Jimmy Kimmel como apresentador ou a Academia a voltar a jogar pelo seguro...
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Vamos sobreviver a estes Óscares sem surpresas?

Esta noite logo às 23h arranca mais uma cerimónia dos Óscares, bem mais cedo do que o habitual devido à mudança de hora nos EUA e ao “despromoção” do horário nobre. Uma cerimónia onde parece estar tudo decidido e onde só o espetáculo pode ser a salvação.
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Oppenheimer. É este o título que se deve ouvir mais esta noite numa cerimónia pela quarta vez apresentada por Jimmy Kimmel. Uns Óscares que se anunciam previsíveis face ao favoritismo do épico de Christopher Nolan, a biografia do homem que inventou a bomba atómica. A questão até passa por saber quantos Óscares o filme arrecada, sendo que estão garantidos melhor filme e melhor realização. Este efeito de previsibilidade será um dos problemas de adesão desta maratona que celebra o melhor de Hollywood mas que também convocou um fenómeno francês chamado Anatomia de uma Queda, provavelmente um dos maiores candidatos a provocar um golpe de teatro que seria o melhor que poderia acontecer (mas que não vai acontecer, ainda assim, o filme de Justine Triet não deve sair de Los Angeles de mãos a abanar).

A consagração de Nolan

Aliás, como vem acontecendo nos últimos anos com a “institucionalização” da temporada dos prémios – das galas dos críticos aos Golden Globes, passando pelos BAFTA e prémios das Guildas – o efeito de suspense dilui-se e tira a tão necessária emoção da noite. Este ano, mais do que nos últimos, restam poucas dúvidas. É fácil perceber que Oppenheimer, que venceu tudo o que há para vencer antes, tem a porta aberta para a honra total, apenas não é favorito na categoria de argumento adaptado. E também nas outras categorias não se esperam surpresas: Lilly Gladstone em Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorsese, e Cillian Murphy em Oppenheimer, devem ter o Óscar garantido e o mesmo se passa com Da'Vine Randolph em Os Excluídos, de Alexander Payne e Robert Downey, Jr. em Oppenheimer na categoria dos secundários. Um aborrecimento que se prevê face ao pleno que todos estes atores fizeram nos anteriores prémios. Quer isto provar que este desgaste das campanhas dos prémios prejudica de facto a Academia, mas se agora fizéssemos um exercício da possível surpresa – que, já agora, era o melhor que poderia acontecer – a tendência era pensar em Pobres Criaturas, de Yorgos Lanthimos e Anatomia de uma Queda poderem estar à espreita. Segundo as casas das apostas, Emma Stone é única que pode sonhar numa desfeita a Gladstone e Paul Giamatti, perfeito como professor rabugento em Os Excluídos, também está na calha se algo estranho se passar com Murphy. Ainda antes dos BAFTA e dos SAG Awards chegou-se a colocar Giamatti como potencial vencedor, sobretudo tendo em conta o facto da sua imagem ser muito vista como um “ator dos atores”.

Óscares vs Eleições

Em Portugal este ano a cerimónia até poderia ter mais tração do que o habitual, em especial se pensarmos que às 1h da manhã já estará perto do fim, mas, por azar, temos as eleições, coincidência que fez com que a própria RTP 1 tenha despromovido a transmissão para a RTP2. Mário Augusto conduzirá uma emissão que todos esperam que possa ter os chamados fatores de espetáculo. Ryan Gosling cantará a canção nomeada I'm Just Ken e a presença confirmada de Billie Eilish poderá também atrair um mediatismo forte, tal como as presenças em palco de Ariana Grande, Anya Taylor-Joy, Zendaya e Al Pacino. Sem surpresa, o efeito desta noite nas bilheteiras nacionais já se nota desde que foram anunciadas as nomeações. É um dado líquido, todo este mediatismo dos Óscares leva muita gente às salas. Por exemplo, Pobres Criaturas, mesmo com toda a sua carga de surrealismo, tem números de blockbuster e Vidas Passadas, de Celine Song é um êxito brutal. Nesta maré dos prémios, Oppenheimer até foi reposto e Wim Wenders e o seu Dias Perfeitos beneficiaram do empurrão da nomeação na categoria de melhor filme internacional. Os Excluídos, A Zona de Interesse, de Jonathan Glazer e Anatomia de uma Queda também tiveram receitas acima da média.

DiCaprio barrado

Impossível não pensar nesta edição sem contemplar alguns ausentes. Ficará na história a forma como os membros da Academia não nomearam Leonardo DiCaprio, verdadeiramente prodigioso em Assassinos da Lua das Flores, de Martins Scorsese, ou Andrew Scott com a interpretação de uma vida em All of Us Strangers (inédito entre nós), de Andrew Haigh. Uma daquelas omissões que o tempo encarregar-se-á de punir. Ao mesmo tempo, é bom sentir que a Academia já não cai na cantiga de nomear automaticamente filmes formatados para os Óscares como um épico como Napoleão, de Ridley Scott, que nem mesmo nas categorias técnicas ganhou supremacia. Mas é garantido que os ausentes mais notados serão sempre Greta Gerwig como realizadora de Barbie, Saltburn, de Emerald Fennell, A Cor Púrpura, de Blitz Bazawule e Pedro Almodóvar nas curtas-metragens com o seu magistral Estranha Forma de Vida.

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