Portugal foi esta terça-feira suspenso pela Federação Internacional de Judo (IJF), com a indicação a ser a dada pelo organismo na sua página oficial.Segundo a imprensa portuguesa, em causa estarão dívidas da Federação Portuguesa de Judo (FPJ), presidida por Sérgio Pina, reeleito em outubro de 2024, à Federação Internacional da modalidade.A Federação Portuguesa de Judo foi da suspensão por um ano devido a uma dívida de 800 mil euros. Em vários momentos, a Federação Internacional notificou a FPJ, que ainda tentou proceder a um pagamento simbólico de 50 mil euros, mas um erro no código de transferência bancária, acabou por levar a decisão mais extremada da instância do judo mundial.Na página oficial da IFJ é apenas indicada a suspensão do país, sem justificação para a decisão e a cerca de duas semanas do início dos Mundiais em Budapeste, para os quais Portugal tem inscritos seis judocas.Portugal deverá competir na capital húngara, entre 13 e 18 de junho, com seis judocas, entre os quais o campeão mundial em 2019 e 2021 Jorge Fonseca (-100 kg), a campeã europeia em título Patrícia Sampaio (-78 kg) e a vice-campeã europeia Catarina Costa (-48 kg).Inscritos, e com critérios de seleção adequados (top-100 e resultados até ao quinto lugar em competições específicas), estão também Miguel Gago (-66 kg), recente prata no Open de Benidorm, Otari Kvantidze (-73 kg) e Taís Pina (-70 kg, quinta nos Europeus).A participação dos judocas portugueses nos Mundiais de Budapeste não está em risco, competição na qual os seis judocas lusos podem ter de competir sem a bandeira portuguesa, disse esta quarta-feira à agência Lusa o presidente da Federação.“Desde a primeira hora que os atletas estão salvaguardados de todo este problema. A única situação que pode ocorrer é terem de participar sob a égide da FIJ [Federação Internacional de Judo], com os dorsais da FIJ. Com a certeza de que vamos ter medalhados e campeões do mundo e o hino também será o da FIJ. Esta será uma penalização caso não se consiga reverter isto e que irá durar um ano”, disse à Lusa Sérgio Pina.A situação levou a FPJ a estabelecer contactos imediatos com o presidente do Instituto Português do Desporto (IPDJ), Ricardo Gonçalves.“Ontem [terça-feira], falei com o IPDJ, irão ser conversas que, garantidamente, serão retomadas, assim como pedi ajuda a Fernando Gomes, presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), e já falei e irei continuar a falar com o secretário de Estado do Desporto, Pedro Dias, no intuito, se não for a totalidade, mas pelo menos que haja um apoio, para que, se for possível, possamos definir um plano de pagamento com a Federação Internacional de Judo. Se não for possível na totalidade, que haja algum valor com que se possa fazer isso”, disse ainda à Lusa Sérgio Pina.O dirigente enquadrou que foram conversas breves, na tentativa de explicar a situação em que a FPJ se encontra, e que esta quarta-feira pensa que conseguirá falar melhor sobre o assunto.Na decisão disciplinar da FIJ a que a Lusa teve acesso, o organismo internacional detalha o histórico da dívida, que ascende a 800.000 euros e que engloba a contratualização de dois dos quatro Grand Prix que Portugal (2023 e 2024) tinha feito, no valor de 500.00 euros, acrescidos de uma verba de 300.000 euros referente aos Mundiais de juniores de 2023.Na sua decisão, a FIJ lembra que “uma Federação membro cujas taxas de adesão ou quaisquer outras taxas, ‘royalties’ ou dívidas para a IJF ou União Continental à qual pertence não forem pagas até 31 de maio de cada ano, não será autorizada a participar nos Jogos Olímpicos, campeonatos mundiais ou qualquer outro evento realizado sob os auspícios da IJF”.Na decisão, a Federação Internacional esclarece os avisos sucessivos à FPJ em relação aos valores em dívida, em fevereiro, março e abril, junto com a carta enviada por Sérgio Pina ao organismo, com o enquadramento de dificuldades financeiras no judo nacional.O presidente da FPJ explicou que a Federação depende exclusivamente de um apoio estatal, na ordem dos 1,2 milhões de euros anuais.“O orçamento da FPJ depende exclusivamente do apoio estatal, e o montante anual não ultrapassa os 1,2 milhões de euros, que são necessariamente canalizados para as suas atividades, o que torna impossível para a FPJ pagar a sua dívida com a IJF sem apoio extra das instituições estatais”, indica a Federação Internacional na defesa que lhe foi apresentada pela FPJ.Na mesma carta, Pina lembrou as eleições no organismo em outubro do último ano, após os Jogos Olímpicos de Paris2024, e que a esperança na resolução do problema teve ainda a circunstância de eleições legislativas em Portugal, em 18 de maio, que acabaram por dificultar esse reforço de um apoio financeiro.“Esta circunstância tem condicionado fortemente os processos de tomada de decisão e concessão de apoio às federações desportivas, uma situação que acreditamos será resolvida em breve, logo após as eleições, se não antes”, disse então o presidente da FPJ à Federação Internacional.Posteriormente, a FIJ deu um prazo até 13 de maio à Federação Portuguesa, que, ainda sem um reforço de apoio estatal, procurou transferir 50.000 euros, que o organismo internacional não recebeu..Ex-presidente diz não “ter nada a ver com a situação”O anterior presidente do organismo, Jorge Fernandes, destituído em dezembro de 2022, esclareceu à Lusa não “ter nada a ver com a situação”, explicando as contas deixadas quando cessou o mandato.“Não tenho nada a ver com isso, saí há dois anos e meio. Em dezembro de 2022, eu saio. Em janeiro de 2023, com o Grand Prix de Portugal, há uma dívida de 250.000 euros à IJF. Um valor a ser pago apenas no final do evento”, começou por dizer o ex-presidente.Jorge Fernandes justificou que o valor é pago após o evento, devido às taxas e receita da própria competição, e não previamente, e que a indicação que tem é que a atual dívida situa-se na ordem do milhão de euros.Ainda segundo Jorge Fernandes, o acumulado, do qual rejeita qualquer responsabilidade, terá a ver com o Grand Prix de 2024 (mais 250.000 euros), o Campeonato do Mundo de juniores (300.000) e o Grand Prix deste ano (mais 250.000), que estava contratualizado e não se realizou.“A FPJ andou a protelar e a IJF quer a taxa. O que é que eu tenho a ver com isto?”, questionou o antigo dirigente máximo da federação de judo, lembrando que muitos membros dos atuais corpos sociais integraram a FPJ enquanto liderou.