"Deixei marca em Portugal. Não era qualquer um que substituía o Jardel"
"Ainda hoje revejo em vídeo os meus golos no FC Porto e no Sp. Braga para mostrar aos meus filhos. Só na minha estreia com o Paços de Ferreira fiz logo dois. Vivi grandes momentos em Portugal que jamais esquecerei". Palavras de Renivaldo Pereira de Jesus, o avançado brasileiro conhecido por Pena, que chegou ao Dragão na temporada 2000/01 com a difícil missão de fazer esquecer Mário Jardel e que logo no primeiro ano foi o melhor marcador do campeonato. Em Portu-gal representou ainda o Sp. Braga (2003/04 por empréstimo dos portistas) e o Marítimo (2004/05).
Sp. Braga e FC Porto defrontam-se hoje na Pedreira, dois clubes que durante vários anos mantiveram excelentes relações - com Pinto da Costa e António Salvador nas respetivas presidências -, traduzidas em constantes trocas de jogadores (ver texto e tabela ao lado). Pena foi o primeiro futebolista no consulado dos dois presidentes a trocar de um clube para o outro, mas hoje admite que vai ter "o coração dividido". "É difícil escolher entre um e outro. Só posso dizer que sempre que FC Porto, Sp. Braga e Marítimo jogam, torço por eles. Quando jogam entre si fico meio dividido", disse ao DN, lembrando que viveu grandes momentos ao serviço dos portistas, mas que guarda um grande carinho pelo Sp. Braga... até porque foi naquela cidade que nasceu o seu primeiro filho, hoje com 13 anos.
"Acho que deixei a minha marca no futebol português. Logo no meu primeiro ano no FC Porto fui o melhor marcador do campeonato português... e repare que tinha a responsabilidade de substituir o Mário Jardel [o brasileiro transferiu-se para o Galatasaray e tinha sido o melhor goleador em Portugal nos quatro anos anteriores]. Não era qualquer um que o substituía por tudo o que ele fez. Não tive dificuldades de adaptação e ainda hoje sou o jogador do clube que teve um melhor arranque [seis golos nos primeiros quatro jogos de campeonato]. Só por isso acho que mereço ser recordado. Não era qualquer um que chegava a um clube daquela dimensão e fazia o que eu fiz. O tempo não apaga a história", disse ao DN.
Se a primeira época no FC Porto foi de sonho - além do título de melhor marcador do campeonato (com 22 golos) venceu ainda a Taça de Portugal e Supertaça -, a segunda nem chegou a iniciar, pois foi cedido ao Estrasburgo, de França. "É uma mágoa que ainda tenho: não ter trabalhado mais tempo com o José Mourinho, que veio a tornar--se um dos melhores treinadores do mundo. Mas naquele início de época [2002/03] aconteceram vários episódios que me deixaram triste e optei por sair. Na pré-época lembro-me que marquei muitos golos... mas tinha uma pubalgia muito grave e andavam a dizer que eu só queria noitadas. Devo dizer que nessa altura até estive para ser chamado à seleção brasileira pelo Scolari. Mas a lesão estragou-me os planos", recordou, ele que acabou cedido ao Estrasburgo, de França, até ao final da temporada.
Pena voltou ao futebol português em 2003, cedido pelo FC Porto ao Sp. Braga. "É outro clube do qual guardo boas recordações. O Sp. Braga é um bom exemplo de uma equipa que cresceu, muito devido ao grande trabalho do presidente António Salvador. Hoje o clube é um dos grandes do futebol português e é respeitado na Europa", lembra.
Elogios aos presidentes
Dos dois presidentes - Pinto da Costa e António Salvador - guarda as melhores recordações possíveis: "Dois grandes senhores! Eram não só dois grandes gestores, como pais na hora de elogiar e cobrar. Pinto da Costa tinha mais experiência, assistia aos treinos, era muito próximo dos jogadores, sempre com uma palavra para nós. António Salvador estava a dar os primeiros passos, mas já se percebia que levava jeito. A melhor prova é comparar o que era o Sp. Braga na altura e o que é agora, um clube respeitado até internacionalmente."
Pena ainda hoje tem um apartamento em Braga, cidade onde nasceu o filho mais velho, mas desde que deixou o Marítimo, em 2005, nunca mais voltou ao nosso país. "Falta de oportunidade, talvez. Deixei muitos amigos por aí, ainda hoje falo com o Chainho de vez em quando, que me vai dando novidades dos clubes que representei. O resto vou acompanhando pelas redes sociais e pelos jornais online. Tenho de voltar, já prometi isso ao meu filho, quero mostrar -lhe a cidade onde nasceu. Sabe, ele torce por Portugal. Mesmo que seja um Brasil-Portugal, ele torce por vocês", garantiu, confidenciado que ele e o filho choraram quando Portugal se sagrou campeão da Europa em 2016: "Puxa... foi muita emoção muito grande. Quando vi o Cristiano Ronaldo lesionar-se até as lágrimas me vieram aos olhos. Depois aquele rapaz, o Éder, marcou aquele golão... foi uma alegria tremenda aqui em casa."
Renivaldo Pereira de Jesus, hoje com 41 anos, vive em Vitória da Conquista, no estado da Bahia. "Estou ligado ao futebol, sim. Tenho uma escolinha de futebol, o centro de Formação de Moriá, e trabalho com miúdos dos 6 aos 15 anos. A ideia é fazer uma parceria com um grande clube. Quem sabe se com o FC Porto, Sp. Braga ou o Marítimo, as equipas que representei aí em Portugal? Não quero associar-me a um clube qualquer. Quero fazer deste projeto uma coisa grande, formar jogadores que possam vir a ser grandes talentos", disse, expressando um desejo: "Gostava que um dia os meus filhos jogassem em Portugal."