A Olímpica Filipa Martins foi eleita representante de todas as atletas de Ginástica Artística Feminina na Federação Internacional de Ginástica (FIG), há pouco mais de um mês, mas só no início do próximo ano iniciará efetivamente o seu mandato. Este cargo é o primeiro exercido por um português na mais alta instância da Ginástica Mundial. Aos 28 anos Filipa quer que as ginastas da sua disciplina se façam ouvir e vai fazer tudo para que as suas dúvidas, vontades e preocupações cheguem efetivamente aos mais altos dirigentes internacionais.“Quero ouvir todas as ginastas e dizer-lhes que têm este meio para poderem falar. Habitualmente só alguns países é que se fazem ouvir. Eu própria, quando era ginasta, não sabia que podia recorrer à representante da FIG. Na prática vou ser a ponte entre os atletas e a Federação Internacional”, referiu a ex-ginasta.. Com três participações olímpicas - Rio2016, Tóquio2020 e Paris2024 - Filipa Martins encerrou recentemente um percurso competitivo de referência, sendo a primeira ginasta portuguesa a ver o seu nome inscrito no Código de Pontos através de um elemento técnico original. Este estatuto, aliado ao reconhecimento da comunidade internacional, esteve na origem da escolha para o novo cargo.Filipa contou como tudo aconteceu: “Estas eleições acontecem de 4 em 4 anos. A Federação de Ginástica de Portugal sabia que eu ia deixar o Alto Rendimento e sugeriu que me candidatasse. Como atualmente moro na Suíça e a Federação também tem sede aqui, achei que podia dar este contributo em prol da minha modalidade.”Entre os temas que pretende destacar na sua nova função, Filipa refere: a saúde física e mental dos atletas, com especial foco na proteção de jovens ginastas; ambientes de treino seguros, livres de abusos e práticas desportivas nocivas; profissionalização da modalidade, tanto no acompanhamento técnico, como na transição de carreira; e promoção de condições de igualdade de género em todos os níveis da ginástica.. Todas as questões que se possam imaginar irão seguramente passar pela nova representante internacional e pelas ginastas de todos os países inscritos na FIG. Por isso, não se pode desvalorizar nada nem ninguém: “As conversas podem muito bem passar por situações tão simples como os equipamentos nas competições, os materiais de apoio, ou as músicas com vocalista nos exercícios de solo. Mas poderá haver outras questões mais estruturais - a longevidade da carreira das ginastas e o seu futuro, ou a própria profissionalização, um assunto delicado, mas que se deve ponderar, também em Portugal. Seria uma forma de desenvolver a Ginástica e trazer mais praticantes.”Os ginásios não vão deixar de fazer parte do dia a dia da jovem. Filipa é atualmente treinadora num clube de Zurique e tem a seu cargo três grupos de atletas, num total de 15 que quer ensinar e a quem quer transmitir tudo o que aprendeu no seu percurso gímnico.A carreira que Filipa Martins construiu, marcada por resultados inéditos e por um papel inspirador para as gerações mais jovens, abre caminho a uma nova etapa. “Foi um percurso muito bonito, não mudaria nada do que fiz até aqui. Não foi fácil, mas fez-me crescer e apreender os valores do Desporto que levo comigo para a vida”, referiu a ex-atleta.