o Mundial] vem num momento único na história do futebol português. Nunca jogadores em condições e de qualidade extraordinária se juntaram num determinado momento, com soluções para se chegar ao fim. Penso que, desta vez, Portugal reúne essas condições. Vencer, todos desejam, e penso que Portugal tem uma forma, tem qualidade, tem profundidade, experiência e maturidade que nunca tivemos. E tem o Fernando [Santos], que tem sabido equilibrar estes jogadores, estas estrelas. A forma está ali. Não há vencedores antecipados e aquela ponta de sorte que é necessária", concluiu.

Queiroz apontou à qualificação do Irão para os oitavos de final do Mundial 2022, mesmo que a preparação seja mais curta do que o habitual em fase finais.

Irão vai disputar o Grupo B, juntamente com Inglaterra, País de Gales e Estados Unidos, mas o técnico, que se prepara para participar no quarto mundial da carreira, mostrou-se ambicioso, apesar já ter "uma dor de cabeça para resolver com o Harry Kane e o Raheem Sterling", avançados da seleção inglesa, primeiro opoente da poule.

"É um jogo de campeonato com três partes. O nosso Campeonato do Mundo é a qualificação como em 2018 e 2014 e há que fazer melhor para fazer pontos. Passarão aqueles que no final vão juntar os critérios da FIFA à melhor pontuação. Depois de estarmos lá [oitavos], será uma festa, jogo a jogo e tentar sempre ganhar. É essa a razão pela qual estamos aqui e pelos adeptos iranianos, que são apaixonados pelo futebol", declarou o treinador luso, à comunicação social lusa, presente em Doha.

Caso chegue à grande final, marcada para dia 18 de dezembro, o adversário que "desejaria" encontrar seria Portugal: "A final que desejaria era com Portugal, com todo o respeito ao meu amigo Paulo Bento [selecionador da Coreia do Sul]".

Realizar a fase final de um Mundial a meio de uma temporada futebolística é, para Queiroz, "completamente diferente", lamentando a pouca preparação para encarar da melhor forma a estreia contra os ingleses, na segunda-feira.

"Este Campeonato do Mundo é como abordar alguns exercícios sem rede. As equipas não têm quase nenhuma preparação, é a curto prazo e a nossa situação, ainda mais num grupo em que jogamos no princípio, não temos mais quatro ou cinco dias para pensar, ver e decidir, mas é o que é. É completamente diferente jogado em novembro, a meio das competições europeias", expressou.

Depois, falou do espírito vivido na seleção, face ao movimento de protesto de massas que se estendeu a todo o país e tem abalado o Irão desde a morte, há dois meses, de Mahsa Amini, uma curda iraniana de 22 anos presa por violar um rígido código de vestimenta, que exige que as mulheres usem o véu islâmico em público.

Mais de 300 pessoas foram mortas e quase 15.000 detidas nos protestos no Irão desencadeados pela morte da jovem em 16 de setembro, após ser detida pela polícia de costumes, segundo dados avançados pelo grupo Ativistas dos Direitos Humanos.

"Eles [jogadores] estão completamente focados na preparação da equipa. Estamos a representar a seleção, 90 milhões de pessoas. Estamos numa missão e ninguém nos perdoaria se ao serviço da seleção não estivéssemos completamente focados, mas claro que temos sentimentos. É por isso que estamos aqui, para fazer do Campeonato do Mundo uma festa. Precisamos de alegria", terminou.

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