Tokens, NFT e blockchain - termos que, à partida, não se associam ao cinema, mas que a produtora portuguesa MGN quer começar a aliar à Sétima Arte. O objetivo principal é "estabelecer formas de comunicação ativas entre todos, quebrando as barreiras existentes" e, assim, descentralizar e abrir o processo de produção cinematográfica a mais pessoas.."A comunidade da MGN vai ser constituída por dois tipos de pessoas: quem trabalha nas produções e, depois, os espetadores que as virem nas salas de cinema", explica Tino Navarro..Com a criação desta comunidade, o produtor pretende, por exemplo, permitir que o público participe no processo de escolha de cartazes oficiais de futuros trabalhos ou participe em test screenings - sessões de cinema feitas antes do lançamento, com um público representativo, no fundo, "uma sondagem sobre o filme". "A ideia é conseguir organizar e ter atividades da comunidade em todo o processo produtivo", acrescenta Tino Navarro, que confessa: "Nos últimos tempos tenho descoberto muito talento escondido. Por isso, ao criar esta abertura pode, eventualmente, haver a possibilidade de fazer estágios para quem quer entrar na área.".Mas, para quem é "um agente passivo no processo", como participar na comunidade? "Quem for ao cinema ver uma das nossas produções futuras, a partir de 1 de outubro, tira uma fotografia ao bilhete de cinema, submete através do nosso site e é-lhes imediatamente atribuído um token" que permite, assim, a entrada na comunidade virtual da MGN..Para que se possa ter acesso aos tokens (que, no fundo, são representações digitais de um ativo), é necessário ter uma carteira digital (um dispositivo eletrónico que permite transações digitais)..Todos estes procedimentos ficam registados na blockchain, uma espécie de livro de registos de transações digitais também elas descentralizadas - porque não existe a figura de um intermediário no processo..Ainda assim, clarifica a MGN, "os tokens não têm valor financeiro". E quem possuir mais tokens acaba por, no futuro, ter um poder de voto maior em relação a quem tiver menos - apesar de cada bilhete enviado só ter direito à atribuição de um destes ativos..Apesar do otimismo, Tino Navarro assume não saber como é que "isto vai evoluir", mas perspetiva a implementação desta tecnologia em outras áreas, como a política, "sobretudo a nível mais local, depois numa perspetiva mais nacional ou até mesmo internacional."."Antes, não tínhamos maneira de saber diretamente o que é que as pessoas pensavam sobre determinado assunto. Neste momento, se todos tivessem uma relação como esta, seria possível ouvir os habitantes e serem eles próprios a tomar a decisão e não apenas os representantes delegados pelo povo aquando das eleições", considera Tino Navarro..A integração de pessoas, em jeito de comunidade, em troca de recompensas por parte de produtores de conteúdo não é nova. Em plataformas como o Patreon, por exemplo, os subscritores (chamado "patronos") de cada criador pagam um valor mensal e, na maior parte dos casos, quanto mais alta é a contribuição mais privilégios lhe veem ser atribuídos..No entanto, a intenção de Tino Navarro é diferente, porque segundo o produtor a MGN "não quer amealhar dinheiro" com esta ideia. "Nunca tivemos intenção de pedir dinheiro, aquilo que queremos é abrir as portas às pessoas e tornar o que é passivo em ativo"..No futuro, ainda dentro da MGN, há também intenções de alargar - através de NFT (Non-Fungible Tokens) - a aproximação entre comunidade e a produtora. Através disto, o público passa a conseguir ter propriedade sobre "direitos de imagens de milhares de produções" que a MGN já fez..Isto porque, no fundo, os NFT são um tipo especial de token, que funciona como um certificado de posse sobre algo digital, como imagens ou vídeos. E, apesar da MGN não planear fazê-lo, "as pessoas podem depois vendê-los consoante um valor que definam, não estipulado antes, dependendo do valor que lhe derem", explica Tino Navarro..rui.godinho@dn.pt