Os minutos de pânico em Alcochete relatados pelos jogadores e equipa técnica

Mário Monteiro foi um dos elementos da equipa leonina que estava no balneário do Centro de Estágios quando cerca de 40 elementos entraram para os agredir, causando caos e pânico
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Um dia que nunca irá esquecer. "As feridas físicas são as mais fáceis de curar. O trauma emocional é que vai demorar muito, muito tempo a passar", contou Mário Monteiro, 55 anos, preparador físico da equipa do Sporting, ao Jornal de Notícias.

Mário Monteiro era um dos elementos presentes na Academia de Alcochete quando cerca de 40 pessoas entraram no balneário, na terça-feira dia 15 de maio, agredindo quem aparecesse à frente.

"O que se passou foi absolutamente traumatizante. Um filme de terror. De repente, entram pessoas na Academia a gritar, a lançar tochas e a agredir. Fui atacado nos pulsos e no tronco com uma tocha a arder a 240 graus centígrados. Estou de rastos, sem condições psicológicas para voltar à Academia. Sinto-me inseguro e perseguido. Apresentei queixa na polícia e vou pedir proteção para a minha família", disse Mário Monteiro ao JN. Mais: vai abandonar a profissão.

Este é apenas um dos relatos dos minutos de terror que jogadores e equipa técnica testemunharam à GNR. O semanário Expresso teve acesso aos autos da acusação e revelou as agressões de que os elementos do Sporting foram vítimas.

Bas Dost foi a face mais visível das agressões, com a fotografia da cabeça partida a ser amplamente partilhada nas redes sociais e nos meios de comunicação. O jogador conta que a ferida foi causada depois de ter sido atingido com um cinto. A pancada fê-lo cair ao chão, onde continuou a ser agredido por dois indivíduos.

Também o médio Misic salienta o facto de ter sido agredido com um cinto na cabeça por um indivíduo corpulento de 1,80 m.

Acuña revela que quando se aperceberam da invasão tentaram fechar a porta do balneário, mas que os agressores eram muitos. O argentino recorda que "sobre ele caíram cerca de 5/6 meliantes que o agrediram fisicamente com murros na zona da cabeça e corpo". Foi também ameaçado. Disseram-lhe para "ter cuidado" porque sabiam "onde morava".

Também Battaglia foi ameaçado por cinco a seis indivíduos, que o ofenderam verbalmente e o ameaçaram de morte. Enquanto lhe gritavam impropérios, acertavam-lhe com "murros na face, ombro direito e tronco e ainda, enquanto estava a tentar proteger-se, foi atingido na cintura e costas com um garrafão de 25 litros de água".

Outra coisa que gerou muita confusão foi o lançamento de "várias tochas de fumo", recordou William, que acabou a ser "agredido por três indivíduos com socos na zona do peito".

Organização do grupo confirmada pelos agredidos

O jogador Bruno César não foi agredido, mas viu pela janela a chegada do grupo. "O grupo atuou sempre em bloco, com alguma organização, presumindo que tais atos foram premeditados, barrando claramente a tentativa de fuga dos atletas para o exterior", disse.

Fábio Coentrão também não sofreu agressões e tem a mesma opinião de Bruno César. O grupo tinha "orientação e organização".

"Os indivíduos forçaram a entrada no balneário ao mesmo tempo, dispersaram-se do mesmo, arremessaram vários artigos pirotécnicos, entre os quais bombas de fumo e tochas", recorda o colega Freddy Montero. Essa ação fez disparar o alarme de fogo.

Montero, Acuña, William e Battaglia eram os mais procurados pelos agressores, contou Palhinha na GNR, ainda segundo o Expresso. O jovem "viu um grupo de cerca de 20 a 30 indivíduos invasores entrarem a atirar tochas a arder, a revoltar o balneário, a ameaçar e a agredir alguns colegas".

Foram gritadas coisas como "se não ganham a Taça estão fodidos", "Tira essa camisola, vamos foder-te! Há tempo que queres ir embora, tira essa camisola, não te queremos mais aqui", ou "Vocês são uns filhos da puta. Cabrões. Montes de de merda. Estão fodidos! Vamos rebentar-vos a boca toda".

Depois das agressões, foram detidos 23 suspeitos que foram constituídos arguidos, acusados de terem levado a cabo as agressões no balneário do Sporting, em Alcochete, ficaram em prisão preventiva. O Ministério Público (MP) tem agora seis meses para deduzir acusação contra os suspeitos.

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