Tilly Norwood. Há uma nova “atriz” a causar polémica em Hollywood
Reprodução Instagram

Tilly Norwood. Há uma nova “atriz” a causar polémica em Hollywood

Tilly é a primeira atriz desenvolvida integralmente por inteligência artificial na indústria cinematográfica. Associações, atores e realizadores reagiram com indignação.
Publicado a
Atualizado a

Há uma “estrela” emergente a deixar Hollywood em sobressalto. Chama-se Tilly Norwood e é promovida como a primeira atriz desenvolvida integralmente por inteligência artificial na indústria cinematográfica.

O projeto é da produtora e comediante neerlandesa Eline Van der Velden, que através da empresa Xicoia — que se apresenta como o primeiro estúdio de talentos baseados em IA — lançou Tilly com o objetivo declarado de a colocar no mercado de representação. A iniciativa, apresentada recentemente no Zurich Summit, fórum paralelo ao Festival de Cinema de Zurique, despertou curiosidade, mas sobretudo resistência, reporta a agência Associated Press.

Associações, atores e realizadores reagiram com indignação, acusando a proposta de ameaçar a essência da profissão. O sindicato norte-americano Screen Actors Guild (SAG-AFTRA) foi taxativo: “A criatividade é, e deve permanecer, centrada nos seres humanos”, afirmou em comunicado. “Tilly Norwood não é uma atriz. É um produto de software, treinado a partir do trabalho de inúmeros profissionais — sem consentimento nem compensação.”

A contestação não se limitou às instituições. Figuras de Hollywood, como as atrizes Melissa Barrera (“In the Heights”, “Scream”) e Natasha Lyonne (“Russian Doll”), manifestaram-se nas redes sociais. Barrera apelou a que qualquer agência que represente Norwood seja abandonada pelos seus clientes. Lyonne, atualmente a realizar um filme intitulado “Uncanny Valley”, que promete usar inteligência artificial de forma “ética”, classificou o projeto como “profundamente equivocado e perturbador”.

O debate surge num momento sensível: em 2023, a longa greve de atores e guionistas nos EUA teve como um dos pontos centrais a regulação do uso de inteligência artificial. O acordo alcançado estabeleceu algumas salvaguardas para proteger a imagem e desempenho de atores humanos. Ainda assim, polémicas recentes, como o recurso a IA para gerar falas em húngaro no filme The Brutalist, vencedor de um Óscar em 2024, mantêm a desconfiança viva.

Van der Velden, por seu lado, defende-se nas redes sociais. “Tilly não é um substituto para seres humanos, mas sim uma obra criativa, uma peça de arte”, escreveu no Instagram. “Criá-la foi um ato de imaginação e de ofício, comparável a escrever um papel ou desenhar uma personagem.”

Na mesma plataforma, com uma conta própria, Tilly Norwood surge como se fosse real: a beber café, a fazer compras, a partilhar bastidores de supostos ensaios de filmagem. A conta soma já mais de 40 mil seguidores. “Cada dia sinto-me mais perto do grande ecrã”, lê-se numa das publicações.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt