Para que não se fale dos poetas apenas quando ganham prémios ou morrem
Unsplash

Para que não se fale dos poetas apenas quando ganham prémios ou morrem

Filipa Leal, Raquel Nobre Guerra, Maria Lis e Daniel Jonas falam da sua prática poética. No Dia Mundial da Poesia, ouvimos livreiros e editores sobre a edição e leitura deste género literário.
Publicado a
Atualizado a

Não gosta de efemérides, muito menos do Dia Mundial da Poesia, apesar de ser dono de uma livraria que só vende poesia. Para Mário Guerra Cabral, que abriu há sete anos a Poesia Incompleta, na Lapa, em Lisboa, existir um dia para este género literário “torna uma coisa que devia ser regular, em excecional. E a minha missão é normalizá-la”, diz ao DN. “É o trabalho de sapa, o trabalho quotidiano, que permite a normalização do excecional.”

Apaixonado por poesia e grande conhecedor da mesma, o livreiro oferece na Poesia Incompleta livros do mundo inteiro e em todas as línguas. Mário Guerra Cabral sabe que para aferir o interesse do leitor português pela poesia “não pode dar a sua livraria como exemplo, é tão rara...”. Deve ser mesmo uma das poucas do planeta dedicada unicamente aos poemas.

Espaços como este são cada vez mais importantes para as pequenas editoras que não têm acesso à grande distribuição, porque fazem tiragens pequenas - entre 300 e 400 exemplares, quando não são 100 - e num cenário onde o número de livrarias independentes caiu drasticamente. “Temos muita dificuldade em entrar noutros espaços. Não tenho os livros na FNAC, nem na Bertrand, ou seja, em todas essas grandes cadeias, porque elas têm as suas regras e as suas regras não funcionam para nós”, sublinha Helena Vieira da Mariposa Azual, editora criada em 1998.

Estas casas literárias viraram-se para a poesia, ocupando um espaço que os grandes grupos editoriais deixam a descoberto. “A poesia ficou uma espécie de território para as pequenas editoras”, diz Helena Vieira. Duarte Pereira, da livraria Snob, faz a mesma análise: “A maioria dos pequenos projetos - as editoras independentes que vão aparecendo -, está a publicar poesia.”

Mário Guerra Cabral salienta que “algumas estão a fazer um trabalho extraordinário”, publicando autores nacionais e estrangeiros. Estas editoras, defende o livreiro da Poesia Incompleta, fazem o que “devia ser da responsabilidade de casas ‘ricas’, que podem arriscar perder dinheiro”. Fala dos maiores grupos editoriais nacionais, que fazem mais edições e reedições de autores já consagrados.

Helena Vieira lembra que “com as fusões de dois grandes grupos, a Porto Editora e a Leya, houve várias médias editoras que, de alguma forma, desapareceram. Elas continuam com a chancela, mas quem toma as decisões é a mesma pessoa e a diversidade fica comprometida”, defende. A Assírio & Alvim, por exemplo, para a qual a poesia sempre foi central, foi absorvida pela Porto Editora em 2012.

Cecília Andrade edita a poesia da Dom Quixote, chancela que pertence ao Grupo Leya, e explica que os livros de poesia têm “tiragens relativamente pequenas, não têm grande circulação”. Dados cedidos pela GfK ao DN mostram que foram vendidos cerca de 117 mil livros de poesia em Portugal no ano passado (para um universo total de quase 14 milhões de livros vendidos), com um preço médio de 16,64 euros, um "ligeiro decréscimo" face ao ano anterior, tanto em unidades vendidas como em valor faturado. Mensagem de Fernando Pessoa foi o título de poesia mais vendido em 2024.

A maior parte dos escritores que Cecília Andrade publica na Dom Quixote são consagrados, como Nuno Júdice, Manuel Alegre ou Maria Teresa Horta. “São autores que têm tiragens já muito confortáveis e que reeditamos.” E uma tiragem “confortável” é para cima de mil exemplares. “São poetas, são escritores que têm o seu público, os seus leitores, portanto, também asseguram vendas regulares.”

