'We Will Rock You': o musical que desafia o futuro com rebeldia
Estreia amanhã (21.30), no Campo Pequeno, em Lisboa, o musical dos Queen e de Ben Elton, We Will Rock You, visto por mais de 16 milhões de pessoas em todo o mundo. Durante 150 minutos, os fãs dos Queen vão poder revisitar 24 dos temas mais famosos da banda, como I Want to Break Free, Somebody to Love, Under Pressure, I Want It All, Who Wants to Live Forever, Don’t Stop Me Now, We Are the Champions ou Bohemian Rhapsody. E se as músicas - interpretadas por um elenco de atores totalmente português - fazem antever momentos de júbilo, o argumento promete transportar os espetadores para um futuro, que embora seja ficcionado, se assemelha muito com a realidade.
A história avança 300 anos, num futuro distópico onde o rock é completamente desconhecido e não existem instrumentos musicais. Todos os habitantes foram ensinados a pensar da mesma forma e cantar ou tocar é totalmente interdito. A música existe, mas apenas computadorizada. A Terra foi denominada de iPlanet e é controlada por uma corporação chamada de Globalsoft.
Neste planeta, as chamadas Crianças Gaga vivem todos em completa conformidade. Assistem aos mesmos filmes, vestem as mesmas roupas, partilham as mesmas opiniões, ouvem apenas as mesmas músicas computadorizadas, os instrumentos musicais são proibidos e o rock é completamente desconhecido.
Por isso, Madalena Alberto, que interpreta a personagem Killer Queen (chefe da companhia Globalsoft) diz tratar-se de um espetáculo “muito atual e não apenas um mero concerto”.
“Passa uma mensagem forte e muito pertinente, numa altura em que a IA [Inteligência Artificial] ocupa cada vez mais espaço e onde a sociedade acaba por estar muito formatada e com cada vez menos expressão individual”, explica ao DN.
A viver em Londres há 22 anos e habituada a subir ao palco com as melhores produções internacionais, a atriz não esconde a alegria por poder fazer o que mais “ama” em Portugal. “É a primeira vez que faço aqui um musical e, sinceramente, tem sido das melhores experiências da minha carreira. A qualidade da equipa, a energia e o companheirismo é algo que não via há muito tempo”, conta ao DN, à margem de um ensaio para o musical.
Mário Redondo, que interpreta a personagem Kashoggi (uma espécie de capataz de Killer Queen), também destaca a história do musical e traça um paralelismo com o mundo atual. “Nunca pensámos que o mundo ia mudar tanto e, com os avanços da IA, vai ser cada vez mais difícil distinguir o que é real”, sublinha. O musical, conta, tem como uma das suas mais-valias uma história envolvente, mas também o facto de contar com um elenco “muito jovem e com imenso talento”.
Uma equipa escolhida “a dedo” pelo produtor Armando Calado, que teve de selecionar de entre 170 candidatos, apenas 20. “O espetáculo é brutal. Os espetadores vão ficar de tal maneira envolvidos que vão acabar a cantar e a dançar”, afirma. E para os espectadores mais atentos, acrescenta, a semelhança com a realidade não vai passar despercebida. “É um musical com temas dos Queen, o que por si só já é quase garantia de momentos muito bons, mas passa obviamente uma mensagem”, explica.
Fotografia: Amin Chaar
Galileu, a personagem principal, é interpretada pelo lusodescendente Adam Filipe, um jovem de 21 anos que afirma estar a “viver o sonho”. “É a primeira vez que trabalho em Portugal e estou ansioso pela estreia. Sempre quis fazer algo aqui e poder ter a família e amigos a verem-me”, conta.
Se Galileu sonha em “fazer a sua própria música”, Adam está prestes a cumprir o seu sonho. Amanhã à noite vai subir ao palco do Campo Pequeno e sentir-se em casa. Contudo, lamenta não haver “uma tour para correr o país de norte a nul”.
Uma vontade partilhada por Armando Calado, que lamenta a falta de apoios. “Não há cultura de mecenato em Portugal. Em Londres, temos óperas completamente pagas por pessoas ou empresas. O Governo devia dar incentivos ou benefícios às empresas que apoiam a cultura”, defende.
Assim, para já, o musical tem uma sessão única. Os preços variam entre os 15 e os 80 euros.