A inexperiente Guiné-Bissau quer seguir exemplo de Portugal

Dos 23 eleitos, a grande maioria dos guineenses joga em divisões secundárias de Portugal. São a única seleção dos PALOP presente e sonham alto, apesar de se estrearem na prova
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Contra todas as expectativas, a Guiné-Bissau qualificou-se pela primeira vez para a Taça das Nações Africanas (CAN), cuja 31.ª edição arranca amanhã no Gabão. Foi a única seleção dos PALOP a consegui-lo e, apesar do modesto 68.º lugar no ranking da FIFA, a confiança dos guineenses é enorme. A equipa africana tem a grande curiosidade de ser composta na sua grande maioria por jogadores que atuam em escalões secundários, mais de metade em Portugal (13). Mas nem isso retira esperança aos djurtus, como são conhecidos, que veem o exemplo de Portugal no Europeu para sonharem alto.

Dos eleitos do selecionador Baciro Candé, 13 jogam em Portugal, mas apenas Abel Camará, do Belenenses, João Mário, Desp. Chaves, e Candé, Tondela, disputam a principal Liga, os restantes dez estão espalhados pela II Liga e campeonato de Portugal. O DN falou com Juary, jogador que chegou a passar pela formação do Sporting e que agora disputa a Série F do Campeonato de Portugal ao serviço do Mafra. O médio admite que há menos experiência a alto nível na sua equipa, mas diz que a vontade de fazer boa figura "é igual ou maior" à dos principais candidatos.

"Sabemos das dificuldades, até porque não temos muita experiência em competições deste nível. Mas o trabalho que fizemos durante a fase de apuramento dá--nos a confiança suficiente para pensarmos que podemos fazer um grande trabalho. A nossa vontade é igual ou maior do que a dos principais candidatos. Temos uma nação para defender", referiu.

Juary comentou ainda as diferenças entre defrontar jogadores de divisões secundárias, como no Mafra, ou ter pela frente, por exemplo, estrelas como Aubameyang, avançado do Borussia Dortmund e do Gabão, primeiro adversário da Guiné-Bissau já amanhã. "É claro que ele é um jogador de top mundial, mas há grandes futebolistas nos escalões inferiores, seja em Portugal seja por todo o mundo. Será difícil, mas jogamos sempre da mesma forma e com a mesma vontade contra Aubameyang ou outro qualquer. Não é por a grande maioria dos jogadores da Guiné--Bissau jogarem em escalões inferiores em Portugal que deixam de ser bons. Há grandes futebolistas e grandes equipas neste nível", salientou. Um dos jogadores com mais experiência nesta seleção guineense é o capitão Bocundji Ca, que fez carreira em França, tendo jogado na Ligue 1. Atualmente, está no segundo escalão gaulês, no Stade de Reims, e ao DN destacou "o enorme espírito" dentro do grupo.

"É a primeira vez que vamos disputar a CAN e queremos deixar os guineenses orgulhosos. Trabalhámos muito para poder estar presentes e, apesar da nossa seleção não ser levada muito a sério, sabemos que o nosso enorme espírito, a nossa união, permite-nos sonhar. O título? O futebol é sempre uma surpresa. Certamente que também ninguém dizia que Portugal venceria o último Europeu e conseguiu. Levantaram a taça porque trabalharam mais do que os outros e é isso que queremos também fazer", afirmou o médio.

Curiosamente, o título Europeu de Portugal foi garantido com um golo de Éder, natural da Guiné--Bissau. O capitão dos djurtus acredita que o avançado do Lille estará a torcer por aquela que também é a sua pátria. "Tenho a certeza. Ele também é um ídolo na Guiné-Bissau", referiu.

O exemplo de Portugal, aliás, não é apenas referido por Bocundji Ca. Também José Mário Vaz, presidente da Guiné-Bissau, exortou o feito nacional. "Ninguém deu muitas hipóteses a Portugal antes do torneio. Que isso seja também uma motivação para nós. Um exemplo que merece ser seguido", salientou.

A Guiné-Bissau conseguiu o apuramento ao garantir o primeiro lugar no Grupo E de qualificação para a CAN 2017, à frente de seleções como o Congo, Zâmbia ou Quénia, todas com mais experiência. Os principais destaques dos djurtus são Zezinho, ex-Sporting e atualmente no Levadiakos, da Grécia, o capitão Bocundji Cá, Abel Camará, do Belenenses, e Sami, ex-FC Porto e a jogar atualmente no Akhisar da Turquia.

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