Duarte Gomes, diretor técnico do Conselho de Arbitragem, acompanhado pelo presidente Luciano Gonçalves
Duarte Gomes, diretor técnico do Conselho de Arbitragem, acompanhado pelo presidente Luciano GonçalvesMIGUEL A. LOPES/LUSA

Conselho de Arbitragem defende regulamentos disciplinares mais duros e rejeita "jarras" para os árbitros

Luciano Gonçalves e Duarte Gomes, do Conselho de Arbitragem da FPF, garantem transparência, admitem erros e pedem mais proteção disciplinar para os árbitros face às pressões dos últimos tempos.
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Após uma sucessão de fins de semana marcados por críticas intensas às arbitragens, o Conselho de Arbitragem (CA) da Federação Portuguesa de Futebol resolveu vir a público, numa conferência de imprensa traçar o balanço das primeiras dez jornadas do campeonato e passar uma mensagem de firmeza: os regulamentos disciplinares “devem ser mais punitivos” face às crescentes pressões sobre os árbitros, defenderam o presidente Luciano Gonçalves e o diretor técnico Duarte Gomes.

“Todos concordamos que os nossos regulamentos disciplinares deviam ser mais punitivos”, afirmou Luciano Gonçalves. “Se essa é a via para que certos episódios deixem de acontecer, tem de ser esse o caminho. A APAF apresentará à Liga uma proposta de alteração. Esperamos que os clubes e a Federação estejam sensíveis a isso.”

A posição surge após incidentes recentes a envolver jogos de FC Porto, Sporting e Benfica, que reacenderam o debate sobre coação e respeito pela arbitragem.

 “Aqui ninguém rebenta ninguém”

Luciano Gonçalves garantiu que o CA não cederá a pressões externas nem fará “jarras”, isto é, afastamentos simbólicos de árbitros.

“Com este Conselho de Arbitragem não vai haver jarras. Jarras são para flores”, ironizou o presidente. “Se um árbitro não for nomeado, é por questões de gestão, de responsabilização, ou até para o proteger da exposição, nunca por pressão exterior.”

O dirigente sublinhou ainda que nenhum árbitro será punido por pressão de qualquer clube ou pressão mediática. “Aqui ninguém rebenta ninguém”, disse, numa alusão à frase com que o diretor-desportivo do Benfica, Mário Branco, terá ameaçado o árbitro Gustavo Correia no final do jogo com o Casa Pia, segundo o relatório do próprio juiz divulgado pelo jornal Record. “Se um árbitro descer de divisão, será por desempenho, nunca por interferência de quem quer que seja.”

Duarte Gomes: “Não há Maradonas na arbitragem”

Duarte Gomes apresentou números e explicações técnicas sobre o trabalho dos árbitros e o funcionamento do VAR. Segundo o diretor técnico, nos primeiros 90 jogos da 1.ª Liga houve 40 intervenções do videoárbitro, com uma taxa de acerto de 97%.

“Não há Maradonas na arbitragem”, resumiu. Porque é que os árbitros erram? “Por desconcentração, posicionamento, dificuldade do lance ou até por sermos enganados, muitas vezes. Mas tudo se trabalha. O erro é estudado, avaliado e corrigido.”

O responsável sublinhou o investimento em formação e treino, e garantiu que os árbitros “são responsabilizados quando erram”, embora muitas vezes, disse, “a ausência de nomeação sirva apenas como forma de proteção”. “Um erro tem impacto até familiar. Às vezes é mais sensato proteger do que castigar”, reconheceu.

 “Preferimos isto à lei da rolha”

Perante a contestação pública de dirigentes e treinadores, Duarte Gomes defendeu a abertura do CA e a aposta na transparência: “Preferimos isto ao cinzentismo da lei da rolha. Não nos escondemos do ruído exterior. Aprendemos com a crítica construtiva, ignoramos o resto.”

E assegurou que o CA quer continuar a comunicar regularmente com o público e a imprensa, através de conferências e programas televisivos de análise de lances, mantendo o compromisso de “clareza e prestação de contas”.

Próximo passo: Plano Nacional de Arbitragem

Luciano Gonçalves anunciou ainda que, em janeiro, será apresentado o Plano Nacional de Arbitragem, um projeto a 12 anos que pretende “triplicar o número de árbitros” em Portugal e definir uma estratégia comum “da base ao topo”.

“Temos de criar condições para que os jovens queiram ser árbitros e respeitar o futebol. Só assim poderemos crescer.”

 “Não vamos vacilar, independentemente das tempestades”, concluiu Duarte Gomes. “A arbitragem portuguesa está no caminho certo — mas precisa de ser respeitada.”

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