Marcel van Langenhove. O nome pode não dizer muita coisa à maioria das pessoas, mas este belga, atualmente com 79 anos e já retirado, foi o árbitro da célebre meia-final da Taça dos Campeões Europeus entre o Benfica e o Marselha, no jogo disputado a 18 de abril de 1990, no Estádio da Luz, que ficou para sempre recordado pelo golo do avançado angolano Vata apontado com a mão, que permitiu ao clube da Luz chegar à final, que acabaria por perder frente ao AC Milan..34 anos depois, e em vésperas de mais um Benfica-Marselha, agora para os quartos de final da Liga Europa (a primeira mão é já amanhã na Luz), o DN falou com o antigo árbitro, que mal soube que a chamada era de um jornalista português, atirou logo: “Quer recordar aquele Benfica-Marselha que eu arbitrei em 1990, certo?” Certo..“Essa história... isso foi há tantos anos. A única coisa que posso dizer é que nesse jogo fiz uma grande arbitragem até aos 83 minutos, depois o Vata... bem, aconteceu aquilo que todos sabem. O Vata marcou um golo com a mão num lance que eu não consegui ver. Acho que toda a gente tem a noção disso. Sempre fui um bom árbitro, respeitado, e obviamente não me ia enganar de propósito. Nesse jogo não tive sorte. Como não vi, não considero que tenha sido um erro. Foi uma má decisão”, descreveu ao DN..“Estavam muitos jogadores à minha frente, talvez uns seis, tinha a visão limitada, nao consegui ver bem. E olhem que era um lance difícil. Posso dizer que depois do jogo estive a ver repetições pela televisão e só consegui perceber que tinha sido mão à terceira. Isto diz bem da dificuldade”, recordou..O árbitro belga Marcel van Langenhove, hoje com 79 anos..Nesse jogo da segunda mão das meias-finais, o antigo Estádio da Luz estava a abarrotar e o Benfica precisava de anular a desvantagem de 2-1 que o Marselha trazia do jogo do Vélodrome. E o tal golo de Vata, aos 83’, na sequência de um canto e de um desvio de cabeça de Magnusson, bastou para as águias se apurarem para a final..Marcel van Langenhove, que para a semana completa 80 anos e que está ainda ligado ao futebol por colaborar com o Anderlecht na receção aos árbitros estrangeiros, lembrou que se fosse atualmente, com as novas tecnologias, a história desse jogo seria diferente: “Se na altura houvesse videoárbitro, teria-o consultado e não seria golo. Mas naquela época havia estas limitações, mesmo com a ajuda dos auxiliares. Às vezes aconteciam más decisões, mas não de forma propositada. Naquele caso ganhou mais dimensão por ser uma meia-final da Taça dos Campeões Europeus, entre duas grandes equipas.”.A ira e acusações de Tapie.Van Langenhove diz que depois daquela noite de 18 de abril de 1990 nunca falou com nenhum dos intervenientes desse jogo. Mas lembra-se bem da ira de Bernard Tapie, presidente do Marselha na altura, que mesmo anos depois continuou a lançar suspeições, falando “num arranjinho por um punhado de notas, um presente, uma prostituta enviada ao quarto de hotel”..O ex-árbitro belga recorda que houve muita gente que ficou chateada. “Os franceses, em especial os adeptos do Marselha, ficaram furiosos comigo. Sobretudo o presidente Tapie, que não me poupou críticas. Até ameaças de morte recebi, entre outras acusações. Mas são lances que fazem parte do futebol. Se atualmente, com o VAR, ainda há erros, imaginem naquela altura. Estávamos mais expostos”..“Há uns anos dei uma entrevista a um jornalista francês, que me questionou sobre esse jogo. Mas mesmo ele, sendo francês, foi muito correto, sem provocações. Entendeu as minhas explicações. Ninguém gosta de errar, e eu tive uma carreira exemplar, sempre fui considerado um bom árbitro, e nunca me deixei afetar por essa situação. Repito: fiz uma grande arbitragem até aos 83 minutos, depois o Vata...”.O antigo juiz revela que amanhã vai ver pela televisão o Benfica-Marselha “como adepto de bom futebol”, mas que não vai torcer “por ninguém”. “Sou e sempre fui neutral. Tal como nos meus tempos de árbitro de futebol, para mim não existe esta e aquela equipa. É sempre os vermelhos contra os azuis”, garantiu, desejando que “seja um bom espectáculo e que no final não se fale da arbitragem”..nuno.fernandes@dn.pt