'Tulou' de Fujian: construções residenciais e defensivas dos Hakka
A província de Fujian, localizada na costa sudeste da China, possui um rico património arquitetónico moldado pela sua geografia singular, pelo seu clima e pela sua diversidade cultural ao longo da história. Na edição anterior, apresentámos Gulangyu, uma ilha que reflete a fusão de influências culturais chinesas e ocidentais na arquitetura de Fujian. No entanto, a província abriga ainda dois estilos distintos de habitação tradicional: o tulou de Fujian e a mansão minnan (ou “mansão do sul de Fujian”).
Enquanto o primeiro foi construído pelos Hakka como fortaleza contra invasões, o segundo reflete a influência do comércio marítimo na arquitetura das mansões familiares dos grandes negociantes do sul de Fujian. Ambos são notáveis pelo seu design engenhoso e profunda riqueza cultural, proporcionando uma visão única sobre como os habitantes locais combinaram funcionalidade e estética na construção das suas casas. Nesta edição, vamos explorar o fascinante tulou de Fujian.
Os tulou foram descritos pelo historiador da ciência britânico Joseph Needham como “as habitações mais peculiares da China”. Na adaptação cinematográfica de Mulan, da Disney, a protagonista vive num tulou. Estas imponentes construções circulares ou retangulares foram erguidas pelos Hakka, um grupo étnico chinês que se estabeleceu nas áreas montanhosas de Fujian entre os séculos XII e XIX. Hoje, há mais de 3.000 tulou espalhados pelas cidades de Longyan e Zhangzhou, dos quais 46 foram inscritos na Lista do Património Mundial da UNESCO em 2008.
A origem destas construções está intimamente ligada à história das migrações Hakka. Durante o século IV, devido a guerras no norte da China, populações de etnia Han deslocaram-se para o sul e, ao se instalarem nas montanhas de Fujian, fundiram-se com a população local, formando a identidade cultural dos Hakka. Para se protegerem contra animais selvagens e ataques de bandidos, ergueram habitações coletivas que combinavam funções residenciais e defensivas.
As paredes dos tulou são feitas de terra batida misturada com bambu e madeira, alcançando entre um e dois metros de espessura. A camada externa, formada por blocos maciços de terra prensada, proporciona resistência estrutural, enquanto a parte interna é composta por madeira e tijolo. Essa técnica não só assegura proteção contra invasões, como também confere resistência a desastres naturais. As janelas são pequenas e estreitas, estrategicamente posicionadas para dificultar ataques externos, e no topo há torres de vigia para monitorizar os arredores.
O interior dos tulou é organizado em torno de um pátio central. Com vários andares, estas construções podem abrigar até 800 pessoas. Os espaços são distribuídos verticalmente: o rés-do-chão serve como cozinha, o 1.º andar é usado para armazenamento e os pisos superiores são reservados para os quartos.
Estas estruturas também contam com poços de água, casas de banho e salas de aula comunitárias. No centro, encontra-se o salão ancestral, um espaço dedicado ao culto dos antepassados e à realização de reuniões familiares. Curiosamente, as divisões do 3.º andar para cima são todos do mesmo tamanho e a sua distribuição não segue critérios hierárquicos, sendo atribuídos por sorteio. Esse sistema assegurava um sentimento de igualdade e promovia a harmonia familiar.
Sejam circulares ou retangulares, os tulou apresentam uma disposição simétrica e rigorosamente planeada, refletindo os princípios éticos e sociais da cultura tradicional chinesa. Seguindo um eixo central, a construção distribui-se de forma equilibrada em redor do salão ancestral, fortalecendo a identidade coletiva e a coesão familiar.
Desde que foram reconhecidos como Património Mundial, os tulou passaram a receber maior atenção no que diz respeito à sua conservação e utilização sustentável.
Além dos esforços de restauração para preservar a autenticidade das estruturas, Fujian tem investido em projetos turísticos inovadores, incluindo hotéis boutique dentro dos tulou, experiências culturais interativas, espetáculos imersivos e programas educativos sobre o património local. Essas iniciativas não só revitalizam os tulou, como também impulsionam o turismo e a economia da região.
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INICIATIVA DO MACAO DAILY NEWS