"A linguagem deste disco é uma linguagem do mundo. É como o Oceano, que nos leva ao mundo inteiro”, diz Tito Paris. Mas de que álbum está o músico cabo-verdiano a falar? Do próximo, que será lançado em 2026 e que se vai chamar Quem está a aí?, Kem tá li? em crioulo.“Este nome vem de uma frase da música Naufrágio, do Paulino Vieira, gravada nos anos 1980. Eu reagravei-a agora com uma nova roupagem, com outra sonoridade – se bem que a versão de Paulino também está muito boa, para ser franco”, sublinha Tito Paris ao DN, no Teatro Lanterna Mágica, em Lisboa, espaço onde está a ensaiar para o concerto no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, no próximo dia 12 dezembro. “Até foi a minha esposa que começou a dizer-me que era um bom nome para o álbum. E então ficou assim, porque realmente é bonita. É uma frase pequenininha e uma frase que fica”, explica Tito Paris. O lançamento de Quem está a aí? estava previsto para este mês, mas foi adiado. No entanto, Tito Paris apresentará ao vivo mais três canções do álbum no concerto da próxima sexta-feira, que se juntam a Feitice e Amor, canção do novo disco lançada em maio deste ano nas plataformas digitais. No palco 360º no Coliseu será possível ouvir a música Naufrágio, Maria Singela e Nô Bem di Longe.Neste novo trabalho discográfico, Tito Paris canta apenas músicas de outros autores e compositores, entre eles, e pela primeira vez, Teófilo Chantre (Maria Singela), Daniel Dulaque (Nô Bem di Longe) – “o pai é francês, a mãe é cabo-verdiana, mas a alma dele é muito crioula” –, e Dany Mariano (Feitice e Amor).“Neste disco não há nada escrito por mim. Só a voz e os arranjos, mas os arranjos são à moda do Tito”, diz o artista. “Quando me dão uma música para cantar, é como se me dessem uma criança para criar. Se a criança agora é minha, vou educá-la da minha forma.” .Neste disco não há nada escrito por mim. Só a voz e os arranjos, mas os arranjos são ‘à moda do Tito’..O músico começou a gravar o novo disco há um ano e continua a trabalhar em estúdio. Ainda não está decidido quantas canções terá o novo álbum que será editado pela Sony na primeira metade do próximo ano. E nada garante que na versão final de Quem está aí? não apareça uma canção sua. “Não quer dizer que ainda não vá a tempo de ter um tema meu nas próximas músicas que eu vou gravar”, diz o artista, até porque tem muitas na gaveta, explica Tito Paris, que compôs para grandes nomes como Cesária Évora e Bana, e continua a fazê-lo para outros artistas. O último álbum do músico é de 2017, Mim ê Bô, já lá vão oito anos. “Eu não gosto de gravar de ano em ano, de dois em dois anos, ou até de três em três anos, porque os álbuns ficam todos iguais. Temos que ter inspiração, temos que ter boa música. Eu gosto de cantar bons poemas, gosto de músicas muito bem feitas, muito bem compostas”, sublinha. . Apesar de há quase uma década não lançar um novo LP, Tito Paris não tem estado parado. “Durante os oito anos fiz várias parcerias também com outros cantores, em várias palcos, fiz várias viagens...”. O músico, que vive entre Lisboa e São Vicente, em Cabo Verde, faz muitos concertos lá fora. “Isso também muitas vezes não deixa uma pessoa entrar num estúdio concentrado. Porque entro no estúdio hoje e amanhã temos uma turnê e vamos. Marco o estúdio e, depois, no final, não vamos para o estúdio, porque vou sair dali a três dias....Eu gosto de estar no estúdio pelo menos uma semana. A trabalhar com tranquilidade. A fazer um ou dois temas”. . No Coliseu dos Recreios Tito Paris terá alguns convidados. João Pedro Pais cantará um tema com o músico e outro sozinho, Diva Barros e Cremilda Medina também atuarão. “Uma das coisas mais importantes são as parcerias com outros cantores, os mais novos têm muito para dar também. Essa troca de experiências é extremamente importante. Com os mais novos, com pessoas da minha idade e também com as pessoas mais experientes do que eu”, diz Tito Paris. Os espetadores ouvirão as novas músicas mas também canções mais antigas, como Pretinha, Curti Bô Life, Dança ma mim Criola. “No alinhamento estão alguns clássicos que as pessoas já estão habituadas a ouvir. Há pessoas que vão ao concerto, mas não conhecem estas músicas. Temos de ensaiar as músicas clássicas, que as pessoas costumam ouvir, e bem ensaiadas”.Tito Paris diz que a sua música está sempre a evoluir e isso passa também por “ouvir boa música, é uma forma de trabalhar, ouvir bons cantores. É muito bom reconhecer até onde podemos ir. A partir desse momento talvez saltemos a barreira”. E vai saltar a barreira no novo álbum? “Sim, de certeza absoluta. Na perfeição da harmonia, na forma de cantar, nas misturas... É um disco que está muito bem trabalhado, e é um disco muito esperado. Fico muito tempo sem gravar, mas os discos antigos estão sempre a vender. E isso é muito bom, porque é sinal que o trabalho foi bem construído.” . Tito Paris vai tocar com os músicos de sempre, “e mais alguns”. Porque, diz, “sempre trabalhei com músicos cabo-verdianos, portugueses, brasileiros, músicos cubanos e por aí fora. É extremamente importante que cada um traga um bocadinho do seu povo. É uma fusão lindíssima. É uma linguagem diferente, e depois torna-se uma língua só, que é a música”. Resumindo, “é um disco de fusão, sim. Vamos buscar um pouco de Brasil, um pouco de Portugal e um pouco de Cuba. Também um pouco de África, no seu todo. Mas Cabo Verde é a origem intocada”. E para vincar bem esta ideia, recorre a uma metáfora: “Moramos numa rua onde há uma casa que tem dois quartos em baixo e dois em cima e deitaram aquela casa abaixo, fizeram a casa outra vez, agora fica com quatro quartos em baixo, quatro em cima, é a criatividade do arquiteto. Mas a porta é sempre 47. Nunca muda. A morna estará sempre.” .É um disco de fusão, sim. Vamos buscar um pouco de Brasil, um pouco de Portugal e um pouco de Cuba. Também um pouco de África, no seu todo. Mas Cabo Verde é a origem intocada..Tito Paris tem uma agenda internacional preenchida e, mesmo aos 62 anos, fica inquieto quando está muito tempo sem entrar num avião. “Eu adoro viajar. O que me custa é quando fico muito tempo sem viajar”, revela. “Estivemos agora na Holanda, em França, nos Estados Unidos, em Angola. No ano passado estivemos duas ou três vezes na Polónia”, explica. Quanto às pessoas que assistem aos seus espetáculos um pouco por todo mundo, vão muito para além da diáspora cabo-verdiana em países como a Holanda, França ou Bélgica. “O meu público é um público internacional. É um público que gosta de som, gosta de um bom trabalho, gosta de um bom arranjo, é exigente, gosta de desafios, como eu também gosto. Esse é o meu público”.