Jornalista que entrevistou Ronaldo: "O Cristiano pediu-me para fazer isto"
Piers Morgan disse que Ronaldo "sabia que iria incendiar as coisas", mas que "também sabe que o que está a dizer é verdade".
Piers Morgan, o jornalista que entrevistou Cristiano Ronaldo para o jornal inglês The Sun, revelou que foi o internacional português a solicitar a conversa e que o futebolista tinha vontade de "dizer a verdade", mesmo sabendo do abalo que as suas declarações poderiam causar.
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"O Cristiano pediu-me para fazer isto. Tão simples como isso. Ele pediu-me. Ele pensou nisto durante algum tempo. Não é segredo que ele sente uma profunda frustração pelo que se passou no Manchester United ao longo do último ano. Ele sentiu que era altura para falar e sabia que iria incendiar as coisas. Sabia que iria abanar algumas gaiolas, mas também sentia que devia fazer isto. Ele sabe que as pessoas vão criticá-lo, mas também sabe que o que está a dizer é verdade. Às vezes a verdade dói", contou.
Questionado sobre o timing da entrevista, Morgan não quis adiantar quando a entrevista foi feita - "fica entre mim e ele" - e diz que o momento escolhido teve a ver com o Mundial. "Ele está agora com Portugal, que tem boa equipa e que pode fazer um bom Mundial. Isso dá-lhe um mês fora do United. Dá tempo para as coisas se resolverem e voltar. Como ele disse na entrevista, ele ama o Manchester United e os adeptos do clube. Mas ele tem a opinião de que o clube está estagnado e não percebe o porquê. Se ele não falasse, nada iria mudar", acrescentou.
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"Cristiano asked me to do it."
"He knows it"s going to be incendiary but he feels he should be doing this."
"He loves #MUFC & the fans but feels if he doesn"t speak nothing will change."@PiersMorgan explains how and why his interview with Ronaldo happened. pic.twitter.com/VGJMDs80ex
Cristiano Ronaldo disse em entrevista ao The Sun que se sentiu "traído" no Manchester United, clube que representa, e que "algumas pessoas" não o queriam na equipa, não só esta época como na anterior.
"Não sei se devia dizer isto, mas não me importa. As pessoas deviam ouvir a verdade: sim, senti-me traído, e senti que algumas pessoas não me queriam cá, não só esta época, mas também na última", declarou o avançado, num avanço de uma entrevista televisiva que será transmitida na televisão inglesa na quarta-feira.
Segundo o avançado de 37 anos, "não é só o treinador", Erik ten Hag, a não o querer no plantel, mas também "dois ou três no clube", clarificando, depois, que se referia a administradores, para reforçar que se sentiu "traído".
O avançado ficou de fora dos últimos dois jogos dos red devils, e agora prepara-se para embarcar para o Qatar com a seleção portuguesa, que capitaneia, para o Mundial 2022.
Ao todo, soma esta época 16 jogos e três golos pelo clube inglês, depois de em 2021/22, época de regresso a Manchester, ter conseguido 24 golos, em 38 encontros.
Na longa entrevista, declarou não ter respeito pelo treinador, por considerar que este não o respeita.
"Não tenho respeito, porque ele não me respeita. Se não me respeitas, nunca te respeitarei", afirmou.
A falta de melhorias nas instalações e de avanços tecnológicos são outros dos defeitos encontrados pelo avançado.
"Não vejo evolução no clube desde que saiu Alex Ferguson, a progressão é zero. (...) O ginásio, a piscina... estão parados no tempo, o que me surpreendeu bastante", lamentou.
As críticas estenderam-se a Ralf Rangnick, um de três treinadores que encontrou nesta segunda passagem por Manchester.
"Se nem sequer és treinador, como podes ser o líder do Manchester United? Nunca tinha ouvido falar dele", declarou.
Cristiano Ronaldo queixa-se ainda de "falta de empatia" para com ele, quando perdeu um dos filhos no parto de Georgina Rodríguez, nascendo apenas um dos gémeos, e que o clube tenta pintá-lo como "a ovelha negra" do plantel.
Quem 'escapa' às críticas são os adeptos dos ingleses. "São o mais importante do futebol e joga-se para eles. Estão sempre do meu lado, são tudo para mim. Por isso, dei esta entrevista, é o momento adequado para dizer o que penso", acrescentou.
Esta tem sido uma época 'problemática' para o 'astro' madeirense, que regressou ao United, em que jogou primeiro entre 2003 e 2009, após passagens no Real Madrid (2009-2018) e na Juventus (2018-2021), tendo começado a carreira no Sporting.
No verão, a sua possível saída do clube foi o principal tema de discussão do mercado de transferências e, quando não se concretizou, prometeu que daria uma entrevista para esclarecer o assunto.
Desde então, a sua atuação nos relvados tem sido intermitente, entre a titularidade, o banco de suplentes e a ausência dos convocados, como quando foi afastado dos treinos da primeira equipa por abandonar um jogo ainda a decorrer, tendo-se recusado a ser suplente utilizado.
Com 191 jogos pela seleção principal de Portugal, e 117 golos, junta-lhes 145 tentos pelo Manchester United, em 346 partidas, 451 pelo Real Madrid, em 'apenas' 438 encontros, e cinco pelo Sporting, em 31 jogos.