Considera-se um “cidadão honorário” de Portugal pelas tantas vezes que já visitou o país desde a primeira viagem, em 1990, para surfar, mas reconhece ainda sentir o incómodo da água do mar um pouco mais “fria” do que no Brasil, “ainda mais no norte”. Júlio Adler, um dos mais influentes nomes do jornalismo especializado em surf, está mais uma vez em solo português para participar na primeira edição do Norte Surf Fest, que arranca hoje nas praias do Porto e Matosinhos..Em conversa com o DN, o jornalista antecipa o tema da sua intervenção como orador no evento, que vai trazer um contexto da atualidade do surf pelo mundo. Se, no passado, Estados Unidos, Austrália e África do Sul lideravam tudo o que era possível nesta modalidade, Adler garante que vai “contar um pouquinho sobre como é que o Brasil e Portugal entraram nesse clube, quase exclusivo, de países que falam inglês”..Júlio Adler, jornalista e podcaster. FOTO: Arquivo..Do lado de lá do Atlântico, o marco é o ano de 2014, quando Gabriel Medina se sagrou Campeão Mundial no Havai. “Esse foi o grande ‘pé na porta’ do surf brasileiro para se consolidar de vez como potência. Desde o primeiro ano do circuito profissional, em 1976, já existia a etapa no Rio de Janeiro, e as duas primeiras foram vencidas por surfistas cariocas”, explica Adler, lembrando que os surfistas brasileiros já estavam entre os melhores do mundo, mas faltava-lhes consistência..Já do lado de cá, Portugal “foi sempre um destino muito procurado, principalmente pelos australianos que viajavam pela Europa”. O primeiro passo para romper a barreira anglófona veio em 1989, com uma etapa na Ericeira no circuito mundial, o pessoal ficou chocado, não fazia ideia do quão bom ficava o mar”, completa. O país encontra o caminho para a elite mundial do surf em 2006, quando Tiago ‘Saca’ Pires se qualificou para uma etapa mundial. “Era considerado um feito impossível, quase ‘um homem na lua’ para o surf português”, conta o jornalista..No mar e na terra.Atualmente, a trajetória destas duas nações da lusofonia é de sucesso crescente. O brasileiro Gabriel Medina ostenta o feito de ser Tricampeão Mundial no circuito da World Surf League (WSL), a Liga Mundial de Surf, tendo repetido a conquista em 2018 e 2021. “O Brasil hoje domina completamente a competição do surf profissional masculino, com Gabriel Medina, Ítalo Ferreira, Felipe Toledo e Iago Dora..Nos últimos dez anos, sete títulos foram para o Brasil”, destaca Júlio Adler, a completar que “Portugal conquistou, na vertente da organização da WSL, um lugar parecido com o que o Brasil conquistou no lado competitivo”. Para este especialista, o resultado passa pela gestão do português Francisco Spínola como diretor-geral da WSL para a Europa, Médio Oriente e África, que é “possivelmente o braço mais importante da Liga”..A consolidação dos dois países como referências no surf profissional reflete-se no percurso desta modalidade e “só tem a crescer”, na avaliação do especialista. “Alguns técnicos estrangeiros preferem vir ao Brasil para saber ‘que diabo’ está a acontecer para sair tanto surfista campeão. E Portugal tem uma grande cultura de técnicos de surf, de escolinhas. O Turismo de Portugal tem uma atenção enorme à modalidade e isso faz toda a diferença”, completa..Novo festival.A participação de Júlio Adler será na Surf Talks, o espaço de debate do Norte Surf Fest, com bilhetes a 25 euros. É a única atividade paga do festival, que pretende ser um “evento ligado ao surf, claro, mas com outro aspeto, mais social, mais educativo”, explica Alessandro Rodrigues, um dos organizadores, ao DN..A programação conta com ações para a retirada de lixo da areia das praias, aulas de salvamento no mar, competição entre escolas de surf..Alessandro Rodrigues, surfista e organizador de eventos. FOTO: Arquivo..Brasileiro residente em Portugal há mais de 40 anos, Alessandro é ex-surfista profissional..Atualmente, é um dos principais mobilizadores deste desporto na cena nacional. Será ele a coordenar uma das empreitadas mais ousadas do evento, a tentativa de quebrar o recorde de maior número de surfistas a apanhar a mesma onda. O registo atual é de 2009, com 110 profissionais na Cidade do Cabo, na África do Sul..A perspetiva “é boa” diz Alessandro, que convida todos para assistir à beleza e descontração de mais um passo de sucesso no surf a unir Brasil e Portugal..caroline.ribeiro@dn.pt