Um Hazard nunca vem só e a sorte bateu no poste. Portugal cai nos oitavos de final
Um golo de Thorgen Hazard, perto do intervalo, chegou para a Bélgica afastar Portugal e os campeões em título regressam a casa nos oitavos de final. Bastou um remate enquadrado para os homens de Roberto Martínez seguirem em frente, numa partida que começou morna mas acabou frenética e onde Fernando Santos arriscou tudo. Mas a falta de eficácia em frente à baliza de Courtois acabou por ter o seu preço - com 24 remates, cinco enquadrados, desta vez a equipa das quinas não teve a felicidade que perseguiu até ao derradeiro apito. O diabo está dos destalhes e, desta vez, o detalhe maior não caiu para o lado das quinas.
Com uma temperatura perto dos 30 graus em Sevilha, Fernando Santos mudou duas peças em relação ao onze que defrontou a França. No lado direito, Nélson Semedo cedeu o seu lugar a Diogo Dalot, enquanto Danilo foi substituído por João Palhinha - duas estreias como titulares no lugar que já tinham rendido, devido a problemas físicos, na partida da última jornada da fase de grupos. No lado belga, Roberto Martínez fez uma mistura entre os onzes que escolheu nos últimos jogos, com uma defesa a três (e mais de 100 anos no conjunto), Witsel no meio-campo e Eden Hazard à esquerda. Kevin de Bruyne iniciou o encontro numa posição mais central, com o lateral Meunier a surgir mais adiantado à direita.
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O confronto entre os números 1 e 5 do ranking FIFA, que tinham empatado a zero no último encontro em 2018 - que contou com os mesmos técnicos e dez jogadores que este domingo estiveram nos onzes de La Cartuja -, começou sob o signo do equilíbrio e da precaução, com as duas equipas muito cautelosas na posse de bola e concentradas sem ela. Ainda assim, Portugal dispôs de uma ocasião para inaugurar o marcador, aos seis minutos, quando Renato Sanches roubou a bola aos belgas e solicitou Diogo Jota na esquerda: o extremo do Liverpool, com espaço, avançou para a área mas o remate saiu-lhe fraco e torto, sem perigo para Courtois.
Os diabos vermelhos gozaram então de algum ascendente com bola mas a equipa de Fernando Santos foi defendendo sempre bem - parecendo ter aprendido a lição alemã - e começou, aos poucos, a ganhar algum protagonismo no jogo. Sanches voltou a tentar de longe sem sucesso e um livre de Cristiano Ronaldo obrigou o guarda-redes belga a mostrar as suas capacidades, com Palhinha a não conseguir fazer a recarga.
Com mais bola, mas dificuldades em ganhar vantagem no último terço, Portugal foi vendo a Bélgica "sair da casca". Lukaku, numa transição rápida, chegou perto da área portuguesa mesmo agarrado por João Palhinha, e, no mesmo minuto (37), Meunier tentou imitar um golo famoso de Quaresma aos belgas, mas a sua trivela não teve o mesmo grau de perfeição e a bola saiu por cima.
Quando tudo parecia encaminhar-se para um justo nulo ao intervalo, a Bélgica mostrou por que razão é um adversário temível e chegou mesmo à vantagem, num lance em que Bernardo Silva, primeiro, e Rui Patrício, depois, não ficaram bem na fotografia. É que, se Eden Hazard é bom mas está a pagar uma época apagada e onde pouco jogou, o seu irmão também não é nada mau e conseguiu aproveitar o espaço dado pelo extremo do City para desferir um remate em que a bola ganhou um efeito estranho e adverso e traiu o guarda-redes português. Foi o segundo golo do lateral esquerdo na prova.
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Mesmo tendo rematado mais, Portugal viu-se primeiro em desvantagem, algo que já não sucedia há cinco jogos, desde a prova de 2016, perante a Polónia - numa partida em que curiosamente o árbitro também foi o alemão Felix Brych, o qual ainda antes do intervalo mostrou um amarelo a João Palhinha após uma entrada sobre De Bruyne em mais uma saída rápida dos belgas.
Apesar de ter voltado para a segunda parte, o craque belga não aguentou muito mais e foi logo substituído por Maertens. Já com Bruno Fernandes e João Félix, Portugal atirou-se para o ataque, foi criando lances junto à área belga, mas nisto a experiência é um posto e os "dinossauros" da equipa da Martínez foram conseguindo quase sempre afastar o perigo.
Ainda assim, em três ocasiões, Portugal esteve perto do empate. Primeiro num belo entendimento no ataque português, concluído pelo desinspirado Diogo Jota com um remate sobre a trave (58'); depois num canto, em que a cabeçada fulgurante de Rúben Dias saiu na direção de Courtois (82'); e por fim, num remate de primeira de Raphaël Guerreiro que esbarrou no poste, com o guarda-redes belga batido (83').
Por esta altura, já Fernando Santos colocara a "carne toda no assador". Entrara André Silva para a frente de ataque e Danilo para a defesa, com a equipa a jogar com três centrais - e muitas vezes com dois, uma vez que Pepe ainda subiu no terreno nos minutos finais -, e os laterais muito subidos. Mas ontem não era o dia e com o aproximar do final, a equipa foi perdendo lucidez, envolvendo-se em quezílias desnecessárias que só beneficiavam quem estava em vantagem. Com o apito final caiu a esperança na renovação de um título que, verdadeiramente, se começou logo a complicar no sorteio da fase final. Defrontar, de seguida, Alemanha, França e depois a Bélgica - o caminho para Wembley ainda teria Itália e Espanha ou novamente a França - era logo à partida uma missão complicada. Não foi possível e não há vitórias morais mas Portugal caiu de pé e acabou por ser eliminado de forma inglória. Daqui a ano e meio, no Qatar, há mais uma hipótese de redenção para aquilo que não correu bem neste ano.