"No Benfica fui prejudicado por aquele triste episódio no aeroporto"
Marcelo Moretto vai voltar ao ativo aos 38 anos. Ainda se sente com motivação para jogar futebol?
Estive um tempo parado, depois de sair dos Estados Unidos da América, e, apesar de ter recebido algumas propostas, nenhuma me agradou. Até que surgiu um convite da Portuguesa do Rio de Janeiro. Apresentaram-me o projeto e fiquei entusiasmado com o que me disseram e assinei contrato para o ano de 2017. Para já vou disputar o campeonato estadual e depois a Série D do Brasileirão, que é a quarta divisão.
Até quando pensa jogar?
Não sei ainda. Penso continuar até o corpo me deixar, para já ainda sinto aquele friozinho no estômago quando vou jogar. Não tenho qualquer prazo para terminar. Só penso em desfrutar o máximo do futebol.
Você jogou nos Estados Unidos em 2015, ao serviço dos Miami Dade. Como foi essa experiência?
Gostei muito. É um futebol e uma cultura diferentes daqueles a que estamos habituados no Brasil ou na Europa. Estive para lá continuar mais um ano, mas acabámos por não chegar a acordo quanto ao salário.
Sente saudades de Portugal?
Muitas saudades, tenho aí muitos amigos e ainda falo com alguns deles. O Luisão e o Jardel, por exemplo, vão-me contando algumas coisas do Benfica.
O que eles lhe contam?
Olhe, sei por exemplo que o Benfica cresceu muito desde a minha saída em 2009. Na minha altura já era um clube muito organizado, mas agora sei que tem grandes estruturas e uma grande qualidade de trabalho e isso deixa-me muito feliz. Tenho de dizer que isso se deve ao grande trabalho do presidente Luís Filipe Vieira, que tem feito tudo com muita competência e tornou o Benfica um clube muito respeitado a nível mundial.
O Moretto ficou com uma relação especial com o presidente do Benfica, desde aquela confusão da sua contratação...
É verdade. Passámos o ano de 2005 para o de 2006 juntos no avião, quando fazíamos a viagem de São Paulo para Lisboa. Ele foi-me buscar... Depois aconteceu aquele episódio triste no aeroporto, com a troca de insultos [envolveram Vítor Dinis, um conhecido de Moretto, que pretendia levá-lo para o FC Porto e os seguranças do Benfica]... foi algo que acabou por me prejudicar no clube, sobretudo na adaptação e na relação com os adeptos.
Mas na altura você assinou algum contrato com o FC Porto?
Sim, assinei um pré-contrato com o FC Porto, que tinha ficado de acertar a transferência com o V. Setúbal. No entanto, a partir do momento em que apareceu o Benfica eu tomei a minha decisão e nunca me arrependi dela.
Alguma vez foi ameaçado por ter optado pelo Benfica e recusado o FC Porto?
Só quando cheguei no aeroporto, quando aquela pessoa [Vítor Dinis] me disse que não ia ter vida fácil em Portugal... além disso, acho que também fui perseguido pela imprensa na altura.
Sentiu a pressão de ter sido uma contratação bastante disputada entre Benfica e FC Porto?
Sim, senti um pouco essa pressão porque os adeptos do Benfica dividiram-se em relação a mim. Uns apoiavam-me e outros assobiavam-me. E isso para mim foi muito triste. De qualquer forma, não guardo qualquer mágoa de ninguém. Adorei ter representado o clube.
Qual foi o melhor momento por que passou no Benfica?
Foram vários... logo no primeiro ano na Liga dos Campeões, aqueles jogos com o Liverpool e o Barcelona são inesquecíveis.
E defendeu um penálti de Ronaldinho Gaúcho na Luz...
Sim, foi um momento muito especial para mim, afinal o Ronaldinho era um dos maiores craques mundiais naquela altura.
Tem acompanhado os jogos do Benfica?
Sim, vi o jogo com o FC Porto. O Benfica teve um pouco de sorte no final porque o FC Porto jogou melhor e naquele canto acabou por chegar ao empate no tempo extra... mas também é bom não esquecer que o Benfica já perdeu um campeonato depois dos 90 minutos.
E acha que o Benfica pode conquistar o tetracampeonato?
Claro. O Rui Vitória tem feito um excelente trabalho e o Benfica tem demonstrado que é a equipa mais qualificada e coesa do campeonato.
Na baliza tem estado Ederson Moraes, o que acha dele?
Tenho acompanhado a carreira dele, especialmente após ter ganho o lugar ao Júlio César, que é um guarda-redes que dispensa apresentações. O Ederson é muito bom e tem feito um grande trabalho.
Esta semana Ronaldinho Gaúcho disse que ele pode vir a ser o dono da baliza da seleção brasileira...
Acredito que pode ser titular da seleção brasileira, sim. Aliás, ele já foi chamado para a Copa América, mas não pôde estar presente devido a uma lesão, mas o facto de já ter sido lembrado é muito importante. Se continuar a evoluir e voltar a destacar-se na Liga dos Campeões vai chegar à seleção brasileira.
As exibições na Champions têm muita importância?
Claro que sim, a Champions dá muita visibilidade e chega a todo o mundo e tem uma exigência muito maior do que outras competições.
Voltando à sua carreira, já pensou o que vai fazer depois de deixar de jogar futebol?
Tenho uma empresa de construção civil e outra de intermediação de transferências de futebolistas. É importante ter uma vida estável além do futebol.
Já fez alguma transferência para Portugal?
Ainda não, mas vou a Portugal para apresentar o meu projeto. Ainda não sei quando, porque agora vou voltar a jogar. Provavelmente depois de terminar os campeonatos com a Portuguesa.