Argentina continua a ser um fardo pesado para Messi
Realizador de cinema nos tempos livres, Hannes Halldorsson ganhou ontem um momento alto para quando quiser contar em filme a carreira improvável de um guarda-redes islandês. A dele. Na estreia num campeonato do mundo, aos 34 anos, Halldorsson não se deixou vencer pela romanceada angústia de um guarda-redes na altura do penálti,nem tão pouco pelo facto de o marcador ser um tal de Lionel Messi, e segurou, aos 64 minutos, o empate (1-1) que garantiu um ponto histórico para a seleção do mais pequeno país alguma vez presente num Mundial.
No filme de Halldorsson, Messi não passará de um ator secundário, ou um mero figurante até. É compreensível. O que continua a ser difícil de compreender é o bloqueio que afeta o capitão e a seleção da Argentina a cada grande competição. Ou se calhar nem é tão difícil assim. A verdade é que os traumas históricos de uma seleção ainda órfã do sucesso vivido na eufórica era de Diego Maradona (já lá vão 30 anos, sim) continuam a ser um fardo demasiado pesado para Lionel Messi. Um fardo que o craque do Barcelona voltou a sentir ontem, quando teve nos pés a oportunidade de resolver o jogo frente à Islândia.
No dia seguinte a ter visto o arquirrival Cristiano Ronaldo assinar a primeira exibição de gala deste Mundial, com o hat-trick à Espanha, Lionel Messi esvaneceu-se na marca de penálti.
Ao contrário de Ronaldo também - com quem as "irritantes" comparações se tornaram uma constante inevitável ao longo do trajeto paralelo de ambos no futebol mundial -, Messi ainda não conseguiu libertar-se da pressão opressora para conquistar um título internacional senior pela sua seleção. E isso nota-se a cada jogo da seleção alviceleste. Até porque, convenhamos, a Argentina pouco faz para desfazer esse fardo.
Esta versão concebida pelo atual selecionador Jorge Sampaoli para a estreia no Mundial foi um tortura de ineficácia contra o sólido muro islandês. Agarrada a um jogo de tabelinhas, de pé para pé, pela zona central, numa lentidão de processos exasperante, a Argentina parecia uma criança a tentar esburacar um muro com uma colher. Pouco mais do que inofensiva.
A fórmula podia facilmente ser resumida num daqueles slogans cómicos estampados em t"shirts de ocasião. Tática da Argentina? Dar a bola a Messi (muito recuado para ter bola) e esperar que ele descubra uma solução (uma linha de passe, um espaço para furar com bola, ou um qualquer rasgo de génio...); se não resultar, voltar ao início e tentar de novo. Não resultou. Mesmo se Aguero ainda deu a ilusão de felicidade, ao inventar um belo golo com um trabalho de área irrepreensível, aos 19". Mas a Argentina não é só ineficaz na criação. É-o também lá atrás. E disso se aproveitou a Islândia para rapidamente restabelecer o empate, por Finnbogason, a aproveitar a mediocridade de Caballero.
Depois da brilhante apresentação no Europeu de 2016, a Islândia continua a alimentar o seu encantamento recente com o futebol. A Argentina, essa alimenta os seus fantasmas. E os de Lionel Messi.
Acompanhe o resultado e as estatísticas dos jogos deste sábado clicando no gráfico que se segue.
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