A editora reconhece que há muitos novos valores na poesia, mas adianta: “Não estou a publicar novos autores na editora. Não estou aberta, logo à partida afasto, porque não posso publicar dez livros de poesia por ano. Publico uma média de quatro, sem contar com reedições.”

Para Helena Vieira, as “grandes editoras arriscam muito pouco. Para nós fica, de alguma forma, este trabalho de continuar a encontrar coisas novas , o que é sempre um grande prazer e um grande risco, porque as coisas novas precisam de tempo. Tempo para circular, para serem ditas, conhecidas, reconhecidas, premiadas.” E os prémios contam. “Os prémios são importantes, porque, infelizmente, deixámos de ter jornalismo cultural e crítica. Só há dois momentos em que se fala de escritores ou artistas: é quando morrem ou quando ganham um prémio. E no dia a seguir já ninguém se lembra.”

A perceção de Cecília Andrade é que se está a ler mais poesia, precisamente “graças às pequenas editoras”. E que se está publicar mais, “porque se está a publicar mais de tudo. Há mais gente a escrever e a publicar, seja em editora, seja em auto edição”. Pedro Duarte considera que “estamos numa altura em que se está a publicar muito, para o bem e para o mal”. Sobre a relação quantidade-qualidade, Helena Vieira defende que não deve haver entraves. “Teremos melhor poesia se for um conhecedor, ninguém quer ler ignorâncias, mas um poeta não precisa de nenhuma habilitação anterior, e esta é a liberdade da poesia. Sou absolutamente a favor de total liberdade, quem quer publicar não deve ficar silenciado.”

Notícia atualizada com o número de livros de poesia vendidos em 2024.

Filipa Leal
Filipa LealOzias Filho

Filipa Leal: “As pessoas devem ler o que lhes apetece. A poesia, felizmente, não é obrigatória ”

O último livro de Filipa Leal foi lançado no final do ano passado e intitula-se Adrenalina. No lançamento deste nova obra conheceu uns leitores da sua poesia que ficaram na memória: “Uma rapariga e um rapaz muito jovens vieram mostrar-me uma cópia pirata (manuscrita e com uma aguarela na capa, feita por eles, reproduzindo a capa original) de um livro meu esgotado há muito tempo: O Problema de Ser Norte. Como não encontraram o livro, nem em alfarrabistas, foram para uma biblioteca pública e ‘piratearam-no’. Achei muito bonito”, conta Filipa Leal ao DN.

Sobre a relação dos portugueses com a leitura de poesia e como pôr mais pessoas a ler, Filipa Leal é clara: “As pessoas devem ler o que lhes apetece. A poesia, felizmente, não é obrigatória. Mas manter a tradição da leitura em voz alta, e da cumplicidade desses encontros e dessa partilha, talvez ajude a descomplicar a ideia que muitos leitores ainda têm da poesia como uma coisa afastada da vida e da compreensão”.

A poetisa já tem 15 livros publicados e diz que “a poesia é feliz com Portugal”, sublinhando que “a relação vai longa, e as grandes e pequenas editoras têm feito um bom trabalho (e complementar, creio) na divulgação de obras originais, de antologias, e de traduções cuidadosas”. Diz que é “um campo não apenas aberto à novidade (aos mais jovens, que estão a começar), mas também à valorização do tempo da obra (às vezes, com regressos ao fim de anos em silêncio)”.

