A frase de Beckett que levou Wawrinka até ao topo
O jogador suíço bateu Djokovic e ganhou o US Open. Leva 11 finais consecutivas a vencer e entrou para o restrito grupo dos Big Five
Chamam-lhe o tenista silencioso, apesar de ser o número três do Mundo, mas, mesmo depois de vencer Novak Djokovic na final do US Open, manteve a modéstia que tem caracterizado a sua carreira, feita quase sempre na sombra do compatriota Roger Federer, tal como ele natural da Suíça.
Wawrinka, 31 anos, despachou na madrugada de ontem o n.º 1 do ranking com os parciais de 6-7, 6-4, 7-5 e 6-3 em 3.55 horas. Foi a sua quinta vitória sobre Djokovic em 24 jogos entre ambos, que lhe permitiu conquistar o terceiro Grand Slam da carreira, depois do Open da Austrália (2014) e de Roland--Garros (2015). O suíço entrou assim para o chamado Big Five, o restrito grupo de tenistas que já garantiram três Grand Slams, ao lado de Novak Djokovic, Andy Murray, Roger Federer e Rafael Nadal.
Até finais de 2013, o suíço era apenas considerado um bom tenista, com quatro vitórias em torneios ATP - uma das conquistas foi precisamente o Estoril Open, na edição de 2013, quando era 16.º do ranking mundial e bateu na final o espanhol David Ferrer, então o número quatro do Mundo, em apenas dois sets (6-1 e 6-4).
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Aos 28 anos tinha perdido nove finais e teve de lidar com o rótulo de ser um desportista mentalmente fraco. Foi precisamente no final desse ano que tatuou no braço esquerdo uma frase do escritor irlandês Samuel Beckett - "Tenta. Fracassa. Não importa. Tenta outra vez. Fracassa de novo. Fracassa melhor" -, um tributo à modéstia, humildade e perseverança. "Era uma frase que me acompanhava há muito e que exemplifica a forma como eu vejo a vida. Temos de aceitar as derrotas de forma positiva, porque é algo que vai sempre acontecer", referiu numa entrevista ao jornal inglês The Guardian.
Coincidência ou não, a carreira de Wawrinka mudou a partir de então. Logo em janeiro de 2014 venceu em Chennai (Índia) e logo depois o Open da Austrália, com um triunfo sobre Rafael Nadal. Seguiu-se em 2015 mais um Grand Slam, desta vez Roland-Garros, batendo Djokovic na final.
A partida de Nova Iorque veio comprovar a fama de Wawrinka ser um predestinado em finais... desde que fez a famosa tatuagem no braço esquerdo - o US Open foi a 11.ª final consecutiva que o suíço venceu entre 2014 e 2016.
Mas nem a vitória (mais uma) sobre o número um mundial o fez desviar da sua linha de conduta, sempre com um discurso modesto e humilde. "Sim, é certo que entrei para o Big Five. Mas não me posso comparar a eles. Tenho agora três Grand Slams, mas vejam, por exemplo, quantos triunfos tem o Andy Murray em Masters 1000 e quantos torneios eles ganharam nos últimos dez anos. E o Novak? Três Grand Slams num ano e mais cinco Masters 1000, além de finais e presenças em meias-finais. Estou muito longe deles", confessou, mesmo depois de ter ouvido grandes elogios da parte de Djokovic: "Ele transforma-se nos grandes jogos e merece ser destacado ao lado dos grandes tenistas da atualidade. É um tenista completo e se estiver confiante é muito complicado vencê-lo."
Agora falta Wimbledon
Stanislav Wawrinka, que recebeu um cheque de 3,5 milhões de dólares pela vitória no US Open, torneio onde eliminou sucessivamente Verdasco, Giannessi, Evans, Marchenko, Del Potro, Nishikori e Djokovic, tornou-se o tenista mais velho desde 1970 a conquistar o torneio nova-iorquino - o recorde continua na posse de Ken Rosewall, que nesse ano venceu o US Open com 35 anos.
"Nunca tinha sonhado vencer um Grand Slam... e agora já tenho três. É um sonho tornado realidade, quase impensável. Falta-me Wimbledon [para completar a série de quatro torneios]? Não importa, o que me faz feliz é dizer que já ganhei três. Será mesmo indispensável falar de Wimbledon?", brincou o suíço após o jogo realizado no campo Artur Ashe, ele que um dia foi considerado por John McEnroe como um dos tenistas mais poderosos a jogar com o braço direito e que nos Jogos de Pequim 2008, ao lado de Federer, ganhou o ouro em pares.