Girona. O satélite do City e do irmão de Guardiola que dá luta aos gigantes
Não fosse a vitória do Real Madrid em Barcelona no clássico de sábado, e a liga espanhola poderia ter neste momento um líder isolado completamente inesperado. O segundo lugar (com os mesmos pontos do Real Madrid), contudo, é uma proeza enorme do Girona. Um feito digno de destaque, até porque a equipa de futebol da Catalunha só há duas épocas subiu à La Liga e na temporada transata terminou no 10.º lugar.
O Girona, que em toda a história conta apenas quatro participações na principal liga espanhola, tem um projeto a médio/longo prazo que começou a ganhar forma em agosto 2017, quando o clube foi comprado em partes iguais pelo City Football Group, o consórcio de investidores dos Emirados Árabes Unidos proprietário do Manchester City, e por Pere Guardiola, o irmão do treinador Pep Guardiola, que é o presidente do conselho de administração.
Ao tornar-se um satélite do Manchester City, o clube catalão começou a receber jovens promessas, transformando-se numa espécie de laboratório para formar jogadores que um dia poderão dar o salto para o gigante inglês. Houve também muito investimento a nível de infraestruturas, sobretudo em centros de treino e, claro, em contratações.
Em 2021, Michel, 47 anos, antigo jogador do Rayo Vallecano, foi escolhido para orientar a equipa. Logo na sua primeira época garantiu a subida ao escalão principal do futebol espanhol. Na temporada passada estabilizou o clube a meio da tabela, e agora está a intrometer-se entre os gigantes, no topo da tabela, havendo já quem vaticine que o clube poderá lutar por um lugar europeu. Além do treinador, tem sido igualmente muito elogiado o trabalho de Quique Cárcel, o diretor desportivo.
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No verão, o Girona perdeu dois dos seus melhores jogadores - Oriol Romeu rumou ao Barcelona e Santiago Bueno ao Wolverhampton. Mas graças à estrutura profissional do City Group, e aos bons profissionais do clube, foi possível montar uma equipa de qualidade para atacar com sucesso a época 2023-24.
Foram garantidos reforços como o avançado ucraniano Artem Dovbyk, a contratação mais cara da história do Girona (7,5 milhões de euros), o médio venezuelano Yangel Herrera (chegou do Manchester City), e o ponta de lança brasileiro Savinho, cedido pelo Troyes, de França, outra equipa que pertence ao império do City Group, e que é já uma das estrelas do conjunto catalão. Além disso, chegaram a custo zero o defesa holandês Daley Blind, o guarda-redes argentino Gazzaniga, e ainda Eric Garcia, por empréstimo do Barcelona.
Os resultados estão à vista. Em 11 jogos na liga espanhola, a equipa situada na cidade que fica a meio do caminho entre Barcelona e a fronteira francesa venceu nove, perdeu um (com o Real Madrid) e empatou outro (diante da Real Sociedad). E chegou a conseguir uma série impensável de seis jornadas sempre a vencer.
Outro dado interessante: o Girona possui atualmente o melhor ataque da liga espanhola, a par do At. Madrid, com 25 golos em 11 jogos, uma média superior a dois golos por jogo. Em toda a história da I Liga espanhola, foi o único clube ao lado de Real Madrid, Barcelona, Atlético de Madrid, Bétis e Espanyol a conseguir atingir 28 pontos nas primeiras 11 jornadas.
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"Ter 28 pontos em 11 jogos é um sonho que não prevíamos. Esta liderança é algo anedótica porque não é o nosso objetivo. A nossa meta é a manutenção porque o clube está a crescer. Mas claro que nos sentimos orgulhosos com a posição que ocupamos, até porque já ganhámos o respeito de todos", disse o treinador Michel após a vitória de sexta-feira diante do Celta, com um golo na compensação.
A equipa atua habitualmente num 4X3X3, podendo alternar para 4X2X3X1 ou 4X1X4X1. É um conjunto que joga ao ataque, que gosta de assumir o protagonismo do jogo, de ter bola, tornando-se, quer pela capacidade ofensiva dos laterais (Yan Couto/Arnau e Miguel Gutiérrez) quer pela capacidade de desequilíbrio dos avançados Savinho e Tsygankov, numa equipa bastante ofensiva.
De acordo com o transfermarkt, site especializado no mercado de futebolistas, o plantel do Girona está avaliado em 161.10 milhões de euros. Um valor que contrasta com as avaliações milionárias dos maiores gigantes de Espanha - o Real Madrid está avaliado em 1,03 mil milhões de euros, o Barcelona 862ME e o Atlético Madrid 472ME.
Fogo de vista ou não, até porque falta muito campeonato, o tempo dirá até onde pode chegar o conto de fadas do Girona. Mas uma coisa é certa: no ano passado, pela mesma altura, a equipa tinha menos 19 pontos do que atualmente.
nuno.fernandes@dn.pt