A menos de 100 dias da realização dos XXV Jogos Olímpicos de Inverno, em Itália (Milão-Cortina), Portugal já garantiu três vagas: duas no esqui alpino (um homem e uma mulher) e uma no esqui de fundo (um homem), igualando o número máximo, em atletas e modalidades, já alcançado em 2022. Apenas em Calgary 1988, Portugal levou quatro atletas, mas eram todos da mesma disciplina – o bobsleigh.Existe, no entanto, a possibilidade de se aumentar a comitiva nacional, estando cinco portugueses a lutar por lugares nos torneios olímpicos de patinagem de velocidade e de bobsleigh de 2. Todos tentam a sorte em provas das taças do Mundo. Jéssica Rodrigues, Afonso Silva e Miguel Bravo lutam por vagas na patinagem e Raphael Ribeiro (luso-francês que representa Portugal há algum tempo) e Abdel Larringa (luso-cubano, também a representar a cores nacionais), tentam recolocar o bobsleigh português nuns Jogos Olímpicos.Para todas as modalidades o período de qualificação termina a 18 de Janeiro, sendo que no dia seguinte são publicadas as listas de pontos e rankings. Depois, e até 21 de Janeiro, é conhecida a Allocation Quota List.Recrutamento no atletismo e na patinagem sobre rodasA história da dupla de bobsleigh é pouco comum, pelo menos para quem não conhece bem a realidade dos Desportos de Inverno no nosso país. “No Bobsleigh o Raphael é piloto e não tinha ‘empurrador’. Contactámos a Federação Portuguesa de Atletismo porque precisávamos de um atleta rápido e chegámos ao Abdel. Foi muito fácil chegarmos a um entendimento e, neste momento, o Abdel compete no atletismo, mas também nos Desportos de Inverno. Trata-se de uma relação muito saudável entre as duas Federações”, conta Pedro Flávio, Presidente da Federação Portuguesa de Desportos de Inverno (FPDD)..Os dois atletas estão a competir em taças do Mundo de bobsleigh de 2. No entanto, se os resultados permitirem chegar a um patamar onde se pense que podem garantir presença nos Jogos Olímpicos, é obrigatório participarem numa prova de bobsleigh de 4, numa taça da Europa. “Se percebermos que há hipóteses de apuramento, claro que teremos de encontrar mais dois atletas para o bobsleigh de 4. Mas, a acontecer, não será difícil de recrutar”, assegura Pedro Flávio.A maioria dos atletas portugueses de Desportos de Inverno que estão no Alto Rendimento treinam no estrangeiro. Muitos deles fazem treino físico em Portugal, mas quando se trata de utilizar, por exemplo, pistas de patinagem de velocidade, vão essencialmente para os Países Baixos. É lá que os três velocistas lusos que estão em fase de qualificação trabalham grande parte do ano.Na velocidade no gelo há ainda uma ligação muito forte à patinagem de velocidade sobre rodas. As duas modalidades são muito similares e também neste contexto houve, e ainda há, uma relação muito próxima com a Federação Portuguesa de Patinagem. “Todos os anos fazemos estágios de diferentes níveis e integramos atletas que estão nas rodas e querem ir para o gelo. Há uma relação de respeito entre as duas Federações, muito saudável”.Mesmo com poucas condições, o país qualificou quatro atletas na patinagem de velocidade para os Jogos Olímpicos da Juventude. Portugal foi um dos 12 países que conseguiu levar a competição, após qualificação, dois rapazes e duas raparigas, facto que acabou por ser referido como um caso de sucesso no Congresso da Federação Internacional.Pavilhão vai consolidar crescimentoA Federação Portuguesa de Desportos de Inverno tem atualmente cerca de 1800 atletas federados. Os seus responsáveis fazem trabalho de prospeção há muitos anos, mas também recebem solicitações de atletas que procuram o organismo português para poderem representar o país. O presidente da FPDD explica o processo. “Alguns chegam de forma natural. São identificados através de contactos de há muitos anos com a Federação. O Raphael, por exemplo, entrou em contacto connosco. Mas estes atletas não vão para os Jogos Olímpicos do nada. Há um trabalho de preparação e de continuidade que dura muito tempo”.A grande aposta federativa passa pela captação de mais jovens atletas e pela concretização da construção do Pavilhão dos Desportos de Inverno. Uma infraestrutura vocacionada para o treino no gelo e que permitirá recrutar mais atletas para outras disciplinas como o hóquei no gelo ou o curling, por exemplo. .“Para além de pensarmos que poderemos ter o pavilhão construído dentro de dois anos, uma vez que o terreno já está garantido no Seixal, queremos consolidar a nossa estratégia a longo prazo, iniciada há vários anos”. Pedro Flávio conclui: “Este será o ponto de viragem para o desenvolvimento dos Desportos de Inverno em Portugal. Se na neve não podemos mudar as condições que temos, em termos de tempo, no gelo conseguiremos ter condições para trabalhar durante todo o ano. As modalidades de pavilhão vão ser muito apelativas e temos a convicção que teremos mais jovens a quererem experimentar”.Portugal tem uma pista de gelo, nas Penhas da Saúde, utilizada para a realização de Academias e onde se podem fazer alguns treinos. Depois da realização dos Jogos Olímpicos de Inverno Milão – Cortina 2026, a Federação vai trabalhar para conseguir equiparar os atletas das modalidades de neve e de gelo, aos que competem nas denominadas provas de Verão. Atualmente os jovens que estão a tentar um lugar na maior competição mundial são apoiados pelo IPDJ, através do Programa de Apoio à participação nos Jogos Olímpicos de Inverno. Equiparar os apoios será permitir a estes atletas e a outros que tenham possibilidades de chegar a estes patamares, com o acesso ao programa do Comité Olímpico de Portugal vocacionado para as esperanças olímpicas.