Todas as alturas para se abordar o tema do fascínio do “true crime”, a grande moda “streamer”/televisiva desta década, são boas. Um fascínio que a ficção não tem sabido explorar e que o “ódio visual” tem espremido ao limite para gente que se aburguesou como espectador de sofá. Não é por acaso que um filme menor, também em estreia esta semana, Terrifier 3- Aterrorizante, de Damien Leone, põe o trumpista Art the Clown a punir adolescentes fanáticos da cultura pop dos serial killers…Calha na mouche a estreia deste policial canadiano, uma mistura de drama de tribunal com suspense de assassino em série, um relato sobre um processo contra alguém que pode ter cometido uma série de crimes tenebrosos contra jovens louras. Uma top model solitária fica obcecada pela situação que , juntamente, como uma jovem apaixonada pelo acusado, decide seguir de perto o caso (intitulado pelas parangonas sensacionalistas de O Demónio de Rosemont) e ir investigando pela calada algumas das pistas da polícia. Uma investigação que a faz remexer nas profundezas da “dark web” ou não fossem as chamadas “red rooms” da internet o palco dos crimes do suspeito. “Red rooms” são os chamados quartos privados em que gente depravada entra remotamente para ver espetáculos de tortura e de execução em direto.Pascal Plante é particularmente meticuloso a criar essa entrada nos abismos da exploração da “dark web”, é como se nos estivesse a convidar para um mundo novo e a abrir-nos os olhos e a mente para uma nova idade das trevas. Lá fora, no mundo real, o circo de uma imprensa populista e do espetáculo das notícias folclóricas com manipulação, bem como uma geração Z entorpecida nas novas tecnologias e numa solidão que é compadecida com ciber-paranóia tonta. E é aí que precisamente o lado de psico-thriller marca pontos, mesmo quando lá para o fim, torna-se algo atabalhoado na resolução.Descoberto no Festival de Karlovy Vary, Les Chambres Rouges vive de uma fluência narrativa incapaz de anular em simultâneo a sua propensão para os ambientes à la Lynch e uma certa soturnidade chapa cinco. Coisa rara e apreciável, portanto. O filme vai sempre mais além quando se desprende das fórmulas do thriller e fica bem mais próximo de um estudo de personagem - quem é essa mulher que não precisa de sexo mas só de falar com o seu dispositivo computorizado, neste caso com uma voz feminina que lhe conta anedotas secas? É isso que nos puxa para a história.No final, sentimos que Pascal Plante esteve perto de uma espécie de novo Seven, de David Fincher. A frustração explica-se pelos preliminares que davam a sensação que a inquietação era bem mais grave, mais potente…Ainda assim, uma boa descoberta. Plante sabe realmente filmar uma solidão virtual. Red Rooms é o primeiro filme de uma série de antestreias intituladas Night Edition, com a parceria dos canais TVCine. Escusado será informar que um mês depois estes filmes inéditos da Bold já estarão nesse canal. Será que isto chama pessoas às salas?