Paz, amor e ténis: Djokovic abraçou a filosofia de Pepe Imaz

Novo mentor do sérvio é um técnico e guru espiritual espanhol que ajudou o irmão mais novo de Djokovic a ultrapassar uma depressão. E estará na base da separação com Boris Becker
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Quando perguntaram, um dia, a Roger Federer qual era a coisa mais importante no ténis, o suíço respondeu "a concentração". O espanhol Rafael Nadal teve uma resposta diferente: "O espírito competitivo." E a norte-americana Serena Williams destacou a "determinação". Já quanto ao sérvio Novak Djokovic, se tiver que responder hoje à mesma pergunta, o mais provável é que diga algo como "paz e amor".

O tenista sérvio, antigo líder da hierarquia mundial, rendeu-se a uma nova filosofia de vida, influenciado pelo guru espanhol Pepe Imaz, um antigo tenista que chegou a 146.º da hierarquia ATP e conquistou apenas dois títulos, ambos do circuito Challenger: o torneio de pares de Sevilha, em 1993 e 1994, ao lado de Emilio Benfele Álvarez.

Sem grande sucesso no ténis profissional (chegou à segunda ronda de Roland Garros, em 1998), Pepe Imaz abriu o resort Puente Romano, em Marbella, onde junta o ténis a uma filosofia de paz e amor. Além do treino nos courts, os alunos integram aulas de meditação, respiração e filosofia, procurando a paz interior.

São ensinamentos pouco habituais no circuito mundial de ténis, mas que convenceram Novak Djokovic a render-se a uma nova filosofia de vida. Em agosto, foi divulgado no Youtube um vídeo de mais de duras horas nas quais o tenista participa numa das aulas de Imaz, perante centenas de pessoas na assistência.

Com roupas brancas de linho, Pepe Imaz, sentado ao lado de Djokovic, convida os mais de 200 espetadores a fecharem os olhos e a meditarem: "Feche os olhos, tome o poder da sua respiração. Sinta o ar fluir nos seus pulmões. Desejo agora com todo o coração que você entenda o quão importante é amar-se a si mesmo. Ame-se!", diz Pepe Imaz, novo mentor de Djokovic e, segundo versões publicadas pela imprensa especializada, uma das principais razões pelas quais o sérvio e o seu antigo treinador, o ex-tenista alemão Boris Becker, terminaram a parceria que mantinham há três anos.

Em declarações à televisão Sky News, Becker admitiu que Djokovic não estava a treinar-se tanto quanto devia nas últimas semanas. "Ele nos últimos seis meses não esteve tanto tempo nos courts como deveria. Não passou tanto tempo na prática", realçou, sem culpar diretamente as aulas de meditação. Porém, a crítica foi suficientemente sugestiva: Djokovic passou a dedicar-se mais à vertente espiritual do que ao treino em campo.

"Curou" o irmão mais novo

Novak Djokovic, curiosamente, conheceu Pepe Imaz através do irmão mais novo, Marko, de 25 anos, que se tornou profissional em 2007 mas nunca chegou perto do nível do atual número dois mundial (a sua melhor classificação foi o 581.º posto alcançado em 2012).

Marko sofreu uma depressão em 2013 e decidiu, então, apostar nos métodos de Imaz. O Djokovic mais novo garante que foi graças à influência do técnico espanhol que curou a depressão. Convencido, Djokovic decidiu apostar na filosofia de Pepe Imaz como complemento ao seu treino e aproximou-se dele no último ano, numa primeira fase enquanto ainda trabalhava com Becker.

Djokovic perdeu, há um mês, o estatuto de número um do ténis mundial, para o escocês Andy Murray, e já se fez acompanhar por Pepe Imaz nos Masters de Londres e Paris. Sem sucesso: em França, foi batido nos quartos de final; e na final da ATP World Tour foi derrotado por Andy Murray. De resto, na segunda metade de 2016, Djokovic conseguiu apenas vencer o Open do Canadá, em julho, e foi eliminado em seis torneios, além de ter desistido de outros dois.

Boris Becker considera que a queda de Djokovic se deveu também, curiosamente, à ausência de concorrência. "O problema dele foi o facto de de Federer e Nadal estarem afastados do circuito. Para ele, foi como se perdesse os seus rivais. O melhor momento dele foi contra eles, o Andy sempre foi o quarto tenista desta rivalidade", comentou.

No entanto, o antigo treinador de Djokovic acredita que o tenista sérvio conseguirá recuperar o topo mundial no próximo ano. "Acredito que a recente derrota na final das ATP Finals vai ser o ponto de partida para uma viragem no próximo ano. A forma como perdeu vai inspirá-lo e motivá-lo. Talvez tenha sido positivo", frisou o alemão, que não quis contudo conviver com a "espiritualidade" de Pepe Imaz.

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