Uma noite luso-francesa para trocar ideias sobre "Ser e Estar Vivo" na Gulbenkian

Mais de duas dezenas de convidados - intelectuais, artistas, cientistas, franceses e portugueses, vão estar esta quinta-feira na Fundação Gulbenkian em Lisboa para a terceira edição da Noite das Ideias na capital portuguesa. A entrada é livre.
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"A ideia é termos uma noite - na verdade um bom serão, até à meia-noite - de reflexão, de diálogo, de troca entre intelectuais, artistas, personalidades do mundo da cultura, franceses e portugueses, sobre este tema - Ser e Estar Vivo". E assim que Florence Mangin, a embaixadora de Franca em Portugal descreve o que vai acontecer na Noite das Ideias 2020 na quinta-feira dia 30, na Fundação Gulbenkian em Lisboa.

A noite começa pelas 18:45 com Manuel Sobrinho Simões no grande auditório da Fundação Gulbenkian. O patologista vai falar sobre "Natureza e Humanidade: genética, "epigenéticas" e longevidade". Seguem-se intervenções de cientistas, artistas, intelectuais portugueses e franceses, desde o escritor e académico Erik Orsenna a João Vieira de Almeida, fundador da empresa de advogados Vieira de Almeida & Partners, que nos últimos anos se tem dedicado ao alpinismo.

"É a terceira edição da Noite das Ideias em Lisboa e a quinta no mundo. É uma iniciativa que começou como a Noite da Filosofia. Era um momento de diálogo, de reflexão. Depois tornou-se a Noite das Ideias para alargar o âmbito", explica ao DN Florence Mangin. A embaixadora, que se prepara para a sua primeira Noite das Ideias em Lisboa lembra que a iniciativa parte do Instituto Francês em Paris e do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Florence Mangin faz questão de sublinhar a importância da parceria com a Fundação Gulbenkian. Quanto ao tema "Ser e Estar Vivo", admite que "é vasto". Depois de "a imaginação ao poder" e "frente ao presente", este ano foi está a escolha vinda de França. Mas precisamente por ser tão vasto, a embaixada em parceria com a Gulbenkian decidiu três ângulos para "orientar um pouco os intervenientes". Esses ângulos são o Envolvimento Cidadãos, estar ao serviço do vivo; a Investigação Científica e a Dimensão Moral e Ética.

"A ideia partiu do então ministro dos Negócios Estrangeiros Laurent Fabius", explica Christian Tison. Para o presidente do Instituto Francês de Portugal, a vastidão do tema é propositada, para "deixar espaço para a criatividade das embaixadas". Além disso, é sempre um assunto que se prende com "os desafios mundiais atuais, como o ambiente, a saúde, etc".

Segundo Christian Tison, em 2019 a Noite das Ideias atraiu 2500 pessoas, mais mil do que na primeira edição, em 2018. "Muitos jovens. Estamos muito felizes!"

A noite não se vai limitar as intervenções dos convidados. A ideia é o próprio público participar no diálogo. Daí haver o que a embaixadora Mangin chama " três figuras de estilo", a primeira e a intervenção, em que o convidado " fala sobre o tema", a segunda é o diálogo, com "um participante português e um francês que debatem a temática" e há "diálogos com a sala", com intervenções ou perguntas do público.

Os visitantes são livres de circular entre as várias salas da Gulbenkian e escolher o que mais lhes interessa.

Do lado francês, Florence Mangin destaca a presença de Erik Orsenna. "Tive o prazer de o convidar para participar quando o presidente esteve na Academia francesa e quando lhe disse que era em Lisboa ele disse logo que sim. Nem olhou para a agenda".

Mas a embaixadora faz questão de sublinhar a diversidade do painel deste ano. "Temos vários filósofos, temos uma paleontóloga, mas também temos pessoas que fazem alpinismo, que fizeram os grandes picos do mundo. E estar vivo no topo do mundo dá outra perspetiva". E admite estar curiosa para saber, com um tema tão vasto, qual vai ser o caminho que as intervenções e as questões do público vai seguir.

Se é a sua primeira Noite das Ideias em Lisboa, a embaixadora Mangin já participou na iniciativa quando estava no ministério dos Negócios Estrangeiros em Paris. "Fiquei espantada com a seriedade com que o público estava a assistir às intervenções. Mesmo com tanta gente sentada no chão por causa da falta de espaço".

Este ano, a Noite das Ideias volta a acontecer um pouco por todo o mundo, de Los Angeles a Dacar, de Buenos Aires a Catmandou, passando por Bruxelas, Paris ou Marselha.

Alargar a outras cidades

Este ano, tal como já aconteceu em 2019, a Noite das Ideias sai de Lisboa e inclui também debates em Coimbra. Ali o tema será ligeiramente diferente, com a Alliance Française local a optar por centrar o debate no "Mal de Estar Vivo", uma visão pessimista , castastrofista e colapsista do mundo que contará com as presenças do padre e teólogo Anselmo Borges e do filósofo Jean-Jacques Wunenburger.

Este ano ainda não foi possível alargar a iniciativa a outras cidades, mas esse é um dos objetivos para as próximas edições da Noite das Ideias. "É preciso encontrar as pessoas certas no local. E talvez seja necessário que nós embaixada e o Instituto Francês de Portugal vamos até lá ajudar, sobretudo no primeiro ano", admite Florence Mangin. Porto e Faro, onde existem Alliances Françaises, são algumas das candidatas.

"O nosso trabalho é atrair as Alliances Françaises, mas não só - qualquer universidade, qualquer centro cultural pode apresentar-nos uma proposta e vamos trabalhar com ele", garante Christian Tison. "Sentimos que há procura", garante.

O ressurgir da cultura francesa

O objetivo desta Noite das Ideias é também, segundo Christian Tison, "dar a conhecer os intelectuais franceses e o estado do pensamento francês". A escolha dos convidados franceses fica a cargo da embaixada e do instituto, enquanto os portugueses são geralmente desafiados a participar pela Gulbenkian. "E está a tornar-se um exercício difícil - como quase todas as embaixadas o fazem, ligam todas aos mesmos intelectuais. Mas para nós tem corrido bem - no ano passado tivemos Dominique Wolton, este ano temos Erik Orsenna - é bom".

Lamentando que vivamos uma época de tristeza geral, em que cada vez mais nos virarmos para dentro de nós, é bom ver que há "pessoas, muitas delas jovens, que querem ouvir, que querem discutir. Devolve-nos a esperança".

Isso contraria a ideia de que a cultura francesa está a perder terreno? "Acho que as pessoas vêm por causa das ideias. E o formato de intervenções e debates curtos, atrai. E está tudo em português!", explica Christian Tison. Mas claro que com metade dos intervenientes franceses, isso é bom "para as nossas ideias, para os nossos intelectuais e para a língua francesa". E diz sentir que "volta a haver um interesse pela língua francesa, as empresas procuram falantes de francês - há um novo interesse nos últimos dois ou três anos".

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