'Viúva Negra'. Scarlett Johansson e o riso que não se apaga

Chega quinta-feira aos cinemas o primeiro filme Marvel pós-pandemia, <em>Viúva Negra</em>, realizado por uma cineasta autora, Cate Shortland, pedido expresso de Scarlett Johansson, a protagonista. A atriz mais cara de Hollywood chegou à fala com o DN.
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É a quarta vaga do Marvel Cinematic Universe, o que vem a seguir à batalha final de Avengers. Neste caso, Viúva Negra funciona como um flashback, uma prequela orientada para a personagem homónima, Natacha Romanoff, super-heroína dos Vingadores, aqui descrita como descendente de uma família secreta russa infiltrada nos EUA. A Marvel sem medo de investir num blockbuster em tons femininos através de uma personagem que morreu no último tomo dos Avengers. Ajuda ser a personagem amada que deu empoderamento feminino à saga e ajuda ainda mais ser com a atriz preferida dos americanos, Scarlett Johansson, ainda há pouco tempo o cachet feminino mais alto em Hollywood.

Se o #MeToo serviu para alguma coisa no cinema americano foi para poder dar luz a um filme gigante como este, realizado por uma mulher, a australiana Cate Shortland, e protagonizado por três mulheres: além de Scarlett, Rachel Weisz, como a mamã russa adotiva, e Florence Pugh, fresca do sucesso de Mulherzinhas, aqui como a irmã desavinda de Natacha. Mas é precisamente a presença de uma cineasta de cinema de autor que está a espantar muito boa gente. Como é que depois de filmes como Salto Mortal ( 2004) e Lore (2012) se faz um filme com orçamento milionário, regras narrativas de Kevin Feige e obrigação de cenas de ação insufladas com efeitos visuais? Conforme Scarlett Johansson conta ao DN em exclusivo numa entrevista via Zoom, a culpa é dela mesmo. Scarlett era fanática de Shortland: "Ela era a única escolha para este filme! Claro que estamos a trabalhar para a Marvel, que construiu toda esta reputação onde se equacionam diversos tipos de oportunidades para criar coisas novas. Na minha cabeça, para este filme só poderia ser a Cate Shortland a realizar, mas no começo estava impossível chegar até ela! Surgiram muitas outras hipóteses, mas sempre disse: tem de ser a Cate! Chegar até ela é que estava complicado. Além de estar desterrada na Austrália, estava a trabalhar num outro projeto que demorava uma eternidade. Nem queria acreditar!! Tinha de haver uma hipótese de chegar até ela, até que comecei pessoalmente a assediá-la. Decidi que tinha de ser eu a resolver isto... Mal isso aconteceu tive logo uma resposta positiva. Para este filme era fundamental um cineasta que já tivesse dado ao mundo uma obra-prima e eu considero o Lore um filme mais do que perfeito. Sempre soube que tinha de ser ela a fazer Viúva Negra. A Cate tem o gosto mais impecável que conheço e depois percebi que é uma mulher adorável, fantástica. Foi um presente para este filme...Mas tive mesmo de a cercar!! ".

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A atriz que em 2020 foi duplamente nomeada aos Óscares (com Jojo Rabbitt e Marriage Story), conta-nos também que esta história a solo da sua heroína estava já na forja quando rodavam o último Vingadores: "Foi num jantar durante essas filmagens que pensámos nesta prequela. Foi um processo muito interessante, foi como que viajar para trás. Quando ela morre em Endgame a ideia era que parecesse como uma escolha e isso está implícito aqui. Ao rodarmos essa cena estávamos também a pensar em Black Widow e a desencadear todo um processo de sacrifício. Foi mesmo algo de muito interessante trabalhar em Endgame já a preparar este filme e agora estou muito realizada com aquilo que conseguimos".

Florence Pugh, a atriz inglesa que está a conquistar Hollywood, também está ao lado de Scarlett e fala sobre as questões de falta de livre arbítrio da sua personagem, uma "black widow" treinada pelas forças super secretas soviéticas: "Essa coisa de não poder controlar o meu destino só a senti quando estava na escola. Odiava o sistema escolar! Por outro lado, sempre fiz o que quis. Cresci numa família que me protegeu muito e me deixou ser opinativa e ruidosa, coisas terríveis para uma miúda a crescer". Florence é um dos bálsamos de energia de um filme que tenta funcionar segundo uma lógica de filmes de espiões dos anos 1970/80.

Ainda sobre escolhas é a própria Scarlett quem continua o tema: "Houve uma altura na minha carreira em que pensava não ter voto na matéria. Tem a ver com aquela altura da nossa vida em que viajamos da adolescência para a idade maior. E é aí que somos surpreendidos quando percebemos que, afinal, há sempre uma opção, por muito que não pareça. Aprendi que é assim nesta indústria do cinema mas também no dia-a-dia. A toda a hora estamos a fazer pequenas escolhas. Estou sempre a lembrar-me a mim mesma que posso sempre reagir de forma diferente a um acontecimento". Logo a seguir aos breve minutos que dedicou ao DN, Scarlett está no ecrã de computador numa conferência de imprensa global e é aí que declara o seu amor ao estúdio Marvel: "Amo a nossa experiência Marvel, é como uma família. Fazer estes filmes é uma experiência muito especial. Apesar destes filmes serem superproduções parecem coisas muito familiares. São lugares muito convidativos e calorosos para os atores". Palavras de uma atriz que continua a dançar entre o cinema mais mainstream e o de autor. Neste encontro virtual estava particularmente descontraída. O peso de ser a estrela deste mega projeto não lhe retira o riso constante...

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