O Prémio Novos Artistas Fundação EDP já foi ganho por nomes que viriam a distinguir-se no panorama das artes plásticas, tanto a nível nacional como internacional, como Joana Vasconcelos (em 2000, ano de lançamento do Prémio) e Carlos Bunga (em 2003). Na edição de 2025 deste importante prémio bienal já foram selecionados os seis finalistas de entre quase 700 candidaturas. Alice dos Reis, Evy Jokhova, Francisco Trêpa, Inês Brites, Maja Escher e Sara Chang Yan são os artistas escolhidos e que vão ter em exposição, a partir desta quinta-feira, no MAAT Central, uma obra criada de propósito para aquele espaço. Foram Catarina Rosendo (curadora e professora universitária), Sérgio Mah (diretor-adjunto do MAAT e professor universitário) e Luís Silva (curador e diretor da Kunstalle Lissabon) os responsáveis pela escolha destes artistas. "Um processo moroso, mas muito estimulante", diz Catarina Rosendo, admitindo que "no fim não é fácil". O trabalho dos curadores vai muito para além da seleção, porque cada um deles acompanha mais de perto dois dos artistas finalistas na criação de obras de raiz para o espaço do MAAT Central. Durante a exposição, que estará patente até 8 de setembro, será nomeado um júri internacional que decidirá o vencedor do prémio, que recebe 20 mil euros. "O critério fundamental é a qualidade artística, é uma escolha subjetiva e decorre de um conjunto de contextos", como o "prémio anterior" ou o "contexto espacial", especifica o diretor-adjunto do MAAT. O objetivo é "trazer processos e retóricas artísticas em relação ao que queremos promover neste prémio", sublinha Sérgio Mah. Luís Silva aponta para a dinâmica de trabalho criada neste grupo de seis artistas e três curadores, um processo e uma relação de trabalho que se espelha no resultado final. . A exposição começa com Inês Brites, de 33 anos, que nasceu em Coimbra mas vive e trabalha em Lisboa. A artista descreve a sua obra como um "estudo do potencial do objeto, com outros materiais e outras cores". Uma banheira, uma sanita, feitos em resinas e silicones, apontam para uma "dimensão de intimidade com a utiização de objetos essenciais à vida quotidiana". Mas não são objetos mortos, a vida acontece. "A água e a energia animam estas obras a partir do interior, fazendo-as vibrar, soprar, pulsar, gotejar, suar, respirar, transformando-as em presenças singulares, vivas e cheias de humor", descreve a curadora Catarina Rosendo. . Os pais de Maja Escher são alemães, mas ela está bem ligada à terra portuguesa. Nasceu e cresceu no concelho de Odemira e a sua obra tem referências ao Alentejo. A artista, de 35 anos, convida-nos a sentar nas almofadas que integram a sua instalação. "Os meus projetos nascem sempre das relações com os lugares, e com as pessoas, animais e plantas desses lugares", explica. A ecologia está no centro das suas preocupações, mas não se resume ao ambiente. A artista fala em "ecologia das relações" e "ecologia interior". Cerâmica, algodão tingido com terra que ela recolhe, formas de sementes, o sol e as festividades alentejanas ligadas aos mastros - a sua obra tem "caráter de celebração e vontade de encontro". ."Os meus desenhos acabam quando não lembram nada", diz Sara Chang Yan sobre a sua obra. Com 43 anos, a artista nasceu em Lisboa e trabalha entre a capital e os Açores. "Tudo o que via do mundo deixou de me interessar", acrescenta. "Se retiro tudo, o que fica? Intuição, momentos de consciência, oração...". A exploração da artista é virada para dentro, para a procura de Deus (não o Deus religioso) para "descobrir a minha estrutura interna", explica. Nas criações de Sara Chang Yan, "o fundo também está ativo". "Se calhar fascina-me mais o espaço do que a figura". Diz que ao longo do tempo o desenho começou a ficar mais colorido, "porque a vida é alegre, a alegria contínua sem razão". E a cor aparece também nos painéis de formas inusitadas espalhados na parede branca do MAAT Central. .Francisco Trêpa, 30 anos, descreve o seu trabalho como "sci-fi barroco". Na obra que expõe no MAAT explora a relação entre a "máquina e a natureza". Em concreto, entre uma torre de energia elétrica e as cegonhas. Numa ida à praia viu "de outra forma" os ninhos de cegonhas naquelas estruturas. "Há uma relação de conflito,há um drama nesta relação", diz. "As cegonhas morrem eletrocutadas e causam dano à rede elétrica". A torre está quebrada e há um ninho caído no chão, remetendo para eventos "intensos" que não se conseguem controlar. O elemento sci-fi barroco está nas criaturas em cerâmica, feitas na Viúva Lamego, uma delas inspirada na peça"Lobo e Cegonha" do ceramista Rafel Bordalo Pinheiro, e outra no mito Rapto de Proserpina. .Com Alice dos Reis o vídeo entra em cena nesta exposição. A artista visual e realizadora, de 30 anos, de Lisboa, apresenta uma vídeoinstalação composta por uma tapeçaria emoldurada em quatro partes (Freiras caminham de madrugada, meio-dia, crespúsculo e noite) e um filme de cerca de sete minutos (Oh Be a Fine Girl Kiss Me). Assumindo que o seu trabalho "é muito narrativo", diz que aborda "questões que refletem ansiedades pessoais", muitas vezes ligadas ao corpo, à reprodução, à ciência e à ficção científica. A tapeçaria, que "é tradicionalmente um meio narrativo, guia para o filme", explica Alice dos Reis. O vídeo começa com "uma alma no éter que vai nascer a pensar na sua vida passada". É uma das freiras que trabalhou para o Observatório do Vaticano a ajudar a mapear estrelas. Na tapeçaria as freiras também aparecem, algumas grávidas, e há gatos, figuras presentes noutras obras da artista. "Como é um prémio, decidi encapsular trabalhos anteriores". .Evy Jokhova nasceu em Genebra em 1984 e está em Portugal há seis anos. Aborda a sua prática artística com uma "lente antropológica". A obra O conto marítimo do caranguejo-eremita, é uma metáfora para o problema da falta de habitação em Portugal e os desafios da imigração. O caranguejo-eremita nasce sem carapaça e passa a vida à procura de uma concha para se proteger. Se não conseguir, morre queimado pelo sol. Trata-se de uma peça interativa em que os visitantes podem enfiar os braços nas tenazes dos caranguejos feitos em tecido. Nesta instalação usa-se o têxtil, sendo que em cada trabalho, diz Evy Jokhova, "os materiais dependem da pesquisa do conceito". .Murais de Almada nas gares marítimas já se podem visitar, mesmo com restauro previsto em Alcântara