"Comedian", a polémica obra de Maurizio Cattelan que foi vendida por quase seis milhões de euros
"Comedian", a polémica obra de Maurizio Cattelan que foi vendida por quase seis milhões de eurosArquivo

Serralves traz a obra de Maurizio Cattelan, o autor da polémica banana colada a uma parede

A programação de Serralves para 2025 inclui ainda vários momentos dedicados à arquitetura, como exposições dedicadas ao finlandês Alvar Aalto e aos portugueses Aires Mateus, entre outros.
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A Fundação de Serralves, no Porto, vai receber em 2025 exposições de artistas nacionais e internacionais, com destaques para as presenças da alemã Anne Imhof, da portuguesa Filipa César e do italiano Maurizio Cattelan, entre outros.

O trabalho do italiano Cattelan vai estar exposto entre a Casa de Serralves e o Parque, apresentando obras de toda a carreira do autor de "uma das peças mais importantes dos últimos anos", nas palavras do diretor do museu, Philippe Vergne, referindo-se a "Comedian", que consiste numa banana colada com uma fita a uma parede.

Também patentes na exposição que vai ser exibida entre junho de 2025 e janeiro de 2026 vão estar trabalhos de Cattelan como Daddy, Daddy, um boneco Pinóquio afogado numa fonte, ou La Nona ora, com uma imagem do Papa João Paulo II no chão, atingido por um meteorito.

O ano vai abrir com a exposição da artista norte-americana Avery Singer, uma "incrível pintora", segundo Vergne, que fará assim a sua primeira apresentação na Europa desde 2016, seguindo-se a libanesa Mounira Al Solh, que representou este ano o Líbano na Bienal de Arte de Veneza e cuja mostra "não podia ser mais oportuna", disse o diretor do Museu de Serralves.

Em abril vai ser inaugurada uma exposição da fotógrafa sul-africana Zanele Muholi, em colaboração com a Tate Modern de Londres, que vai incluir obras criadas pela artista relacionadas com a história portuguesa.

Segue-se, em maio, uma exposição coletiva, algo que Serralves não fazia há algum tempo, segundo Philippe Vergne, mas que foi sentido como uma necessidade para apresentar vários jovens artistas que, na maioria, vão ser expostos em Portugal pela primeira vez, desde Cameron Rowland a Aria Daren e Sara Daraedt, entre outros.

A brasileira Cinthia Marcelle vai expor na sala central do museu entre junho de 2025 e janeiro de 2026, chegando, em outubro, um dos destaques do ano em Serralves com a apresentação da obra da alemã Anne Imhof.

"É uma exposição mesmo importante para nós, de uma incrivelmente importante artista alemã", afirmou Philippe Vergne, lembrando o Leão de Ouro conquistado por Imhof na Bienal de Veneza de 2017, com a performance intitulada Fausto.

"Num momento de grande notoriedade da sua carreira, Imhof apresentará no Museu de Serralves uma seleção de algumas das suas obras mais proeminentes, além de novos trabalhos especificamente desenvolvidos para esta exposição", pode ler-se no plano de atividades para 2025 que realça que a "mostra será complementada por um relevante conjunto de performances ancoradas na vibrante cena cultural da cidade do Porto".

Serralves vai acolher, entre outubro de 2025 e abril de 2026, "a primeira grande antologia" de Filipa César, apresentando "um balanço abrangente do seu percurso artístico".

Serralves vai ainda receber, de forma permanente, a partir desta semana, uma escultura intitulada Ponte, de Pedro Cabrita Reis, sobre o lago do Parque.

A programação de Serralves para 2025 inclui ainda vários momentos dedicados à arquitetura, como exposições dedicadas ao finlandês Alvar Aalto e aos portugueses Aires Mateus, entre outros.

Nas artes performativas, vão passar por Serralves Meredith Monk e John Hollenbeck com "Duet Behavior" (que também passam pela Culturgest, em Lisboa), em fevereiro, Maria Hassabi, Tristan Perich e Floris Vanhoof, mantendo-se, como habitualmente, o ciclo O Museu como Performance, apontado para outubro.

Em 2025, voltam a ter lugar eventos como o Serralves em Festa, o Jazz no Parque, o Serralves em Luz, a Festa do Outono e o Bioblitz.

"Uma obra que força as pessoas a tomar posição"

O diretor do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Philippe Vergne, disse que o artista italiano Maurizio Cattelan, que vai expor no Porto em 2025, conseguiu criar uma obra que obriga o espectador a tomar uma posição.

Em declarações depois da conferência de imprensa de apresentação do plano de atividades da Fundação de Serralves para 2025, durante a qual Vergne classificou a obra "Comedian" como uma das mais importantes dos últimos anos, o diretor do museu explicou que "é uma obra de arte que conseguiu incorporar o fascínio com muitos aspetos da vida quotidiana".

"Em primeiro lugar, o fascínio com a arte. E acho que é incrível que um objeto tão simples tenha sido capaz, nos últimos dois anos, de captar a atenção das pessoas. Relacionado, o desejo das pessoas de se ligarem à obra, de forma positiva ou negativa. Cattelan inventou um signo que quase força as pessoas a tomarem uma posição, quer gostem de arte, não gostem de arte, gostem de bananas, ou pensem que é espetacular, que é ridículo, querem comê-la, não importa", afirmou Vergne.

Para o diretor do museu, "o que é importante é o que ativa e isso foi um tsunami de comentário, interesse, raiva, amor", o que significa que a obra "vai permanecer" para o futuro, apesar da efemeridade dos seus materiais: uma banana e um pedaço de fita cola.

"Ele criou de uma forma tangível um fenómeno que captou o nosso fascínio intangível com signos, com finanças, com imagem. E por isso penso que de uma forma muito simples, como quando [Lucio] Fontana fez um corte, como quando Marcel Duchamp virou um urinol, esta obra, 'Comedian', o título é muito importante, o que é um comediante, o que é comédia", explicou Vergne.

Em novembro, um dos exemplares da obra foi vendido em leilão em Nova Iorque por 6,2 milhões de dólares (5,9 milhões de euros) a um empresário de criptomoedas.

Desde que foi exibida pela primeira vez em 2019 no contexto de uma feira de arte, e vendida por cerca de 120.000 dólares, "Comedian" transformou-se num acontecimento global que teve um enorme impacto "na consciência cultural contemporânea", referiu a leiloeira Sotheby's em comunicado, na altura.

Aquando do leilão, citado pelo New York Times, Cattelan -- que não recebeu qualquer valor da venda do leilão porque o vendedor era um colecionador e não o artista -- afirmou: "O leilão tornou o que começou como uma afirmação em Basileia num espetáculo global ainda mais absurdo. Dessa forma, a peça torna-se autorreflexiva: quando maior o preço mais reforça o conceito original".

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