Boavista-FC Porto: um clássico sem a chama de outrora

Veja a infografia interativa. Dérbi portuense reedita-se hoje, sem a carga emocional das décadas passadas. "Era uma rivalidade tremenda, agora nem tanto", dizem Tiago e Tavares, que vestiram ambas as camisolas

"A mística não é a mesma do meu tempo", lamenta Tavares. "Antes era uma rivalidade tremenda, agora nem tanto", anui Tiago. O clássico Boavista-FC Porto, que hoje se reedita, no Estádio do Bessa (20.30, Sport TV1), para a 10.ª jornada da I Liga, está distante da carga emocional de outrora. Mas, na memória de quem vestiu ambas as camisolas, resistem as lembranças do que torna(va) especial o dérbi portuense.

Em abril de 2007, da última vez que o Boavista ganhou ao FC Porto (2-1, no Bessa), havia 12 portugueses em campo e metade (Bosingwa, Ricardo Costa, Raul Meireles, Ricardo Silva, Mário Silva e Tiago) já tinha passado por ambos os clubes. Esse jogo foi, de certa maneira, o fim de uma era - o tempo em que a rivalidade do dérbi portuense era sentida mais à flor da pele, com muitos jogadores da cidade ou da região, que (com ou sem ressentimentos) ali encontravam um palco preferencial de afirmação contra a ex-equipa.

Agora, com o Boavista longe de ombrear com o FC Porto (como fizera a espaços entre as décadas de 1970 e 2000) e a recuperar da queda nas divisões secundárias entre 2008 e 2014, o dérbi parece distante da chama e da imprevisibilidade de antigamente. "Infelizmente, a maioria dos clubes perderam a mística. Antes, tinham meia dúzia de referências [no balneário] que incutiam aos jogadores a intensidade e todos os pormenores de um jogo como este", nota Tiago, que representou o FC Porto de 2002 a 2004 e o Boavista de 2004 a 2007. "No meu tempo, essa mística funcionava: era muito difícil o FC Porto ganhar ao Boavista. Agora, a rivalidade existe na mesma (existe sempre), mas há uma diferença grande entre as duas equipas", explica, por sua vez, Tavares, que jogou pelos dragões em 1990-91 e pelos axadrezados de 1991 a 1994 e de 1995 a 1998.

Então, o clássico da Invicta era uma daquelas partidas especiais, que até pareciam valer mais do que três pontos. "Naquela altura, sócios, simpatizantes e jogadores, vivíamos estes jogos de uma forma diferente", recorda Tiago.

No FC Porto, o dérbi não era encarado com a mesma intensidade, "mas tínhamos noção de que as pessoas viviam muito esse jogo, mais de parte do Boavista, e de que nunca era fácil, ainda para mais quando era jogado no Bessa", acrescenta o antigo médio. "Deixávamos tudo em campo nestas partidas. Eu saí com mágoa do FC Porto - fui dado como incapacitado para o futebol (devido uma lesão grave no menisco) e, depois disso, joguei mais 11 anos - mas não era só por isso que dava tudo nestes jogos", sublinha Tavares, também ex-centrocampista.

Com a rivalidade ao rubro, os jogos eram intensos, quezilentos, e não raras vezes acabavam com expulsões. Tavares lembra o duelo de dezembro de 1993 (1-1 no Bessa), em que viu o cartão vermelho, "só porque estava a separar o Paulinho Santos do Nelo, pois eles estavam pegados" - do lado azul e branco, José Carlos, Rui Jorge e Paulinho também não acabaram o jogo. Essa é uma "má memória", que Tavares contrapõe às boas - uma Taça de Portugal (1992) e duas Supertaças (1992 e 1997) ganhas ao arquirrival da Invicta. "Na Supertaça de 1992, tínhamos ganho nas Antas, por 1-2, mas estávamos a perder no Bessa, nos minutos finais, por 0-2, até que eu marquei (79") e o Marlon Brandão (81") fez o empate, que nos deu o troféu", recorda.

Para Tiago, "o jogo mais marcante" foi a última vitória do Boavista no clássico, em abril de 2007 - 2-1, com golos de Ricardo Silva, Lucho e Zé Manuel (desde então passaram-se nove encontros, com sete triunfos do FC Porto e dois empates). "Foi uma vitória memorável. Fizemos uma exibição muito boa. Orgulho--me de ter estado presente", diz o antigo jogador, lembrando que "apesar de nessa altura haver muitos jogadores de ambas as equipas que tinham trocado de emblema, havia uma rivalidade saudável" em torno da partida.

Tiago, que viveu momentos ainda mais lendários no FC Porto (incluindo a conquista da Taça UEFA, em 2003), não consegue apontar um favorito à vitória no dérbi de hoje: "Representei os dois clubes, fui feliz e muito acarinhado em ambos. Desejo é que seja um bom jogo." E Tavares, mesmo tendo um lado preferido, também não atribui a vitória: "O FC Porto pode ter supremacia, mas vai precisar de trabalhar bastante e, se não marcar cedo. vai passar por muitas dificuldades."

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