Nuno Lobo diz-se prejudicado por campanha bipolarizada
FERNANDO VELUDO/LUSA

Nuno Lobo diz-se prejudicado por campanha bipolarizada

Candidato à presidência do FC Porto lamenta centralização da campanha nas divergências entre Pinto da Costa e André Villas-Boas, mas espera melhorar resultado de há quatro anos.
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Uma campanha centrada nas divergências entre Pinto da Costa e André Villas-Boas deixa Nuno Lobo a correr por fora nas eleições do FC Porto, no sábado, aponta o candidato da lista C à presidência dos vice-campeões nacionais de futebol.

"Há um fator relevante: a comunicação social bipolarizou completamente estas eleições, que são marcadas pelo mediatismo do André Villas-Boas e do presidente, e tem avaliado unicamente dois candidatos. É claro que, quando se fala em bipolarização, se esquece a outra candidatura. É muito difícil combater isso e passar o meu programa e ideias para o universo 'azul e branco'", referiu o empresário e professor, em entrevista à agência Lusa.

Terceiro mais votado em 2020, ao acumular 4,91% dos votos nas primeiras eleições dos 'dragões' com mais do que uma candidatura desde 1991, Nuno Lobo volta a enfrentar a concorrência de Pinto da Costa, que já comanda o clube há 15 mandatos consecutivos.

"Toda a gente dizia que esta candidatura não se ia formalizar, mas formalizou-se. Toda a gente pensou que iríamos desistir, mas continuamos aqui. Aquilo que não posso e nunca vou fazer é insultar Pinto da Costa ou proferir as palavras desagradáveis e horríveis que tenho lido e ouvido sobre ele. Há muitas maneiras de comunicar e não escondo que sou uma pessoa eternamente grata por aquilo que o presidente fez pelo FC Porto", salientou.

Apesar desse reconhecimento, o empresário qualifica como "completamente desonesto" quem o acusa de colagem a Pinto da Costa, ilustrando as suas críticas ao rumo do clube com a sua abstenção na Assembleia Geral de aprovação das contas da época 2022/23.

"Quase no fim do discurso, dirigi-me à direção e perguntei como era possível que, face a estas situações todas que têm acontecido, aqueles senhores ainda estejam à frente dos destinos do clube. Enunciei tudo o que estava mal e recebi uma grande salva de palmas. Infelizmente, aquilo que passou para fora foi o elogio de Pinto da Costa à minha pessoa, porque não faço política de terra queimada. Abstive-me de forma consciente e dei esse benefício da dúvida à direção, sabendo dos problemas que o clube atravessa", explicou.

Em março, a recandidatura de Pinto da Costa recebeu o apoio público de Amaro Correia, um dos vice-presidentes propostos por Nuno Lobo há quatro anos e autor do programa eleitoral da lista C para o próximo sufrágio, que entrou em desacordo com o empresário.

"Foi só por uma questão de estratégia, porque continuo a ter o máximo respeito e a maior admiração por ele", expôs, após um "processo nada fácil" de recolha de 330 assinaturas para a oficialização da lista "Sim, somos Porto - projetar o futuro respeitando o passado".

Lamentando a "troca de mimos" entre candidatos, Nuno Lobo evita "meter mais gasolina numa fogueira enorme" e arrepende-se de um "mau momento" protagonizado em março, quando responsabilizou André Villas-Boas pela perda do título da I Liga esta temporada.

"Faço um 'mea culpa'. Tenho a consciência de que exagerei no calor destas eleições. Se, de algum modo, pudesse retirar o que foi dito nesse comunicado, retirava. Agora, eu falei com um sentimento de revolta perante aquilo a que temos assistido nestes últimos cinco meses", desabafou, garantindo não ter "nada contra" o ex-treinador da equipa de futebol.

O empresário, de 54 anos, assume que "falta um bocado de banco", mas que os titulares "nada ficam a dever" aos rivais do FC Porto.

