Prémios Platino. E tudo Bardem levou!
No fim de semana passado Madrid foi a capital do cinema. Realizou-se a 9.ª edição dos Platino, os prémios do audiovisual dos países ibero-americanos. Portugal desta vez não conseguiu nenhuma nomeação numa cerimónia marcada pela vitória em força do cinema espanhol, com O Bom Patrão, de Fernando Leon de Aranoa, como grande colecionador das estatuetas prateadas. Cada vez mais, o peso deste evento faz-se sentir: a Madrid chegaram centenas de jornalistas de toda a América Latina. Uma afirmação cultural que é alavancada pelas academias de cinema dos vários países e pela associação de produtores - acima de tudo, trata-se de uma defesa e promoção de um cinema ibero-americano, onde apenas o Brasil e Portugal não têm o fator denominador comum que é o castelhano...
E nesta edição pós-covid e bem mais mediática, O Bom Patrão foi o papa Platinos. Um ultra favorito à partida depois de ter ficado mais de seis meses em exibição em Espanha e estar vendido para toda a América hispânica. O seu realizador venceu o prémio de melhor filme, argumento e realização, tendo Javier Bardem conquistado o prémio de melhor ator nesta sátira ao patronato espanhol que em Portugal não encontrou muito público. "Celebrei muito estes Platino! Foi a primeira vez que estive com jornalistas e público sem a máscara! Estava farto dos zooms! Foi uma grande emoção. Foi bonito e fico muito feliz pelo O Bom Patrão, é um filme muito divertido mas que no fim dá um pontapé forte ao espetador. Ficamos a pensar...", conta o ídolo espanhol recebido em apoteose pelos fãs na entrada do recinto onde a cerimónia no domingo se realizou, o impessoal IFEMA.
No palmarés, destaque ainda para a vitória da imensa Blanca Portillo em Maixabel, de Icíar Bollaín, onde interpreta uma mãe basca a tentar superar o ódio perante uma assassino da ETA que lhe matou o marido. Quanto a Pedro Almodóvar, ausente bem notado, o seu Mães Paralelas foi um dos perdedores da noite, não obstante ter conquistado o Platino de melhor atriz secundária, para Aitana Sanchez-Gijón, que logo a seguir a sair do palco emocionada falou para o DN: "aquela frase em que a minha personagem diz que todos os artistas são de esquerda deixou-me emocionada. Ri-me tanto quando li no guião. Estou mesmo agradecida ao Almodóvar! Sou uma atriz muito política, tudo o que digo tem intervenção!!".
O Platino de Honra este ano foi dado a Carmen Maura, a atriz de obras como O Que Fiz eu Para Merecer Isto?, de Pedro Almodóvar e Alice e Martin, de André Téchiné. Um monumento do cinema europeu cujo discurso na gala foi tão inspirador como hilariante ("não fiquem triste os que hoje perderam, se quiserem eu tenho tantos prémios, alguns posso dar..."). "Pois, não mos dão mas já estou com 76 anos, é complicado. A verdade é que continuo muito bem fisicamente e quero continuar a trabalhar. Aliás, o trabalho é uma vitamina", contou num encontro com a imprensa na sexta-feira.
Antes da cerimónia propriamente dita, uma série de iniciativas foram sendo realizadas na capital espanhola, sendo a mais relevante um jogo no Wanda Metropolitano (estádio do Atlético de Madrid) com estrelas de cinema e ex-craques de futebol. Uma manobra de promoção inusitada mas que aproximou o mundo do espetáculo da bola com o do cinema, algo que faz sentido se pensarmos que Enrique Cerezo, o presidente do Atlético de Madrid é o presidente executivo dos Platino e que a La Liga é um dos sponsors dos prémios... E foi em pleno evento cine-futebolístico que um dos convidados vindos da Argentina, Saviola, craque do melhor Benfica de Jorge Jesus, confessou ao DN ter uma relação fortíssima com a sétima arte: "o meu problema agora é que com filhos pequenos passo a vida a consumir cinema infantil e da Marvel. Sou fã dos filmes que têm grandes atores e venho da Argentina, um país que tem o Ricardo Darín!".
Pelo IFEMA passaram alguns nomes ligados ao futebol, entre os quais Mendieta, Morientes e Marcelo, o atual campeão pelo Real de Madrid. Tudo isto numa gala marcada por uma vibração muito latino-americana, em parte pela escolha de cenários e números musicais. "Estes prémios são uma maravilha, uma iniciativa fantástica! Este mercado latino é um dos maiores do mundo, valemos mais do Hollywood...", palavras de Darko Peric, o sérvio adotado pelos espanhóis e celebrizado por ser o Helsínquia de Casa de Papel. E também foi nos bastidores desta festa madrilena que um dos atores da moda, Àlvaro Morte, o Professor de Casa de Papel, contou ao DN o seu novo desejo: "quero muito dirigir cinema. Sabe, tenho três paixões: teatro, cinema e televisão. Como ator, quero estar nestes três eixos mas adoro dirigir. Já encenei peças de teatro...".
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