A final de 2010 já é uma memória distante para estes Chaves e FC Porto

No dia do reencontro, Tulipa recorda como levou uma equipa em crise ao Jamor e explica como os dois clubes mudaram.
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Há memórias assim, agridoces. Para o Desportivo de Chaves, a da surpreendente estreia no Jamor - derrota 1-2 com o FC Porto em maio de 2010, quando a equipa estava na II Liga - está ligada a uma das épocas mais negras da história do emblema transmontano. "Era uma equipa em dificuldades, com um plantel muito reduzido e a direção sem honrar os compromissos com os trabalhadores. Mas conseguimos apurar-nos e dignificar o clube com a presença na final da Taça de Portugal", recorda o treinador de então, Manuel Tulipa. Passados seis anos, a realidade é completamente diferente no momento em que os flavienses reencontram os dragões (hoje, 20.15, Sport TV1), em casa, para a 4.ª eliminatória do prova-rainha do futebol português.

Tulipa é o narrador principal desta história: despontou como jogador no FC Porto e viveu um dos pontos mais altos da carreira de técnico ao levar o Desportivo de Chaves ao Jamor. "Este é um jogo a que gostaria de assistir, por ser o reencontro após a final da Taça de 2010 [transmontanos e portistas não voltaram a enfrentar-se desde então]", confidencia, ao DN. Mas, hoje, uns e outros "estão numa situação completamente diferente de há seis anos", nota o técnico.

"Hoje, o Chaves vive um bom momento: está na I Liga, é um clube bem organizado. Então era uma equipa em dificuldades, sem condições para estar a lutar por duas competições [II Liga e Taça de Portugal] ao mesmo tempo. Já o FC Porto tinha uma equipa fabulosa, com Hulk, Falcao, Guarín, Fernando, jogadores que faziam a diferença...", recorda Manuel Tulipa.

Naquele dia de 16 de maio de 2010, os flavienses viviam numa montanha-russa emocional: gozavam da honra de disputar a final da Taça (feito raro para uma equipa de uma divisão secundária) uma semana depois de terem sido despromovidos à II Divisão. O rival era um FC Porto em fim de ciclo - o treinador Jesualdo Ferreira despediu-se do clube após a vitória, por 2-1, com golos de Guarín (13"), Falcão (23") e Clemente (85").

"A primeira oportunidade de golo foi nossa: o Edu [Machado] antecipou-se ao Helton e atirou ao poste, logo a abrir o jogo. Podíamos ter escrito uma história diferente. Não aconteceu. Mas o desempenho da equipa foi inexcedível", conta Manuel Tulipa. Afinal, a partida até foi mais equilibrada do que se esperava. E os transmontanos já tinham alcançado um feito antológico: antes, só Vit. Setúbal (1943), Estoril (1944), Farense (1990) e Leixões (2002) chegaram à final da Taça de Portugal vindos de fora do escalão principal.

"Não foi fácil gerir emocionalmente tudo o que se estava a passar [o clube vivia uma grave crise diretiva e financeira] mas na Taça conseguiu-se fazê-lo melhor. A equipa foi madura na fase a eliminar e nas meias-finais [a duas mãos], contra a Naval, resistiu bem e teve alguma felicidade", explica Tulipa, terceiro treinador do Chaves nessa temporada, após as saídas de Ricardo Formosinho e Nuno Pinto.

Diferentes realidades

Agora, as hipóteses de o Desportivo de Chaves repetir uma campanha surpreendente na Taça de Portugal são maiores - mesmo tendo novamente pela frente os dragões. "O FC Porto tem algum favoritismo mas [desta vez] a percentagem do Chaves é bem maior. O clube estabilizou, a organização diretiva é completamente diferente e a equipa está num bom momento, é bem liderada e exibe um estilo de jogo interessante. Fico extremamente feliz de ver como um clube tão emblemático se recompôs", elogia Tulipa.

Quanto ao FC Porto, o momento é outro: não há um onze maduro, repleto de estrelas, como aquela equipa que em 2010 venceu a Taça de Portugal. "A equipa ainda está em construção mas vai fazendo o seu trajeto", analisa Tulipa. Quem sabe até onde vai esse trajeto? Talvez este jogo sirva para lançar portistas ou transmontanos de volta para o Jamor.

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