Pistorius à saída do tribunal, em 2014. FOTO EPA
Pistorius à saída do tribunal, em 2014. FOTO EPA

Pistorius libertado. Do futuro como pastor a uma vida cheia de privações

O campeão paralímpico saiu ontem da prisão em condicional, mas está sujeito até 2029 a uma série de obrigações. Até para se converter ao cristianismo, como parece ser a intenção.
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A  libertação de Oscar Pistorius confirmada ontem não significa que o antigo campeão paralímpico sul-africano, atualmente com 37 anos, está livre de obrigações. Os termos da liberdade condicional  são apertados e incluem várias restrições, a nível de saídas de casa, proibição de consumo de álcool e presenças obrigatórias em programas específicos sobre violência contra mulheres. Além disso, terá de prestar serviço comunitário e está obrigado a informar as autoridades de todos os seus passos.
Pistorius terá também a obrigatoriedade de se reunir regularmente com as autoridades responsáveis pela liberdade condicional e será sujeito a visitas surpresa. O antigo atleta paralímpico não está autorizado a sair do distrito de Waterkloof sem permissão e está proibido de falar com os órgãos de comunicação social até ao final da pena, que dura até 2029. Caso falhe algum destes requisitos, pode ser considerado que violou a liberdade condicional e terá de voltar para a prisão.
A África do Sul não utiliza pulseiras eletrónicas ou outro tipo de identificadores em reclusos em condicional. Mas Pistorius será vigiado por um funcionário do departamento de justiça e terá de informar as autoridades sobre qualquer mudança significativa na sua vida, como por exemplo um emprego ou mudar de casa.

Futuro na Igreja

Pouco ou nada se sabe sobre os seus planos futuros. Mas de acordo com o jornal britânico The Times, o antigo campeão paralímpico pode tornar-se pastor. Isto porque, na prisão, entregou-se ao cristianismo e aos estudos bíblicos.
Mas para levar esta ideia avante, não basta a sua vontade. “Não aceitaríamos simplesmente alguém que sai da prisão. É preciso que ele se envolva com a Igreja local. Precisa de uma aprovação da Igreja e é uma coisa que leva o seu tempo, sobretudo para alguém que esteve preso e está em liberdade condicional”, referiu Peter Smuts, diretor do Instituto Bíblico da África do Sul, acrescentando que Pistorius teria de demonstrar que está reabilitado e que tem vocação: “Não é qualquer um que pode pregar. Pode ter o desejo, mas não ter a habilidade dada por Deus. Não é simplesmente como tirar a carta de condução.”
Pistorius cumpriu quase nove anos da pena de 13 anos e cinco meses de prisão efetiva a que foi condenado pelo homicídio da namorada Reeva Steenkamp, a 14 de fevereiro de 2013, precisamente no Dia dos Namorados. Na África do Sul, os delinquentes graves são elegíveis para liberdade condicional depois de cumprirem pelo menos metade da pena. No caso do antigo atleta paralímpico, este requisito foi aceite em novembro.

Na casa de um tio

Já se sabia que Pistorius iria ser libertado este mês. Mas foi tudo feito debaixo de grande secretismo. Ninguém captou imagens da sua saída da prisão de Atteridgeville, em Pretória, nem existem relatos do momento. O anúncio da libertação foi feito ontem de manhã, bem cedo, pelo Departamento dos Serviços Penitenciários sul-africanos, confirmando apenas que Pistorius estava em liberdade condicional e já em casa. 
As poucas informações disponíveis dão conta de que se encontra em casa de um tio, Arnold Pistorius, em Waterkloof, uma das áreas mais exclusivas de Pretória. Local onde nos últimos dias foram vistos muitos seguranças privados e, ontem, uma carrinha da polícia estacionada à porta. Uma mansão com muros altos onde é impossível captar imagens, como foi o caso de ontem, com centenas de jornalistas à porta. Foram vistas várias pessoas a entrar e a sair da casa, mas todas em silêncio. Foi possível também ver a ser entregue um ramo de flores endereçado a Pistorius.
“Houve justiça para Reeva? Oscar cumpriu pena suficiente? Nunca poderá haver justiça se um ente querido nunca mais voltar, e nenhum tempo cumprido trará Reeva de volta. Nós, que continuamos aqui, fomos condenados para a vida. Com a libertação de Oscar Pistorius em liberdade condicional, o meu único desejo é viver os meus últimos anos em paz, com o foco na Fundação Reeva Rebecca Steenkamp, ​​para continuar o legado de Reeva”, reagiu June Steenkamp, mãe da vítima.
Na noite de 13 para 14 de fevereiro de 2013, Pistorius baleou a namorada, de 29 anos, através da porta da casa de banho, alegando julgar tratar-se de um ladrão (tese que sempre defendeu), provocando-lhe a morte com quatro tiros.
 Apelidado de Blade Runner devido às próteses de lâmina de carbono, foi campeão paralímpico dos 200 metros em Atenas2004 e dos 100, 200 e 400 metros em Pequim2008. Foi ainda prata nos 200 metros de Londres2012 e bronze nos 100 metros de Atenas2004.
O atleta paralímpico fez ainda história ao ser o primeiro amputado de ambas as pernas a correr em igualdade com atletas sem serem portadores de deficiência nos 400 metros dos Jogos Olímpicos Londres2012.

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