Eliud Kipchoge temeu pela vida depois do acidente que vitimou mortalmente o também maratonista Kelvin Kiptum. Numa entrevista à BBC Sport Africa, o bicampeão olímpico da maratona revelou que sofreu ameaças de morte, depois de o relacionarem com a morte do compatriota. Rumores que surgiram insistentemente nas redes sociais..Kelvin Kiptum, recordista mundial da maratona (2:00:35, Chicago) morreu em 11 de fevereiro, vítima de um grave acidente de viação no Quénia. Segundo rumores postos a circular nas redes sociais, Kipchoge teria interesse na morte do jovem de 24 anos, que tinha acabado de bater o recorde mundial da maratona e preparava-se para atacar o ouro nos próximos Jogos Olímpicos e assim impedir Kipchoce de fazer história com um inédito terceiro título, depois das conquistas em Tóquio2020 e Rio2016, ."Disseram-me coisas piores: que iriam queimar o campo [de treino], que iriam queimar os meus investimentos na cidade, que iriam queimar a minha casa, que iriam queimar a minha família. O que aconteceu fez com que eu não confiasse em ninguém, nem mesmo na minha própria sombra. Fiquei surpreso que as pessoas nas redes sociais dissem-se 'Eliud está envolvido na morte deste menino", revelou o atleta em lágrimas..“Fiquei com muito medo pelos meus filhos quando eles iam e voltavam da escola. Às vezes eles iam de bicicleta e tivemos de parar com isso, porque nunca se sabe o que podia acontecer. Começámos a levá-los de manhã e a ir buscá-los à tarde. A minha filha estava no internato, isso foi positivo porque ela não tinha acesso às redes sociais, mas é difícil para os meus filhos ouvirem 'o teu pai matou alguém'”, contou o campeão olímpico da maratona, contando que esse rumor o fez perder 90% dos amigos..“Foi muito doloroso perceber até junto do meu próprio pessoal, dos meus parceiros de treino, daqueles com quem tenho contacto próximo, ouvir palavrões, aprendi que a amizade não é para sempre", disse o queniano, confessando que o pior foi quando um dia ligou à mãe e ela lhe disse "tem cuidado, há muita coisa a acontecer"..Apesar do medo e das ameaças, manteve as rotinas de treino e não apagou as contas das redes sociais embora tenha parado de partilhar coisas. "Se eu fechasse as minhas redes sociais isso mostrava que estava a esconder alguma coisa", explicou à BBC, justificando assim o pior resultado desde 2013, na maratona de Tóquio, no dia 3 de março: "Fiquei três dias inteiros sem dormir dia e noite.".Mas a 10.ª posição em Tóquio, no dia 3 de março, terminando dois minutos e meio atrás do vencedor, Benson Kipruto, não o impede de sonhar. “Quero entrar nos livros de história, ser o primeiro ser humano a vencer três vezes seguidas”, confessou Eliud Kipchoge, que na semana passada foi selecionado pelo Quénia para os Jogos Olímpicos. Em Paris2024 terá a companhia dos compatriotas Benson Kipruto e de Alexander Munyao.