Situada no centro da praça com o mesmo nome, o monumento ao Marquês de Pombal é um dos ícones da capital e é também um dos pontos mais altos da cidade. Ergue-se a mais de 50 metros.."Esta é com certeza a estátua mais alta que existe em Lisboa. O pedestal mede 40 metros, mais uns 15 metros da própria estátua, perfaz 55 metros. Não há, que eu saiba, uma estátua mais elevada em Lisboa", descreve ao DN Anísio Franco..Inaugurado em 1934, o monumento homenageia Sebastião José de Carvalho e Melo, secretário de Estado do Reino durante o reinado de D. José I e é da autoria de um antigo jogador do Sporting Clube de Portugal. Embora o projeto tenha surgido antes da implantação da República, só em 1915 foi lançado o concurso para a estátua.."Quem vai ganhar o concurso é Francisco dos Santos, embora o pedestal não seja arquitetado por ele. É concebido pelos arquitectos Adães Bermudes e António do Couto. Francisco dos Santos desenha a estátua do próprio Marquês que não verá inaugurar. A estátua só foi inaugurada a 13 de maio de 1934, quatro anos depois de ele ter morrido", explica o historiador de arte..António Couto e Francisco dos Santos foram ambos jogadores do clube de Alvalade, mas Anísio Franco prefere destacar o segundo, "uma figura extraordinária e um escultor algo esquecido em Lisboa"..Para além da estátua do Marquês de Pombal é também o autor de outras obras espalhadas pela cidade, como "o Prometeu, que está no Jardim Constantino, ou o Homem ao Leme que está no Cais do Sodré e que pouca gente conhece", afirma Anísio Franco.."É uma estátua simbólica ao marinheiro e não propriamente a uma pessoa identificada, como o Prometeu. Tem todo um pendor simbolista", uma das características principais da obra de Francisco dos Santos..Anísio Franco não tem dúvidas que o simbolismo que o artista imprimia às suas esculturas é duplamente visível no monumento de homenagem a Sebastião de Carvalho e Melo..O escultor estudou em Paris e, mais tarde, em Roma, onde também jogou futebol. "Chegou mesmo a ser capitão do Lazio e terá sido, provavelmente, o primeiro internacional português", conta o historiador..Francisco dos Santos regressou a Lisboa "um pouco antes da implantação da República" para prosseguir a sua carreira como escultor, mas "não deixou nunca o futebol. O que não quer dizer que tenha não exercido uma atividade artística fulgurante", frisa Anísio Franco.."A sua ligação ao futebol e ao Sporting faz-nos desconfiar que esta colocação do Marquês com o leão", por um lado, "tem o sentido simbólico do poder, da força, que o Marquês teve, mas desconfio que este leão tem também a ver com esse símbolo do Sporting Clube de Portugal de que ele foi um dos grandes jogadores", avança o historiador..O clube de Alvalade inaugurou em 2002 a "tradição" de celebrar no Marquês do Pombal a conquista do campeonato (cenário de festa que foi de seguida adotado pelo rival Sport Lisboa e Benfica) mas Anísio Franco crê que a maioria dos lisboetas desconhece a relação do autor da estátua com o Sporting.."As comemorações do campeonato são normalmente feitas aqui no Marquês, mas talvez as pessoas não saibam que o escultor era um sportinguista e que provavelmente junta este símbolo do leão, claro, por razões simbólicas, mas pela sua devoção ao Sporting", refere. "O leão é uma marca fundamental desta estátua, que a faz distinta, torna-a diferente de todas as outras", acrescenta..Vista do solo, a estátua "parece pequena" mas "nas imagens antigas dos últimos retoques, há fotografias do próprio Francisco dos Santos a trabalhar no modelo de barro e vê-se que a dimensão da cabeça é do tamanho de um homem, de uma pessoa", descreve Anísio Franco..O tamanho final do monumento, que inclui o pedestal, dá à estátua uma dimensão que reflete a importância histórica do Marquês de Pombal para a cidade de Lisboa. "O que importa é que a elevação da estátua seja a suficiente para o Marquês poder mirar digamos, a sua grande obra - a Baixa Pombalina, a reconstrução da cidade de Lisboa", o que leva o historiador de arte a considerar que representa Sebastião de Melo "a projetar-se sobre a sua própria obra.".A localização da estátua, voltada para a zona da cidade que o Marquês ajudou a desenhar, não é alheia ao simbolismo da obra, mas Anísio Franco prefere destacar outro significado, mais ligado ao seu autor.."Os sportinguistas podem orgulhar-se de Francisco dos Santos que é esquecido como escultor e talvez esquecido também como grande futebolista que foi", considera. "Francisco dos Santos é conhecido como escultor, e não como desportista, como internacional português", lembra o historiador. "Se calhar é uma coisa interessante para se refletir - a arte é longa, a vida é breve", remata.