Filipa Leal, formada em Jornalismo pela Universidade de Westminster de Londres, colaborou em vários programas de televisão de índole cultural e é também argumentista. Raros são os poetas que só fazem poesia, e sobre esta questão ela tem uma opinião: “Eu gostava que houvesse um CAE nas Finanças para os poetas. E não falo só de direitos de autor. Falo num mundo em que os poetas recebessem um ordenado pelo seu trabalho, que é escrever - aí, sim, poderíamos falar em ‘países de poetas’”. “Não retira nenhuma qualidade ao trabalho de ninguém o facto de se tornar uma profissão. Não lhe retira nenhuma magia. O que retira magia ao trabalho é não se conseguir, com o fruto do trabalho de um ano, por exemplo, pagar mais do que um mês de renda”.

E diz mais: "Há dezenas de páginas na Internet com citações de poemas que as pessoas divulgam e partilham e trocam, e até casam por causa disso. E ainda bem. Mas os poetas estão sempre desempregados. É da natureza do poeta ser desempregado. Não me parece razoável".

Perguntámos-lhe para indicar um valor emergente da poesia portuguesa e falou em Francisca Bartilotti. “Como Miguel Torga, Jorge de Sousa Braga ou João Luís Barreto Guimarães, a Francisca é médica e poeta. Publicou o seu primeiro livro em 2024 (A Observadora de Pássaros, ed. Urutau)”.

Costuma dizer poesia na cave do café Pinguim, à segunda-feira, ou nas Quintas de Leitura do Teatro do Campo Alegre, diz Filipa Leal. "O nosso percurso é semelhante nesse campo, e também no de uma certa obsessão pela viagem. A voz da Francisca é simultaneamente terna e curiosa. É como se escrevesse “baixinho”, mas deixasse para o leitor a escolha entre a serenidade e a inquietação. Há um poema do seu livro que talvez resuma tudo isto: Hoje,/ uma criança apontou/ uma arma de brincar/ ao meu peito.// Riu,/ quando fingi que morria.”  

 Um nome a descobrir e, neste Dia Mundial da Poesia, um poema que lhe diz muito: “A Defesa do Poeta, da Natália Correia. Depois do centenário da Natália, além de poderem ler este poema, podem ouvi-lo cantado pela Mafalda Veiga, com música original de Renato Júnior. É uma versão imperdível”.

Daniel Jonas
Daniel JonasReinaldo Rodrigues

Daniel Jonas: “Dá-me ideia de que muita gente escreve, mais do que muita gente lê”

Depois de Cães de Chuva (Assírio & Alvim, 2021), a Idade da Perda: “O próximo livro está pronto, entregue e só lhe falta uma capa. Chamar-se-á Idade da Perda. Sairá quatro anos depois do último. Acho que é um bom intervalo”, revela Daniel Jonas. O poeta premiado, dramaturgo e tradutor descreve assim a nova obra: “Os temas recorrentes resultam de uma comunicação com primitivas versões de mim e o desencanto de perder algumas das faculdades e algumas das ambições do meu eu sebastianista. Será um livro de poemas formalmente livre, um tipo de smörgåsbord temático e versilibrista. Os versos serão brancos ou livres e a temática variável, embora tenha procurado reunir uma certa síntese que aliasse a idade da pedra à idade da perda”. Na Idade da Perda, diz ainda, “virão vários minerais raros à baila e até tarifas, a partir de um poema escrito, diga-se, antes de as tarifas serem trazidas ao espaço mediático”.

O poeta explica que a sua relação com aquilo que escreve é cada vez mais crítica: “Enjoo muito tudo o que faça, de tal maneira que o próximo livro que terá cerca de 100 páginas deixou um documento de cerca de 200, órfãos poéticos deserdados e que não aguentaram a provação da releitura”.

Sobre como pôr mais pessoas a ler poemas, não sabe. “Mas dá-me ideia de que muita gente escreve, mais do que muita gente lê. Nesse sentido, e se há mais gente a escrever do que a ler, quer dizer que, lessem também as pessoas que escrevem, mais gente leria, logo a nossa receita para a sua pergunta pode passar por fazer uma campanha que leve quem escreva a ler mais”.

