Gonçalo Feio, o treinador português que brilha na UEFA e arrisca pena de prisão
Foto: Legia Varsóvia

Gonçalo Feio, o treinador português que brilha na UEFA e arrisca pena de prisão

Antigo aluno de Mourinho levou o Legia Varsóvia aos quartos da Liga Conferência, onde irá defrontar o Chelsea. Está há 14 anos a trabalhar na Polónia, onde se tornou famoso por bons e maus motivos.
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Gonçalo Feio, 35 anos, é um dos três treinadores portugueses que se mantêm na luta nas competições da UEFA desta época. Se Rúben Amorim e Paulo Fonseca, técnicos do Manchester United e Lyon, respetivamente, são reconhecidos em Portugal, o treinador do Legia Varsóvia é um ilustre desconhecido no país onde nasceu, mas o seu trabalho é bastante elogiado na Polónia, país onde vive há pouco mais de 14 anos. Afinal, conduziu pela terceira vez o clube mais vezes campeão polaco aos quartos de final de uma prova europeia, no caso a Liga Conferência, algo que não acontecia desde1996.

O caminho europeu começou em julho de 2024, com o apuramento em três pré-eliminatórias da Liga Conferência antes de atingir a fase de liga, onde conseguiu uma vitória frente ao Bétis e alcançou o sétimo lugar e uma vaga nos oitavos de final. Afastou depois os noruegueses do Molde e agora terá pela frente o Chelsea nos quartos de final da prova, estando primeiro jogo agendado para o dia 17.

Gonçalo Feio é, por isso, o homem do momento na Polónia, onde chegou incógnito e até se tornou famoso pelos piores motivos, quando em 2023 insultou a assessora de imprensa e agrediu o presidente do Motor Lublin. Incidentes que lhe valeram processos em tribunal. Mas já lá vamos.

Estudou na Faculdade de Motricidade Humana (FMH), onde teve como professores Pedro Mil-Homens e José Mourinho, entre outros. E a vontade de ser treinador fez Gonçalo Feio tentar a sua sorte quando ainda era um adolescente universitário. Foi numa entrevista ao jornal polaco Prezeglad Sportowy que revelou a sua história com Mourinho, na altura treinador do Inter Milão, com quem meteu conversa no café da FMH: “Pedi-lhe o número de telefone e ofereci-me para ir para Milão e mostrar-lhe que podia fazer parte da sua equipa técnica.” O atrevimento não resultou em pleno, pois teve de se contentar com o endereço de e-mail de Mourinho, com quem trocou “duas ou três” mensagens.

Ser treinador era um sonho que começou a tornar-se realidade aos 19 anos no Benfica, como estagiário nos sub-8 e sub-10, e como adjunto nos sub-15 durante uma temporada, uma oportunidade que surgiu graças a um trabalho sobre o treino de jovens pelo qual foi distinguido na FMH.

Aos 20 anos, acabou por deixar o Benfica porque, ao abrigo do programa Erasmus e graças a um protocolo da FMH com a Universidade de Educação Física Józef Pilsudski, mudou-se para Varsóvia para concluir a sua licenciatura, ao mesmo tempo que dava aulas de português para se sustentar.

Mas queria mais e foi propor-se como treinador da academia do Legia Varsóvia, onde trabalhou como voluntário durante seis meses. No final da época 2010/11 acabou por ser promovido a treinador principal dos sub-8, e três anos depois teve a primeira oportunidade na equipa principal como analista da equipa técnica liderada pelo norueguês Henning Berg.

Entre 2016 e 2022 trabalhou como adjunto do Wisla Cracóvia, Xanthi (Grécia) e Raków, até que em 2022 recebeu o convite para ser o treinador principal do Motor Lublin, pelo qual conseguiu a promoção ao segundo escalão do futebol polaco por via do play-off.

A polémica e o convite

A carreira a solo começava da melhor maneira, apesar de esse ano ter ficado marcado pelo tal incidente que lhe valeu um processo em tribunal, que ainda decorre e pelo qual incorre numa pena de prisão até três anos.

Foi em março de 2023, depois de um jogo com o Jastrzebie, quando Gonçalo Feio insultou a assessora de imprensa Paulina Maciazek, com quem tinha divergências antigas. O presidente do Motor, Pawel Tomcyk, saiu em defesa da funcionária. O treinador português não conteve a irritação e atirou uma papeleira que atingiu o líder do clube, que acabou por ser suturado na sobrancelha.

A Federação Polaca aplicou-lhe uma suspensão de um ano, com três anos de pena suspensa, e condenou-o ao pagamento de uma multa de 16 mil euros. O técnico pediu desculpa, mas não se livrou que o presidente apresentasse uma queixa crime em tribunal. Apesar disso, Gonçalo Feio não foi demitido do Motor, clube que em 2024 ajudou a regressar ao escalão principal, 13 anos depois. O português fez a maior parte da caminhada, uma vez que só em março de 2024 deixou o clube para aceitar o convite do histórico Legia, onde tudo tinha começado 14 anos antes.

A dois pontos do líder Raków na liga polaca, Gonçalo Feio ainda luta pela conquista da Taça da Polónia, onde irá disputar as meias-finais, e sonha eliminar o milionário Chelsea na Liga Conferência e assim lançar o seu nome para a ribalta do futebol europeu.

carlos.nogueira@dn.pt

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