Desporto
04 outubro 2021 às 13h53

Agora faça-se o pavilhão e uma estátua ao Ricardinho

Portugal sagrou-se campeão mundial de futsal no domingo. Presidente da República recebeu a comitiva nacional e deixou palavras especiais a Ricardinho, Jorge Braz e Fernando Gomes.

O troféu mundial já está no lugar reservado para ele. Era a taça que faltava ao futsal português e foi conquistado no domingo, numa final emocionante e espetacular com a Argentina (2-1). A partir de hoje troféu mais importantes da modalidade passa a ser a nova atração da Cidade do Futebol, onde também está o irmão europeu e os primos do futebol e do futebol de praia. "Espero que consigamos inspirar a seleção de futebol", disse Ricardinho depois de entregar o troféu ao lugar dele ao som dos Xutos & Pontapés e da música A Minha Casinha.

Os novos campeões do mundo chegaram a Portugal depois do meio dia e foram depois recebidos em Belém, pelo Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa atribuiu as Insígnias Comendador da Ordem Infante D. Henrique a Ricardinho, João Matos, Bebé, Bruno Coelho, André Coelho, Pany Varela, Zicky, Erick, Afonso Jesus, Tiago Brito, Tomás Paçó, Miguel Ângelo, Pauleta, Fábio Cecílio, André Sousa, Vítor Hugo e Jorge Braz. Cerimónia que contou com a presença de Tiago Brandão Rodrigues, o ministro da educação, e João Paulo Revelo, secretário de estado da Juventude e Desporto.

"Éramos os melhores da Europa, faltava sermos os melhores do Mundo. Hoje somos os melhores do Mundo. Quando somos muito bons somos os melhores do Mundo ou, pelo menos, dos melhores do Mundo. Sempre. No futsal, nas forças armadas destacadas por todos os continentes, nos cientistas, nos trabalhadores, todos nos diversos continentes e temos cada vez mais muito bons", disse Marcelo no discurso, que antecedeu a entrega das insígnias.

"Impressionado" com o discurso usado por Jorge Braz antes da final, que referia isso mesmo, o Presidente abordou a exibição em si: "Jogámos para o que merecíamos ser campeões do Mundo. Merecemos vencer porque somos dos melhores do mundo. Tínhamos mostrado isso jogo após jogo. Merecíamos. E merecemos e ganhámos."

O Presidente da República deixou também uma palavra especial a Ricardinho. "Merece uma referência porque já era história, já estava na história e decidiu sair da história para fazer mais uma vez história. A carreira estava feita e o tendão não ajudava. Todos passámos a discutir o tendão do Ricardinho como um problema nacional", disse Marcelo, esperando que não seja um adeus mas um "até logo".

Marcelo deu ainda uma palavra especial a Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol: "Está quase a atingir os 10 anos nesta missão e fomos ganhando sucessivamente, ganhando tudo ou quase tudo. Difícil é continuar a ganhar ao ritmo que estamos a ganhar. Uma palavra muito grata pela sua determinação e persistência e amor a Portugal."

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O presidente da FPF destacou " um dos maiores feitos alguma vez alcançado pelo desporto coletivo português". Ser o melhor País entre os 150 países que praticam futsal não é fácil, mas a intenção é continuar a progredir: "Arrancaremos no início de 2022 a fase 3 da Cidade do Futebol, ali irá nascer o Pavilhão Nacional de futsal."

Destacando que há muito "ficou para trás a ideia errada do impossível", Fernando Gomes deixou ainda uma palavra especial ao capitão. "O Ricardinho teve a pior lesão que um futebolista pode ter. Levou a cabo uma luta solitária, é o melhor jogador de futsal da história, é nosso, continuará nosso e lutará sempre por Portugal. A seu lado teve um grupo que se uniu nos momentos mais sofridos, que foi capaz de esquecer o eu e valorizar o nós", disse o líder federativo, deixando a porta aberta para continuar na seleção.