Portugal, país de poetas? “Talvez o débito qualitativo da poesia em Portugal seja inversamente proporcional a outras artes e a outros métiers. Poderia dizer com igual segurança que Portugal é um país de sapateiros”, responde. “Parece haver uma vitalidade editorial surpreendente, capaz de fazer escoar uma série de socas poéticas”, diz ainda. Os seus leitores serão “pessoas exóticas e de quem gosto muito pelo seu lado penitencial e que, “no fundo, procuro fazer boa literatura para bons leitores. Aliás, uma boa maneira de fazer auto publicidade será dizer que quem me lê é um bom leitor”.

E para terminar, um poema. "Posso partilhar o primeiro que me vem subitamente à cabeça. Trata-se de um poema de Fernando Assis Pacheco, que diz tudo o que é preciso dizer em poesia e que convoca, a meu ver, o poema XL de A Shropshire Lad do poeta inglês Alfred Edward Housman. O poema (de A Musa Irregular):"

Tentas, de longe, dizer que estás aqui.
Com peso triste caminha na rua o Outono.
O meu coração debruça-se à janela
a ver pessoas e carros, e as folhas caindo.

Mastigo esta solidão
como quando era pequeno e jantava
diante dos pais zangados:
devagar, ausente
.

Maria Lis
Maria LisD.R.

Maria Lis: “Preferia até que se lesse menos, que nos agarrássemos a livros como a ossos”

Não sei se estou assim tão interessada em que mais pessoas leiam poesia”, responde Maria Lis, a jovem autora de Turbulenta Forma (2023) e Enclave, este último livro lançado no final do ano passado, ambos pela editora Língua Morta. A pergunta era o que fazer para pôr mais pessoas a ler e a acarinhar a poesia em Portugal. “A poesia, como a realidade, não precisa de ajuda. Há tantos esforços para pôr mais pessoas a ler e a acarinhar poesia em Portugal que dão asneira. Surgem umas páginas nas redes sociais às vezes com poemas inteiros, às vezes com umas tesouradas, e mesmo quando se nota um esforço desejável com a diversidade na procura, parece-me sempre mais um afastamento da poesia como a mim me interessa do que uma aproximação”, desenvolve. “Depois há os pacotinhos de café e os versos com fundo de pôr-do-sol, parece-me tudo um difícil e dolorosamente amplo gosto e carinho pela poesia que eu, pessoalmente, de bom grado, dispensaria. Preferia até que se lesse menos, que nos agarrássemos a livros como a ossos, e andássemos ali às voltas a deixar que o que lemos nos fermentasse”.

Mas nem tudo é inútil e porventura até prejudicial. “Podemos e devemos sentar-nos para conversar e podemos ouvir, podemos ir aos domingos à Poesia Incompleta e ouvir leituras, por exemplo, podemos trocar umas ideias com o Changuito (alcunha de Mário Guerra Cabral, ver primeiro texto), que é uma alma tão caridosa com os leitores, sempre disponível para ajudar), pedir-lhe recomendações de livros, acho que seria uma excelente forma de começar”. Isto num cenário em que “ há provavelmente mais livros de poesia que leitores de poesia”.

Maria Lis é educadora social num centro de apoio familiar e aconselhamento parental. “Escrevo quase todos os dias e escrevo muitas vezes na sequência das durezas do meu trabalho. Passo os dias mergulhada nas asperezas das vidas das pessoas que acompanho. Escrever ajuda-me a concretizar a minha vingança a este modo de vida que parece aprisionar-nos a todos (e a penalizar especialmente alguns). Escrever distrai-me da dor aguda que não sei onde guardar”.

A poetisa e ilustradora está a trabalhar num novo livro que chamará Ordália. “Trata-se de uma espécie de diário sem autor, sem tempo, apenas uma sucessão de dias, segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, sobre, digamos, resumidamente, a condição operária, os seus desígnios e resistências. Queria conseguir escrever 365 entradas de diário, como que simbolicamente percorrendo um ano, entre os séculos e os braços, as pernas e os suores de tanta gente. Dificilmente terei unhas para o terminar em 2025”.

