"Não vivo com sonhos, tento aproveitar o que a vida me oferece"
No momento em que falamos estão a fazer a viagem de regresso. Como foram os festejos do primeiro troféu da história do Moreirense?
Estivemos a jantar e depois deitámo-nos um bocadinho mais tarde, cerca das 2.30. Hoje [ontem] tivemos de acordar cedo para viajar, porque há a receção na Câmara de Guimarães. Foi um dormir muito rápido.
Por pouco não estava no banco devido a problemas de ciática...
Tive de levar uma injeção para poder viajar, mas estou bem melhor do que há dois dias.
Temeu, realmente, não estar no banco durante a final?
Sim, temi, porque a minha condição só melhorou duas horas antes de arrancarmos para o estádio. Até àquela altura não tinha a perspetiva de ir.
Que significado teve a conquista da Taça da Liga para o Moreirense, em termos de afirmação do clube no panorama futebolístico nacional?
O Moreirense tem de se afirmar e ficar na I Liga. O significado passa por um feito inédito que nos enche de orgulho. Ganhámos responsabilidade, mas há a destacar a moral e a motivação que fornece de modo a mantermos o Moreirense na I Liga.
Lamenta que esta competição não dê acesso a uma prova europeia?
Nos moldes em que está não pode dar. Num quadro diferente, se der entrada direta na Liga Europa pode tornar-se mais interessante e competitiva.
Mas do ponto de vista do Moreirense seria bom jogar uma prova europeia...
Quando houver essa possibilidade os clubes olharão para a Taça da Liga com outros olhos. Nós olhámos para esta prova na desportiva; jogar o jogo pelo jogo e ir andando. Quando chegámos à final apostámos as fichas todas porque era para ganhar, era uma final. Daqui a uns anos ninguém se vai lembrar de quem esteve na final, mas sim de quem ganhou. O importante foi chegar até ali sem esperarmos muito por isso mas depois de lá estar fizemos tudo para ganhar.
O Moreirense ultrapassou FC Porto, Benfica e Sp. Braga. Qual foi o momento em que começou a acreditar que podia conquistar o troféu?
O primeiro jogo que fiz pelo Moreirense foi na Feira para a Taça da Liga. Apresentei uma equipa secundária, mas ganhámos e o FC Porto empatou com o Belenenses. A partir daí começámos a fazer contas. A seguir empatámos com o Belenenses e o Porto com o Feirense. Quando jogámos com o FC Porto vencemos 1-0 e passámos à final four, sendo que o adversário era o Benfica, o favorito a vencer a competição. Aí pensei que tinha um jogo importante com o Feirense para o campeonato nesta segunda-feira e decidi poupar alguns jogadores. Mas demos uma grande resposta na segunda parte e ganhámos. Quer dizer, aconteceu o que não esperávamos, porque não apostámos na competição para ganhar. Apostámos para competir. É na segunda parte do jogo com o Benfica que começo a acreditar e digo para mim mesmo "epá temos grandes possibilidades de ganhar esta taça, não há mais gestão, vou jogar as fichas todas para levar o troféu para casa".
Quando é campeão nacional pelo Sporting, em 1999-2000, entra com a época em andamento. Agora, no Moreirense, sucede o mesmo. Há aqui um padrão?
(risos) Entrei no Sporting em setembro... Mas isto tem que ver com o conhecimento do futebol português, dos clubes e dos jogadores, e depois tem que ver com a nossa personalidade. Não podemos chegar a um clube com um esquema na cabeça. É preciso conhecer os jogadores para definirmos um modelo, se não andamos ali às apalpadelas. Temos de ver o perfil dos atletas e adotar o sistema ideal para que se sintam confortáveis. Foi o que aconteceu... e depois entrou um jogador, o Fernando Alexandre, que veio acrescentar qualidade e muita coisa à equipa.
Foi campeão no Sporting, um marco incontornável, mas agora venceu a Taça da Liga pelo Moreirense. Qual dos troféus lhe toca mais?
Não se pode comparar um campeonato que não se vencia há 18 anos com um troféu inédito para o Moreirense. Se me perguntar "gostaste mais de uma ou da outra?", eu respondo que gostei das duas. São duas conquistas marcantes e inesquecíveis, cada uma no seu tempo. Muito feliz pelo título nacional do Sporting e também muito, muito feliz por o Moreirense ter conquistado algo que nunca tinha conquistado na sua vida.
Este triunfo pode revitalizar a sua carreira de treinador...
Há três anos dediquei-me à causa Sporting, defendi uma missão, a missão terminou e deu-se o reinício da minha carreira de treinador... mas isso não quer dizer que amanhã não esteja noutra posição porque eu vivo o dia-a-dia. Não vivo com sonhos, vivo o que a vida me oferece e tento aproveitar isso.
Mas confidencie-nos lá, o presidente já lhe propôs a renovação?
(risos) Não, não, não, estamos em janeiro, o campeonato é até maio. Há muito trabalho pela frente para mantermos o Moreirense na I Liga. Depois logo se vê o que se vai passar.
Bruno de Carvalho e Jorge Jesus deram-lhe os parabéns?
Passei um bocado da noite a responder a mensagens. Foram quase 500 e entre elas estava lá muita gente do Sporting, do presidente e do treinador do Sporting. Tanta gente, tanta gente a dar os parabéns a mim e à equipa... enaltecer um ou outro não era justo para tanta gente, mas claramente estavam lá Bruno de Carvalho e Jorge Jesus.
Não quer falar do jogo com o Benfica, mas pode esclarecer se trocou cumprimentos com Rui Costa e Rui Vitória antes da partida?
Não quero voltar ao tema, mas eu e Rui Vitória nunca nos cumprimentámos, quem me cumprimentou foi o Rui Costa.
No início do jogo não houve então qualquer cumprimento com Rui Vitória?
Não, não. Com o Rui Costa sim, com o Rui Vitória não.