Com a bola nos pés, Ricardinho é o melhor do mundo... já com as palavras é outra história! "Não tenho o dom da palavra, mas hoje mais do que nunca vou ser o porta-voz deste campeões da Europa e do Mundo. É com enorme orgulho que estamos aqui depois de 2018 e hoje estarmos a ser condecorados outra vez depois de conquistar o Mundo", começou por dizer o capitão.

E depois de pedir permissão "ao Sr. Presidente da República", dirigiu-se aos colegas: "Obrigado por tudo o que dão ao nosso país, é um orgulho ser vosso porta-voz, capitão. Sintam-se orgulhosamente portugueses porque conquistaram o Mundo. Vão ser um exemplo para milhares de crianças e já fomos apelidados de geniais. Permitam-me dizer que para mim, escrevemos o nome de Portugal com letras douradas. Vocês são históricos. Obrigado."

Antes de ir ao Jardim da Cascata no Palácio de Belém mostrar o troféu a Marcelo, explicou que as lágrimas que correram mundo antes da final ao ouvir o hino "foi um andar para trás no filme". Há seis meses decidiu parar para ser operado e poder jogar o seu último Mundial: "Quando ouvia o hino, quando comecei a sentir na pele tudo o que tive de passar para poder estar com os meus companheiros neste momento, não consegui conter a emoção, vim o caminho todo a chorar até ao pavilhão, mas foi o culminar de um estágio, de uma preparação brutal. Conseguimos da melhor maneira possível."

Ele sabia que "a recuperação ia ser difícil e no limite", mas com alguma ajuda foi possível. "Parece que o Homem lá em cima tinha uma coisa guardada para nós. Lutámos e está aqui a taça connosco", disse o capitão sem esquecer Naná e André Lima, "os primeiros a abrir caminho para termos condições para irmos atrás de recordes e ajudar a seleção".

Orgulhoso da seleção recusou falar do futuro. Aos 36 anos está sem clube... Em entrevista ao DN depois de ser operado garantiu que quer sair da modalidade no auge.

"O nosso patamar é este, agora queremos estar aqui de forma sustentada, contínua. O título europeu de 2018 não podia ser uma questão de momento, queremos estar nas finais e assim podermos alcançar os títulos. Vamos lutar por estar em finais e lutar por títulos", prometeu Jorge Braz, selecionador nacional, confessando que não é ator: "Sou honesto e genuíno, mostro o que me vai na alma."

O técnico admitiu que o grupo queria muito trazer a taça para Portugal: "Quando disse que faltava o clique para sermos campeões do Mundo, sempre houve trabalho de qualidade. Esse crescimento permite-nos ter jovens atrevidos, que acreditam no nosso trabalho. Esse clique não se dá num momento, mas sim num processo de trabalho."

E destacou alguns dos magníficos e os sacrifícios que fizeram para ter sucesso. "O Bebé é exemplo de vida. O Ricardinho passou o que passou, sei o que passou desde a operação. O cuidado que todos tiveram nas férias... Quando se quer muito atinge-se."

Os novos campeões foram recebidos em euforia pouco depois do meio dia por algumas centenas de fãs e familiares no Aeroporto de Lisboa. Pany Varela recuou outra vez o papel de herói apesar de ter sido ele a marcar os dois golos na final que deram o título mundial a Portugal: "Quando ia a caminho do jogo só pensava que queria fazer uma grande jogo, o golo é um extra. Coube-me o mim marcar, mas o mais importante é Portugal ter vencido. O que fica para a história é Portugal ter vencido."

Bebé foi outro dos destaques da seleção na prova e lembrou que é o único não profissional do grupo. "Foi um momento complicado depois de ter saído do Benfica, onde passei 11 anos. Ir para uma realidade nova, mas para um clube (Leões de Porto Salvo) que me recebeu muito bem. Sabia que o nível ia baixar um bocadinho e que tinha de lutar contra isso. Foram momentos em que acordava às 06.30 para ir treinar, depois ir trabalhar durante o dia, e voltar a treinar durante a noite, fazer isto sistematicamente. A verdade é que sou o único jogador não profissional destes 17 guerreiros, e para mim tem um sabor muito especial", afirmou o guarda redes de 38 anos aos jornalistas na Cidade do Futebol.