Convidada partilhar um poema, pega num excerto do livro Quando Onde, do Miguel Cardoso "e que tive o privilégio de co-construir com os meus desenhos".

“Odres afinal de sangue 

eram os búfalos de Breslau 

A sua língua improvável 

O casco rubro de esfoçro 

 

Sabe-se que o mundo 

 

tem pelagem mais espessa ainda 

que a destes assombros que vieram 

dos campos abertos da Roménia 

 

e que vi vencidos a puxar 

escombros em carroças até ao pátio onde passeio 

por vezes pela tarde 

 

Está ferido de morte, Sonyichka 

 

Só não deu por isso.” 

Raquel Nobre Guerra
Raquel Nobre GuerraD.R.

Raquel Nobre Guerra: “Enquanto tomas banho e tens a mente mais solta, e eis uma ideia, um verso perfeito"

Divisão da Alegria (Tinta da China, 2022) foi o último livro de Raquel Nobre Guerra e há outro a caminho. “Quando estou a trabalhar num livro novo, como é o caso, com uma ideia já definida, sinto-me mais viva e desperta, como se não houvesse divisão entre mim e o que me chega da realidade, sob a forma de uma fluidez simpática. É uma sensação espantosa quando sentes estar com os duendes num transe extratemporal, suspensivo. É um lugar muito cheio, muito vivo e muito belo, onde experimentas uma liberdade distinta no convívio com outros sectores do universo”, diz a poetisa sobre a sua rotina de escrita, que não tem.

Está uma fase em que acorda de madrugada, “por mal conseguir dormir com a excitação associativa de pensamentos rápidos e vívidos, ideias e imagens urgentes que pedem assento. Então, salto da cama, acendo um cigarro, faço café, bebo um copo de água a correr e sento-me em silêncio sem deixar entrar o mundo”.

Estes “estados gasosos”, como os descreve são “algo selvagem, descontrolado, uma desproporção, uma disposição, um impromptu que ocorre no mundo natural, por exemplo, enquanto conduzes, enquanto tomas banho e tens a mente mais solta, e eis uma ideia, um verso perfeito, depois tu escolhes seguir-lhe o rasto, ou não”.

E neste processo, uma coisa lhe ficou: “Aprendi que não serve de nada jurar fidelidade à musa ou bater no peito, não há uma instrução preparatória para o acto da escrita: é algo mágico, mas não se chega lá com magia”. Compara o escrever poesia a um “estado meditativo, numa ginástica de concentração, numa frequência cerebral que te leva a outras partes do ser”. E quando se senta e nada sai, vai “lavar loiça ou aspirar”.

Lisboeta licenciada em Filosofia e mestre em Filosofia da Arte, lembra-se de ter ficado “siderada com Os Lusíadas, não percebia a letra, mas ouvia a música.” Angustiou-se com Agustina, riu-se com Camilo Castelo Branco e sentiu uma “atração fatal por Fermando Pessoa”.

Aos 14 anos a mãe ofereceu-lhe uma máquina de escrever Indus, semielétrica - “E a partir daí percebi que podia andar com a máquina para todo o lado. Senti que podia enlouquecer sozinha no meu quarto, às escondidas.”

E um poema? "Um trecho que li do livro do poeta Miguel Martins São Miguel da Desorientação: Enlouqueço / de fato, colete, / gravata, pronto a integrar / as hostes proletárias do / olvido".

Para que não se fale dos poetas apenas quando ganham prémios ou morrem
Um encontro no Congo entre Che e um cão
Para que não se fale dos poetas apenas quando ganham prémios ou morrem
"Sei que fazendo parte da música não é assim tão difícil lançar um romance, mas eu não queria ter um livreco"

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt