Marcou 123 golos na carreira, 35 deles em Portugal (incluindo dois na própria baliza quando jogava em Guimarães), números que fazem de Heitor Júnior o defesa estrangeiro com mais golos marcados na I Liga - de resto, entre defensores só perde para Humberto Coelho (56)..Exímio marcador dos lances de bola parada, fazia de qualquer livre ou canto uma oportunidade de golo, tal a força e o efeito que colocava na bola. Chamavam-lhe o pontapé-canhão da Madeira. E foi no Funchal, com a camisola no Marítimo, que acabou a carreira em 1995, depois de passar por Nacional e V.Guimarães. "Tinha 31 anos e decidi parar. Voltei para a minha cidade, Laranjal Paulista, no interior de São Paulo, e dediquei-me ao meu sítio [quinta], era produtor rural e vivi muito tempo disso, mas sempre envolvido na vida social da comunidade", recordou ao DN o brasileiro, que passou 14 anos no futebol e 12 na política..Na sequência dos projetos sociais convidaram-no para concorrer a vereador pelo PT, o Partido dos Trabalhadores: "Concorri e ganhei em 2004. Entretanto fui eleito prefeito de Laranjal Paulista, um município com 28 mil habitantes, e fiquei até 2016. A lei tem um limite de três mandatos e já não pude ir a votos nesta eleição. Agora encerrei o ciclo político e estou a tirar um curso de técnico de transações imobiliárias, para ser corretor de imóveis.".Para Heitor, era mais fácil ter ficado a gozar o dinheiro ganho no futebol, mas "sempre disse não ao comodismo" e foi à luta. "Sonhava melhorar a vida das pessoas, tinha muitas ideias e queria trazer coisas novas para a minha cidade", confessou ao DN, explicando porque avançou para uma vida na política..Foi a votos pela primeira vez em 2004 e ganhou a primeira eleição com 60%. Enquanto prefeito (cargo idêntico ao de presidente da câmara), Heitor privilegiou a educação. "Procurámos estruturar o município ao nível da educação, melhorar as infraestruturas das escolas, a valorização dos professores, e penso que conseguimos melhorar a qualidade de ensino na cidade. Com educação mais forte, melhoras todos os outros setores", defendeu o antigo prefeito, que hoje incentiva "os garotos a não deixar os estudos para jogar à bola, dá para fazer as duas coisas"..Para ele, o futebol é uma boa escola para a política. "Os atletas estão habituados a jogar em equipa e têm disciplina. E um político, qualquer que seja, não resolve nada sozinho. Então, o grande ensinamento que eu levei do futebol para a política foi esse. A cobrança é igual, a pressão de resolver... Todo o domingo o jogador é cobrado, o político é cobrado todo o dia. O adepto, como o cidadão comum, exige o máximo", defendeu ao DN o ex-Marítimo, ele que fez parte da primeira seleção brasileira campeã mundial de sub-20, ao lado de nomes como Bebeto, Dunga e Aloísio..Foi ao Jamor em 1995.Chegou a Portugal em 1986. Ficou uma época no Vitória de Guimarães, quatro no Nacional da Madeira e outras quatro no Marítimo. "Marquei 123 golos em toda a minha carreira, contando desde os 14 anos, quando comecei a jogar", contou. "Cheguei até a marcar dois golos olímpicos, ou canto direto como dizem em Portugal. Um foi pelo Ponte Preta e o outro foi já pelo Marítimo, frente ao Estoril", recordou o antigo jogador, explicando que "treinava muito os lances de bola parada" inspirado por Nelinho, o seu ídolo de infância..O segredo era "bater na bola com a parte de fora do pé". Foi assim que marcou aos três grandes do futebol português: "Lembro-me de que marquei ao Vítor Baía nas Antas, pelo Nacional (1-2), marquei ao Benfica nos Barreiros (1-1) e ao Sporting em Alvalade (2-1). O mais bonito talvez tenha sido o golo ao Benfica em 92-93, nos Barreiros. Eu marquei para o Marítimo e o João Pinto fez o golo do Benfica...".Além de ser o defesa estrangeiro com mais golos em Portugal, Heitor ficou na história do Marítimo como o autor do primeiro golo dos madeirenses numa prova da UEFA (frente ao Royal Antuérpia)..Foi também com a camisola dos leões da Madeira que chegou ao Jamor: "Fomos à final com o Sporting do Queiroz, que já não vencia o troféu há muito tempo (13 anos) e que tinha o Oceano, o Balakov, o Iordanov... que fez os dois golos. Ele fez um jogo espetacular e o Everton (guarda-redes do Marítimo) ainda fez muitas boas defesas, mas o Iordanov foi o herói e perdemos 2-0.".O jogo frente ao leões no Estádio Nacional foi o último da carreira. "Ainda tive convites para jogar no Brasil, mas já não estava de corpo e alma no futebol e resolvi parar. Foi uma carreira boa em Portugal. Deixei amigos em Guimarães, fui feliz no Nacional e joguei na Europa com o Marítimo. A ligação a Portugal ficará para sempre, foi lá que tive dois filhos."