O italiano Edoardo Bove, 22 anos, que sofreu um colapso em campo no jogo de domingo entre a Fiorentina e o Inter Milão, já está consciente. O clube viola informou ontem que o jogador já não está entubado, que falou com a família, com o treinador e colegas de equipa, e que nos próximos dias será submetido a novos exames para determinar as causas do problema. Mas para já vai manter-se internado..“Parece ter sido uma paragem cardíaca clássica. Em 99% dos casos trata-se de uma arritmia do coração. Ele foi reanimado, foi-lhe dada uma massagem cardíaca. Não se pode excluir que o coração tenha recomeçado com a massagem e que depois tenha sido necessário utilizar o desfibrilhador quer na ambulância, quer no hospital. Se houver um gatilho por baixo, a arritmia passa, mas depois pode voltar”, indicou ontem em declarações ao jornal Gazzet- ta dello Sport o médico Daniele Andreini, responsável pela Unidade de Cardiologia Clínica e Cardiologia do Desporto do Hospital Galeazzi, de Milão..Apesar de adiantar que é cedo para traçar um diagnóstico definitivo, Andreini não colocou de parte a hipótese de o médio ter a carreira em risco: “Se foi uma paragem cardíaca desfibrilhada, inde- pendentemente da causa, o regresso à competição é difícil. Mas é prematuro falar sobre isso.”.Em 2018, a Fiorentina já tinha vivido um caso dramático, com a morte do defesa-central Davide Astori em plena concentração da equipa antes de um jogo numa unidade hoteleira. O jogador foi encontrado morto no quarto e a autópsia revelou que a causa do falecimento foi uma miocardiopatia arritmogénica silenciosa..A imagem de Bove a colapsar em campo e os momentos que se seguiram, com a entrada de uma ambulância no relvado perante o desespero dos colegas de equipa e dos jogadores do Inter, motivou uma enorme comoção em todo o mundo e fez relembrar tragédias antigas de futebolistas que faleceram em campo devido a problemas cardíacos, casos de Marc-Vivien Foé, que em 2003, num jogo entre a seleção dos Camarões e a Colômbia, sofreu uma cardiomiopatia hipertrófica. E em 2004 Miklos Fehér, avançado húngaro do Benfica que sofreu uma paragem cardiorrespiratória num jogo entre os encarnados e o V. Guimarães, no Estádio D. Afonso Henriques..Outra morte por problemas cardíacos que deixou o mundo do futebol em choque aconteceu em agosto de 2007: o espanhol Antonio Puerta, de 22 anos, morreu num hospital três dias depois de se ter sentido mal num jogo entre o seu clube, o Sevilha, e o Getafe, após sofrer uma paragem cardíaca que lhe causou falência múltipla de órgãos. Dois anos depois, também faleceu o capitão do Espanyol, Daniel Jarque, devido a um ataque cardíaco, mas fora do contexto de jogo..O caso feliz de Eriksen.Há também várias situações de jogadores que foram obrigados a encerrar a carreira devido a episódios cardíacos. Uma das poucas histórias animadoras, porém, aconteceu com o internacional dinamarquês Christian Eriksen, em 2021. Em pleno Campeonato da Europa, num jogo diante da Finlândia, o médio que agora joga no Manchester United sofreu uma paragem cardíaca no relvado..Eriksen foi operado dias depois e foi-lhe colocado um cardiodesfibrilhador implantável (CDI), uma espécie de pacemaker. Voltou a jogar de forma oficial cerca de oito meses depois, pelo Brentford. Refira-se, contudo, que o médio foi obrigado a deixar o Inter Milão pelo facto de a Liga Italiana não permitir o uso de um CDI. Em 2022, já totalmente recuperado, assinou pelo Manchester United, clube que ainda representa..O guarda-redes espanhol Iker Casillas, no primeiro dia de maio de 2019, sentiu-se indisposto num treino do FC Porto e foi internado de urgência. O diagnóstico surgiu horas depois: sofreu um enfarte agudo do miocárdio e foi operado de urgência. Voltou a treinar seis meses e três dias depois, mas apesar de ter continuado com contrato com o FC Porto, não voltou a jogar. Em agosto de 2020 anunciou que terminava a carreira..“Em primeiro lugar está a minha saúde (...). Os médicos fizeram o que foi possível e disseram-me que o melhor era deixar de jogar.” Foi desta forma que o argentino Sergio Agüero, então jogador do Barcelona, anunciou em lágrimas, em dezembro de 2021, que colocava um ponto final na carreira aos 33 anos. A decisão foi tomada depois de, dois meses antes, ter sofrido uma arritmia cardíaca em campo..A questão coloca-se agora com Edoardo Bove. Poderá o médio de 22 anos voltar a jogar? Seja qual for o prognóstico, terá sempre uma outra alternativa profissional. Isto porque, depois de ter terminado o liceu com boas notas, Bove está a tirar um curso de Economia e Gestão na Universidade Luiss Guido Carli. “Sou um privilegiado por ser jogador de futebol, eu sei disso, mas a universidade para mim é olhar para o futuro. A minha carreira no futebol não durará para sempre e quero estar preparado para o que vem depois”, disse recentemente em setembro, numa entrevista ao jornal Gazzetta dello Sport, longe de imaginar o que o destino lhe ia destinar meses depois..nuno.fernandes@dn.pt