Chama-se MuseuZer0, mas não tem um acervo tradicional. Tem como missão incentivar a criação artística em arte digital e expõe obras criadas com novas tecnologias. Isto, em Tavira, no Algarve, no edifício modernista de Manuel Gomes da Costa, inserido na Cooperativa Agrícola de Produtores de Azeite de Santa Catarina da Fonte do Bispo. Mas porquê um centro focado na arte digital, pergunta o DN a Fátima Marques Pereira, programadora geral do Museu Zer0.“Faltava um espaço inteiramente dedicado à arte digital, entendido não apenas como linguagem tecnológica, mas como campo expandido de pensamento, criação e experimentação. O Museu Zer0 nasce para preencher esse espaço, não como réplica de modelos internacionais, mas como um projeto singular, enraizado no território e orientado para o futuro”, afirma a antiga subdiretora-geral do Património Cultural ex-subdiretora-geral das Artes. E remete para uma declaração do fundador do museu, Paulo Teixeira Pinto, que foi governante e presidente executivo do BCP: “O nosso Museu não visa celebrar o passado, antes sim convocar o futuro. Porque, nas lapidares palavras de Paul Gauguin, ‘a arte ou é revolução ou plágio’.” . Fátima Marques Pereira admite que “existem em Portugal alguns equipamentos culturais que trabalham a arte digital, e o país tem hoje uma notável representação no campo da arte contemporânea - entre instituições públicas e privadas”, no entanto, acrescenta, “num país onde a maior parte dos equipamentos culturais se concentra nos grandes centros urbanos, o Museu Zer0 representa uma inversão de paradigma, um museu do interior para o mundo”. O MuseuZer0 assume-se como centro de produção de novas obras de arte digital e media art, apoiando artistas que exploram novas linguagens e investigam as relações entre arte, ciência e tecnologia.“Mais do que um espaço expositivo, o Museu é um organismo de produção e experimentação artística, onde tecnologia, imaginação e conhecimento se cruzam para pensar o futuro da arte e da cultura”, sublinha Fátima Marques Pereira.A ambição é “projetar internacionalmente a produção artística desenvolvida no Museu Zer0, apelando ao diálogo entre o local e o global e afirmando o Algarve como território de criação contemporânea”, adianta a programadora. Foi feita uma pesquisa internacional, mas este centro de arte digital, que abriu portas em outubro após um processo de renovação e adaptação do edifício, não seguiu nenhum modelo. “O Museu Zer0 afirma-se pela sua identidade própria, pela escala humana e pela forma como associa a criação digital à vivência do território”, diz Fátima Marques Pereira. As residências artísticas são um eixo estruturante deste projeto, “porque representam a dimensão de criação in situ, de experimentação e de conhecimento que está no ADN do Museu Zer0 - e respondem, de algum modo, ao desejo do fundador de que o Museu fosse ‘como que uma oficina renascentista’,” explica a programadora. .O museu acolhe artistas de diferentes gerações, geografias e linguagens, das artes visuais à música, da performance à arquitetura, passando por projetos de inteligência artificial e criação sonora, e “mais do que um perfil, procuramos uma atitude, a vontade de experimentar, de pensar o digital como campo de criação e produção artística, intrinsecamente ligado ao conhecimento e à reflexão contemporânea. Interessa-nos o diálogo com o território, com o lugar e com a comunidade, assim como com o património e as questões emergentes do nosso tempo”, explica Fátima Marques Pereira.Desde o dia 18 de outubro que que no âmbito da programação do II Momento de Abertura - A Plenitude do Zer0, podem ser vistas, nos vários espaços que compõem o museu, obras de arte digital, como instalações audiovisuais, imersivas e projetos sonoros. Na Sala de Exposições, com curadoria de Fátima Marques Pereira e Luís Fernandes, estão reunidos artistas “que traçam uma cartografia da arte digital contemporânea”, como Carincur, João Pedro Fonseca e Gonçalo Guiomar, Pedro Tudela, Miguel Carvalhais, Mariana Vilanova e Francisco Pedro Oliveira, entre outros..Burle Marx, o paisagista brasileiro que desenhava jardins como obras de arte.Sara Graça: A precariedade de uma geração e a arte como processo de resolução de problemas e improviso