Teremos sempre a voz de Matthieu Amalric

Chegou ontem ao streaming Oxigénio, o novo thriller de ficção científica de Alexandre Aja, filmado durante a pandemia e com a questão do vírus na historia.
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Estão na moda os filmes-conceito. Objetos de cinema que vivem de uma ideia supostamente original e cujo sentido é testar a empatia do espetador. Neste caso, a ideia é um "concept-movie" para os tempos da pandemia. Alexander Aja, cineasta especializado no género de terror, aposta tudo no seguinte teste: durante uma hora e quarenta filmar uma mulher deitada e confinada numa pequena nave. O gancho passa pelo oxigénio contado e por um computador de bordo, um primo do Hal de 2001- Odisseia no Espaço, de Kubrick, que é bem capaz de ser a sua única hipótese de sobrevivência. Mas há batota no jogo da claustrofobia: a câmara sai às vezes da cubículo tecnológico onde acorda esta mulher, supostamente uma investigadora de criogenia: temos flashbacks e umas voltas pela atmosfera espacial.

À medida que o filme avança vamos também entrar num "puzzle" de identidade desta mulher, percebendo que esta poderá ser uma experiência de criogenia, ela que acordou sem saber quem é e que aos poucos, com a ajuda de Millo, a tal voz informática, tenta ligar peças da memória e vai percebendo que está intimamente envolvida com esta situação. O problema é a escassez do oxigénio, sempre a desaparecer...

90% deste conceito joga-se no rosto de Mélanie Laurent, uma das grandes atrizes do cinema francês. Ela é a bóia de salvação de um espetáculo de ficção-científica que arrisca nesta ideia de base mas que rapidamente entra em rodriguinhos de intriga e na previsível sucessão de reviravoltas. Às tantas, em vez de nos sentirmos claustrofóbicos, a sensação é mais de fadiga, sobretudo porque a câmara não para quieta - Aja acredita que para o filme não ser "chato" é preciso maneirismos visuais. Felizmente, há um trunfo que sai incólume a tudo isto; a voz de Matthieu Amalric, perfeito como um diligente computador "neutro". Trata-se de um trabalho verdadeiramente de ator, uma voz que enche tudo...

De certa maneira, Oxygène nem é bem um filme-conceito, é mais um filme-engenhoca cujo o epílogo parece descambar num clímax insuflado de nada....

dnot@dn.pt

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