Pimenta de bronze, mas já a pensar em mais. "Continuo a querer ser campeão olímpico"
O canoísta Fernando Pimenta conquistou esta terça-feira a medalha de bronze em K1 1.000 metros nos Jogos Olímpicos Tóquio2020, a terceira medalha obtida por atletas portugueses - depois do bronze do judoca Jorge Fonseca e da prata da atleta Patrícia Mamona.
Fernando Pimenta, de 31 anos, que se tinha sagrado vice-campeão olímpico em Londres2012, em K2 1.000 metros, ao lado de Emanuel Silva, terminou a prova de K1 1.000 metros de Tóquio2020 em 3.22,478 minutos, apenas atrás dos húngaros Balint Kopasz, novo recordista olímpico, com 3.20,643, e Adam Varga (3.22,431).
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Depois da estreia auspiciosa em Londres2012, numa longa carreira que engloba 105 pódios em competições internacionais, Fernando Pimenta foi ainda quinto classificado em K1 1.000 metros e sexto em K4 1.000 metros no Rio2016.
"Acredito que é possível e continuo a querer ser campeão olímpico. Ter as três cores de medalhas. E vou estar cá para lutar por esse sonho e objetivo, conquistar mais êxitos para Portugal", disse o atleta, na conferência de imprensa após a final dos Jogos Olímpicos.
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"Sabia que aqui ia prevalecer muita juventude nestes Jogos Olímpicos, mas a idade é um posto, não é peso. Espero nos próximos Jogos continuar a lutar por pódios", vincou.
"É continuar a trabalhar e a acreditar. Enquanto tiver este espírito, me sentir feliz a fazer o que faço... Enquanto tiver força física e mental, vou dar o meu melhor todos os dias para conquistar mais troféus para o nosso país", confessou.
Fernando Pimenta esclareceu que foi o "canoísta mais regular deste ciclo olímpico", de cinco anos, no qual apenas falhou um pódio, numa Taça do Mundo em 2019, sendo quarto, enquanto em Europeus e Mundiais conquistou sempre uma medalha.
"De todos os atletas desta final fui o mais regular e isso coloca automaticamente a fasquia da pressão mais elevada. Sem estes resultados internacionais ninguém em Portugal acreditaria que eu vinha aos Jogos lutar pelos primeiros lugares. É uma pressão normal e lido bem com ela", assumiu.
Pimenta revelou que "sempre" esteve disponível para outras tripulações além do K1, pelo que renovou a sua vontade de fazer outras em Paris2024, além do tradicional K1 1.000.
"Estou muito contente pelo meu percurso, com 105 medalhas internacionais, duas delas olímpicas. Acredito que é possível estar na luta por mais uma ou duas medalhas em Paris2024, dependendo do que possa fazer. Se calhar posso dar também um contributo ao K2 500 ou K4 500, que vão ser as distâncias em competição", especificou.
Admitiu que "não houve tempo" para treinar outras tripulações para Tóquio2020, assumindo que estaria disponível para o fazer, se fosse o caso.
Fernando Pimenta, que já inicia esta terça-feira a viagem de regresso a Portugal, revelou que "até domingo não vai haver limites ou constrangimentos" na sua dieta e celebrações com a família, contudo voltará ao plano de treinos "exigente" a partir daí.
"A época ainda não acabou. Há um campeonato do Mundo por disputar no terceiro fim de semana de setembro e há lá pódios pelos quais quero lutar", concluiu, referindo-se ao K1 1.000 e K1 5.000.
Com três medalhas conquistadas em Tóquio2020, uma vez que Jorge Fonseca alcançou a de bronze na categoria de -100 kg e Patrícia Mamona arrebatou a de prata no triplo salto, Portugal já igualou o melhor pecúlio em Jogos Olímpicos, reeditando as três subidas ao pódio de Los Angeles1984 e Atenas2004.
Treinador destacou "enorme feito"
O treinador de Fernando Pimenta, Hélio Lucas, destacou esta terça-feira o "enorme feito" alcançado pelo seu atleta nos Jogos Olímpicos, a medalha de bronze em K1 1.000 metros de Tóquio2020.
"Cumpriu o sonho da medalha olímpica em K1 e isso vai ficar para sempre na sua carreira, que já tinha uma prata em K2 1.000 metros. Há poucos desportistas em Portugal a conseguir tudo o que ele tem feito em todos estes anos", disse o técnico, em declarações à agência Lusa.
"Estou muito feliz por um lado e por outro acho que poderia ter ido um pouco mais além. Quebrou um pouco na ponta final, mas foi uma prova fantástica, nada lhe tenho a apontar", elogiou.
Hélio Lucas, que treina Fernando Pimenta desde sempre, elogiou o seu atleta, "inexcedível no trabalho e no compromisso com os seus objetivos".
Entende que essa é uma das formas de explicar a "competitividade" de Pimenta, que está a 10 dias de completar 32 anos, perante atletas como os novos campeão e vice-campeão olímpicos, respetivamente com 24 e 21 anos.
"Tem um nível e consistência como poucos. E a sua insatisfação pelo bronze mostra somente de que raça é feito, até onde vai o tamanho da sua ambição", concluiu.
27.ª medalha de Portugal e o quinto repetente
Portugal passou a contar com um total de 27 medalhas conquistadas em Jogos Olímpicos (quatro de ouro, nove de prata e 14 de bronze), duas das quais na canoagem, ambas com a participação de Fernando Pimenta, que integra agora o restrito grupo de atletas lusos com dois pódios no maior evento desportivo mundial.
Só outros quatro atletas, três deles campeões olímpicos, conseguiram ganhar mais do que uma medalha em Jogos Olímpicos, e, em Tóquio2020, Fernando Pimenta foi o único, de três que o podiam fazer, a conseguir a proeza.
A judoca Telma Monteiro não conseguiu dar sequência ao bronze que trazia do Rio2016, enquanto Nelson Évora, campeão olímpico no triplo salto em Pequim2008, despediu-se dos Jogos na qualificação, afetado por uma lesão.
A história do restrito quinteto com mais do que uma medalha começa em Berlim1936, nos Jogos da vergonha da Alemanha nazi, com a equipa de saltos em desportos equestres, na qual pontificavam Domingos de Sousa, José Beltrão e Luís Mena e Silva.
O trio conseguiu bronze, mas Mena e Silva havia de voltar, desta feita no ensino, ao pódio nos Jogos, 12 anos depois, em Londres1948, com novo bronze.
Estava feito o primeiro bis português, que viria a seguir isolado durante muitos anos, até se encontrar o primeiro campeão olímpico da história lusa.
Carlos Lopes chegava a Los Angeles1984 com uma prata nos 10.000 metros obtida em Montreal1976, e de uma lesão que o afastou da discussão em Moscovo1980, e conseguiu na maratona o primeiro ouro português, com recorde olímpico, só batido em Pequim2008.
A maratona dava frutos, e uma história paralela começava também na cidade norte-americana: Rosa Mota conquistava o bronze na distância, antes de brilhar em Seul1988, no lugar mais alto do pódio.
Portugal habituava-se, no final do século XX, a grandes resultados de fundistas, e Fernanda Ribeiro conseguiu o ouro de forma épica, nos últimos metros, em Atlanta1996, nos 10.000 metros.
Quatro anos depois, em Sydney, foi ao bronze, para bisar e se destacar como uma das grandes atletas olímpicas que o país já teve, esperando 21 anos para ter nova companhia no grupo seleto de desportistas com mais do que um metal olímpico.
Chegou a vez de Fernando Pimenta, que já trazia uma prata no K2 1.000 metros, com Emanuel Silva, e esta terça-feira voltou a estar presente na segunda medalha da canoagem lusa, dando o terceiro pódio a Portugal em Tóquio2020.
O presidente da Federação Portuguesa de Canoagem, Vítor Félix, elogiou esta terça-feira o "imenso valor" de Fernando Pimenta, medalha de bronze nos Jogos Olímpicos Tóquio2020 em K1 1.000 metros, colocando-o num "restrito lote" dos maiores desportistas portugueses.
"É um atleta de eleição que perseguia esta medalha há muito tempo e que agora se junta a uma restrita elite de atletas portugueses olímpicos com duas medalhas, como Carlos Lopes, Rosa Mota e Fernanda Ribeiro", elogiou, em declarações à Lusa.
"Sei que ele queria mais, porque é um atleta muito, muito ambicioso, que se desafia constantemente, contudo deve estar extremamente orgulhoso pelo que fez hoje aqui e em toda a sua carreira", acrescentou o dirigente.
Esta é a 105.º medalha de Pimenta em competições internacionais, "pecúlio que mostra bem a sua qualidade de desportista".
"O Pimenta, o seu treinador Hélio Lucas, a federação e toda a família da canoagem estão de parabéns por todo o trabalho que tem sido desenvolvido e permite obter estes resultados de enorme valor internacional", concluiu.