Desporto
18 agosto 2022 às 22h09

Aí está a Vuelta. João Almeida é chefe de fila mas recusa favoritismo

A última grande prova da época arranca esta sexta-feira. Roglic vai tentar vencer a quarta Volta a Espanha consecutiva. O português vai estrear-se, mas avisa que não se sente com "superpernas".

Rui Miguel Godinho

A 77.ª edição da Volta a Espanha em bicicleta sai esta sexta-feira para a estrada. Durante 21 dias (de 19 de agosto a 11 de setembro), o pelotão vai percorrer as estradas espanholas - e não só - na última grande competição de ciclismo de estrada da temporada. O português João Almeida, de 24 anos, estreia-se na prova e logo como chefe de fila da UAE-Team Emirates, rendendo o esloveno Tadej Pogacar.

Apesar de a temporada não estar a correr bem, pois teve de abandonar o Giro de Itália devido à covid-19, quando estava nos lugares cimeiros, João Almeida inicia a Vuelta com a motivação de ter ganho a última etapa da Volta a Burgos, prova em que ficou em segundo lugar da geral. Já tendo mostrado o que vale em provas curtas, o jovem ciclista português sonha com um triunfo numa grande volta, tendo até ao momento como melhor resultado um quarto lugar no Giro de 2020.

João Almeida já veio entretanto deixar entender que ainda não será desta, uma vez que, na conferência de imprensa antes do arranque da Vuelta, o ciclista das Caldas da Rainha afirmou estar pronto "para lutar pela geral", mas avisou: "Não me tenho sentido com superpernas, mas vou tentar tudo, vou dar o máximo. Não tenho expectativas ou um grande objetivo, como fazer pódio, mas vou dar tudo o que tenho". Almeida lembrou ainda que "faz parte do ciclismo" não estar sempre no topo de forma, embora tenha assumido estar "muito entusiasmado para começar" a Vuelta.

Num pelotão de 176 ciclistas, Nélson Oliveira (Movistar) e Ivo Oliveira (UAE Team Emirates) completam o lote de portugueses em prova. Mas tendo, à partida, João Almeida recusado o papel de favorito à conquista da Vuelta, apesar de não poder ser totalmente descartado do lote de candidatos à vitória, os principais favoritos ao triunfo estarão noutras equipas.

O principal favorito será o esloveno Primoz Roglic (Jumbo-Visma), que procura o feito inédito de vencer a prova em quatro anos consecutivos. Tendo desistido do Tour ainda numa fase inicial da prova - por lesão e para se preparar para a Volta a Espanha -, o ciclista esloveno é apontado como o principal alvo a abater, ainda que a condição física possa não ser a ideal. "Com a ausência de Pogacar, Roglic é o principal favorito. É um ciclista forte em praticamente todo o tipo de etapas", considera Alberto Contador, em declarações ao DN.

Já o belga Remco Evenepoel (Quick-Step Alpha Vinyl) está na mesma situação de João Almeida: já mostrou ser forte em clássicas de um dia e provas de uma semana (incluindo a Volta ao Algarve), mas ainda não conseguiu ganhar uma grande volta. Segundo Contador, ex-ciclista espanhol e agora comentador da Eurosport, Evenepoel "estará mais focado em ganhar etapas do que propriamente a apontar a um triunfo na geral".

Richard Carapaz (Ineos-Grenadiers) estará também em prova e, tendo em conta o perfil desta edição da Vuelta com sete etapas de montanha e duas chegadas em alto, não será de descartar que lute pela camisola vermelha (símbolo de líder). Este ano, o equatoriano - que pode ter na Vuelta a última grande volta pela Ineos - esteve até à reta final do Giro na liderança, tendo perdido a camisola rosa para Jai Hindley (Bora-Hansgrohe), outro dos favoritos à conquista da Vuelta, e deverá querer a desforra.

Alberto Contador coloca outro nome na equação: Simon Yates, que conquistou a Vuelta em 2018. "Sabe o que é vencer a competição e, ao lado de Carapaz, serão os dois principais rivais de Roglic", aponta.

À semelhança do que aconteceu com a Volta a França (que saiu da Dinamarca) e da Volta a Itália (que arrancou na Hungria), a partida desta edição da Volta a Espanha acontece no estrangeiro, com os Países Baixos a serem palco das primeiras três etapas.

E as novidades surgem logo no arranque, com um contrarrelógio por equipas, algo que não tem acontecido nas últimas edições da Vuelta. Seguem-se duas etapas com chegada ao sprint, praticamente planas. O primeiro dia de descanso (22 de agosto) coincide precisamente com a entrada em solo espanhol. No País Basco, onde começa a quarta etapa, haverá uma prova de média montanha, que pode permitir o triunfo de quem se envolver numa fuga. Com mais de cem quilómetros de extensão, a tirada que liga Vitória-Gasteiz a Laguardia tem duas contagens de montanha (uma de segunda e outra de terceira categoria na reta final). Além disso, explica Contador, "há cinco novos finais, que acabam por influenciar as etapas seguintes". "À partida, os dias teoricamente mais duros podem ser mais calmos do que se pensa e, ao mesmo tempo, os dias mais calmos podem acabar por complicar tudo."

Com uma primeira semana muito exigente (a maior parte das etapas são em média ou alta montanha) no norte de Espanha, o segundo dia de descanso faz-se a sul, em Alicante, antes de um contrarrelógio individual de 30 quilómetros, que parte de Elche. Dois dias depois aparece a primeira chegada em alto, em Estepona, numa etapa maioritariamente plana mas com uma subida final muito acentuada.

O segundo final em altura acontece já a quatro dias de terminar a Volta e antes de três etapas seguidas de montanha, que começam em Trujillo, Talavera de la Reina e Moralzarzal. Como normalmente acontece, a 21.ª e última etapa deverá servir como consagração na chegada a Madrid.

rui.godinho@dn.pt