Phelps fala de Simone Biles. Também ele teve "pensamentos que não devia ter"

O antigo nadador ainda hoje luta contra depressões e pede atenção à saúde mental. Simone Biles desistiu de mais duas finais de aparelhos.
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Para Michael Phelps, o desportista mais medalhado em Jogos Olímpicos, a saúde mental tem de ser uma prioridade. Seja a dele, a da Simone Biles ou de outro atleta ou pessoa. "Vemos tantas pessoas a debaterem-se, pelas mesmas coisas com que me debati ou contra as quais a Simone Biles luta", enfatizou o múltiplo campeão olímpico, que conquistou 23 medalhas de ouro, três de prata e duas de bronze, no decorrer de quatro Jogos Olímpicos.

A participar num evento virtual patrocinado por uma marca eletrónica, Phelps, que se encontra em Tóquio a fazer comentários para uma estação de televisão, lembrou que o seu percurso nem sempre foi fácil e que também ele se debateu com questões emocionais.

"Posso recuar até 2004 e dizer que foi a primeira vez que passei por isso. Foi a primeira vez que lidei com a depressão, a seguir aos Jogos Olímpicos de 2004. Sofri de uma forte depressão pós-olímpica", revelou o norte-americano.

Depois, o cenário voltou a ser o mesmo a seguir aos Jogos de Pequim 2008, num processo que, explicou, surgia por vagas, até que em 2014 começou a perceber aquilo com que estava a lidar, ainda antes de participar nos Jogos do Rio 2016.

"[Em 2014] Foi quando finalmente percebi que aquilo era uma parte de mim e que não se vai embora. Portanto, preciso de saber mais. Aprender porque funciono, como funciono, quem eu sou e como estou", adiantou.

Phelps explicou ainda que todo o processo lhe permitiu mergulhar em coisas que guardava dentro de si, como se as trancasse e que não queria abordar ou reconhecer, e que, agora, espera partilhar e ajudar outros.

O nadador, que não só é recordista de medalhas olímpicas (28), mas também o desportista com maior número de medalhas de ouro numa única edição dos Jogos - com oito em Pequim 2008 -, disse ainda saber que não está sozinho e que "é OK não estar OK".

"Sei que a minha estrada e o meu caminho para estar onde estou hoje não foi fácil. Tive alguns obstáculos e tive de aprender a lidar com eles, a contorná-los ou a passar por cima deles", disse ainda.

Na conversa, Phelps falou do sonho de ser nadador olímpico, recordista mundial, do esforço que isso implicava, durante 365 dias do ano, sem falhar um único dia dentro de água, sem folgas, aniversários ou Natal, e que os seus objetivos nem sempre foram acompanhados pelo apoio necessário.

Ainda assim, o nadador justificou também a importância do sonho e dos objetivos, porque são eles que motivam e fazem sair da cama todos os dias. "Não tenham medo de sonhar o mais alto que possam. Quer dizer, absolutamente tão alto quanto o possam", disse.

Ao longo do tempo, já depois de se retirar da competição, após o Rio 2016, Michael Phelps tem assumido os seus problemas em matéria de depressão, e já durante a fase da pandemia da covid-19 revelou tentar normalizar as coisas, admitindo que já teve "pensamentos que não devia ter".

Nos Jogos de Tóquio 2020, a também norte-americana Simone Biles, estrela ginástica mundial e multi-medalhada no Rio 2016 desistiu da final de equipas, e, depois, do concurso geral individual e das finais de domingo de trave e barras assimétricas, revelando problemas de saúde mental.

"Assim que piso o praticável, sou só eu e a minha cabeça a lidarmos com demónios [...]. Tenho de fazer o que é melhor para mim e focar-me na minha sanidade mental e não comprometer a minha saúde e o meu bem-estar", afirmou a tetracampeã olímpica de ginástica artística no Rio 2016, que depois desistiu do all-around e já esta madrugada das finais individuais de finais de domingo de salto e barras assimétricas.

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