"É claro que André Villas-Boas não é o culpado. Há outros fatores que contribuíram para esta situação. O FC Porto não lidera a I Liga, mas vai à frente em cartões amarelos e é a equipa com mais expulsões. O que é que eu vou dizer? A culpa é do FC Porto", ironizou.

Espera melhorar votação de 2020

O candidato da lista C à presidência do FC Porto, Nuno Lobo, ambiciona melhorar no sábado os 4,91% alcançados nas últimas eleições, enfrentando Pinto da Costa, atual líder dos vice-campeões nacionais de futebol, e André Villas-Boas.

"Não vou dizer que é uma cópia, mas constato que muitas das ideias defendidas por nós em 2020 e 2024 estão a ser veiculadas por outras candidaturas. Por isso, fico muito feliz. Agora, quero sempre almejar um bom resultado e, por exemplo, ultrapassar essa barreira que já tive em 2020", sublinhou o empresário e professor, em entrevista à agência Lusa.

Há quatro anos, nas primeiras eleições dos 'dragões' com mais do que uma candidatura desde 1991, Nuno Lobo ficou atrás de Pinto da Costa, eleito para um 15.º mandato seguido, com 68,65% dos votos, e do jurista José Fernando Rio, segundo, com 26,44%.

"Um bom resultado é que o FC Porto ganhe no domingo ao Sporting [em casa, em duelo da 31.ª ronda da I Liga de futebol] e que, na segunda-feira, quem quer que venha a ser o presidente eleito continue a trabalhar com o único intuito de defender os interesses deste clube. Acima da minha candidatura, está sempre o FC Porto. As pessoas olham para os resultados, mas não para todo o trabalho que esta candidatura fez com o único propósito de servir o clube. Fomos os primeiros a apresentar e disponibilizar um programa", notou.

Lamentando que várias propostas promovidas por si em 2020 "tivessem sido descuradas desde então" pela direção 'azul e branca', o empresário, de 54 anos, visa uma "evolução contínua" com a sua recandidatura, mas dispensa uma "total rutura" com a gestão atual.

"Em 2020, a SAD teve um resultado líquido negativo de quase 120 milhões de euros e o André Villas-Boas foi o primeiro subscritor da candidatura de Pinto da Costa. Ou seja, eu parto do princípio de que ele subscrevia tudo aquilo que se passava no FC Porto. Como eu não concordava, tive essa ousadia de avançar para eleições. Agora, vejo sempre com bons olhos a pluralidade de ideias. É isso que interessa para o futuro do clube", pontuou.

Sob o lema "Sim, somos Porto - projetar o futuro respeitando o passado", Nuno Lobo tem Luís Barradas e Heleno Roseira como cabeças de lista à Mesa da Assembleia Geral e ao Conselho Fiscal e Disciplinar, respetivamente, mas prescindiu de concorrer ao Conselho Superior, para o qual não elegeu membros há quatro anos, ao invés das restantes listas.

"Achei por bem canalizar toda a minha força e energia na construção de uma lista para a direção. Depois, lembro-me que as propostas apresentadas por este Conselho Superior - que é um órgão meramente consultivo -, na Assembleia Geral [de deliberação da revisão estatutária] foram uma desgraça, tanto é que só aprovava o adiamento das eleições [cujo prazo máximo iria passar de abril para junho] e votaria contra todas as outras", advogou.

Os desacatos verificados nessa sessão de 13 de novembro de 2023, no pavilhão Dragão Arena, levaram o FC Porto a suspender três associados, ao passo que 12 pessoas foram detidas no âmbito da Operação Pretoriano, entre os quais dois funcionários do clube e o líder da claque Super Dragões, Fernando Madureira, que continua em prisão preventiva.

Em 01 de fevereiro, um dia depois das detenções, Nuno Lobo informou que ia reunir com urgência para solicitar ao presidente da Mesa da Assembleia Geral, José Lourenço Pinto, o adiamento das eleições, em função da "instabilidade causada interna e externamente".

"Mantenho o que disse. Se calhar, previa que podia acontecer isto que estamos a ver: [a campanha eleitoral] parece quase todos os dias uma lavandaria a lavar roupa suja. Fiz a proposta e mandei um e-mail a ver se nos podíamos reunir e agendar as eleições para o fim do campeonato, mas não tive resposta do presidente e do André Villas-Boas", atirou.

Projeta futura academia nos arredores do Porto

A construção de uma academia nas imediações da cidade do Porto sustenta o investimento na formação previsto por Nuno Lobo, candidato pela lista C à presidência do FC Porto nas eleições do vice-campeão nacional de futebol, no sábado.

"Temos apalavrado com uma cidade não muito longe do Porto, da qual não quero estar a falar agora, porque penso que não vale a pena. Se já há custos estimados? Não fizemos estudos de mercado em relação a essa situação. Um dos nossos desejos é concretizar a academia, mas só depois de sentir como estão o coração e as contas do FC Porto é que poderemos tirar as devidas ilações. Eu tenho de saber aquilo com que posso contar ou o dinheiro que existe para fazer esses investimentos. São ideias que temos em mente, mas que são exequíveis", enquadrou o empresário e professor, em entrevista à agência Lusa.

Essa intenção de Nuno Lobo é similar à academia projetada na Maia por Pinto da Costa, presidente do FC Porto e recandidato a um 16.º mandato seguido, mas contrasta com os planos do ex-treinador e adversário eleitoral André Villas-Boas, defensor de um centro de alto rendimento perto do Centro de Treinos e Formação Desportiva PortoGaia, no Olival.

"Há muitos anos que é prometida essa academia e há mais de duas décadas que outros clubes a têm. Contestei aquele projeto em Matosinhos, pois era uma aberração, um erro colossal e uma coisa feita à pressa, tanto é que não foi para a frente ou passou de meros papéis. Hoje vemos uma coisa mais com pés e cabeça. Academia na Maia? É um projeto que subscrevo. Se ganhar as eleições, de certeza que não rasgo esse contrato. Vou ver detalhadamente o que traz de benéfico para o FC Porto e, depois, tomo posição", frisou.

O empresário, de 54 anos, deseja concentrar todos os escalões jovens numa academia independente do Olival - cujos terrenos pretende adquirir em definitivo junto da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia -, visando a projeção de mais-valias na equipa principal.

"O FC Porto sempre foi e continuará a ser um clube vendedor. Por isso, tem de atacar o mercado de transferências com critério e de uma forma cirúrgica, trazendo jogadores de qualidade a um preço condizente e acessível para que, mais tarde, sejam potenciados e valorizados numa futura transferência, sem que o clube perca essa dinâmica e sucesso desportivo. É assim que o FC Porto tem de fazer, mas não vemos isso. O 'scouting' tem estado um bocado parado e essa é uma peça de engrenagem muito importante", notou.

Dando a liderança da estrutura do futebol ao presidente, que pode delegar competências em áreas específicas, Nuno Lobo equaciona apostar num diretor desportivo, sem pensar numa saída de Sérgio Conceição no comando da equipa principal no final da temporada.

"Se eu lhe desse uma folha em branco e ele assinasse, para mim está tudo bem. Agora, quero essa separação de poderes. Não tenho de dar palpites ou sugerir jogadores, mas delegar esse trabalho a Sérgio Conceição e à sua equipa técnica. Nunca me meterei na forma como ele treina a equipa. Se me pedir um Mbappé ou um Cristiano Ronaldo, o FC Porto tem de saber até onde pode ir e evitar algumas loucuras que tem cometido", disse.

O candidato à sucessão de Pinto da Costa pela lista "Sim, somos Porto - projetar o futuro respeitando o passado" admite rever-se no "trabalho meritório" do técnico, que se tornou recordista de jogos, vitórias e troféus à frente do clube ao fim de quase sete temporadas.

"Tenho de ver a sua parte como treinador e não esquecer o modo como defende todos os dias o clube. Isto é importante para o associado e mostra o nosso ADN. Infelizmente, não só no futebol, como na política, o FC Porto e o Porto estão sempre a ser subjugados pelo centralismo exacerbado de Lisboa. O Sérgio Conceição tem sido essa bandeira", avaliou.

Renegociação da dívida norteia plano financeiro

A renegociação da dívida financeira será prioritária para Nuno Lobo, candidato pela lista C à presidência do FC Porto nas eleições dos vice-campeões nacionais de futebol, no sábado, em função dos 512,7 milhões de euros (ME) de passivo.

"Nesta altura, penso que estaremos a pagar 5% de juros sobre mais de 500 ME. Ou seja, todos os anos temos de realizar à volta de 25 ME para pagar essa taxa de juro. Como se reestrutura a dívida? Aumentando prazos e tentando alcançar juros mais baixos junto das entidades às quais o FC Porto é devedor. Essa é a única forma, e para já, o passo inicial que tem de ser dado. Depois, que haja também a possibilidade de amortizar as dívidas, o que é muito relevante. As contas certinhas trazem sempre a possibilidade de aparecerem outros investidores", enquadrou o empresário e professor, em entrevista à agência Lusa.

Nuno Lobo quer solicitar uma auditoria às contas da SAD caso seja eleito como sucessor de Pinto da Costa, presidente do FC Porto e recandidato a um 16.º mandato consecutivo, cuja administração tem anunciado alguns negócios estruturantes nos derradeiros meses.

"Se não se tivesse ido buscar o Otávio Ataíde ou renovado contrato com o Galeno, então não fazíamos nada? Há situações que não podem ser adiadas. Em relação às contas, as únicas pessoas que podem saber estão na direção. Para já, não me meto nisso", referiu, preocupado com os efeitos de uma expectável ausência da próxima Liga dos Campeões.

O empresário, de 54 anos, visa reduzir o passivo, cobrir prejuízos acumulados e inverter os capitais próprios negativos através de resultados positivos relevantes, propondo como soluções uma estrutura com menos encargos salariais e prémios limitados, cláusulas de rescisão dilatadas e renovações antecipadas, que evitem a saída de ativos a custo zero.

"Quando penso que há clubes que conseguem vender jogadores por 120 ME... Se o FC Porto fizer uma venda desse valor todos os anos, há grandes possibilidades de abater o passivo. Temos de valorizar os ativos e ter uma aposta muito forte na formação. Não nos podemos esquecer que a formação serviu para tapar os buracos que surgiram ao longo destes últimos anos, colmatar essa falta de dinheiro e honrar os compromissos", vincou.

A venda dos direitos de designação do Estádio do Dragão, do pavilhão Dragão Arena, do centro de estágios do Olival ou do Campo da Constituição ajudará a captar investimentos para o FC Porto, cuja marca pode capitalizar uma visão expansionista de 'merchandising' ou a oferta de uma experiência tecnologicamente moderna ao público em vários recintos.

"Centralização dos direitos audiovisuais? O FC Porto tem de arranjar forma de não ficar atrás dos seus concorrentes. Essa receita é importantíssima para a sua sustentabilidade. Há um clube [Benfica] que é detentor [da venda] dos jogos realizados no seu estádio... É preciso ter mecanismos para que exista mais investimentos e os direitos revertam a favor do FC Porto", avisou, sobre um processo que ficará concluído na I e II Ligas até 2028/29.

Nuno Lobo juntou 50 medidas às 250 lançadas em 2020, quando foi vencido por Pinto da Costa nas eleições, desejando chegar aos 300.000 sócios efetivos num prazo máximo de cinco anos e promover um ecletismo autossustentável, que institua o futebol feminino e o futsal e fomente a inclusão de um pavilhão para as modalidades no projeto da academia.

"Penso no crescendo em que está o futsal: o FC Porto irá ganhar com direitos televisivos, 'sponsorização' e tudo aquilo que o portefólio do clube representa. Se perguntassem aos sócios se queriam esta modalidade, de certeza que teríamos mais vezes o Dragão Arena mais composto do que temos agora", apontou, mostrando-se disponível para protocolar a entrada no padel e no ténis ou avaliar a viabilidade de projetos no ciclismo e no voleibol.

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