Pedro Cabeleira a filmar a sua musa, Ana Vilaça, em By Flávio - trata-se da atriz mais excitante do cinema português atual...
Pedro Cabeleira a filmar a sua musa, Ana Vilaça, em By Flávio - trata-se da atriz mais excitante do cinema português atual...

Para acreditar (ainda) mais no cinema português

A sessão chama-se e inclui as curtas-metragens 'By Flávio', de Pedro Cabeleira; 'As Sacrificadas', de Aurélie Oliveira Pernet e 'Um Caroço de Abacate', de Ary Zara. Três momentos marcantes de um cinema português diverso e estimulante.
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Nesta vaga de longas-metragens portuguesas que estão a estrear em número avassalador desde o final do verão já percebemos que o divórcio com o público é inequívoco. Quando nem há espectadores para Grand Tour, o prémio de melhor realização para Miguel Gomes em Cannes, está tudo dito. Agora, numa semana em que chegam mais duas longas, há exibidores que acreditam numa sessão longa com três curtas. Um gesto de resistência ou de fuga para a frente. Ou, mais certamente, uma crença que haja uma imensa minoria que repare em três magníficos filmes agrupados numa sessão chamada Que Mulheres Serão Estas?, onde a tónica são histórias com perspetiva feminina. Mulheres todas elas diferentes em By Flávio, de Pedro Cabeleira; As Sacrificadas, de Aurélie Oliveira Pernet e Um Caroço de Abacate, de Ary Zara.

O mais mediático destes todos é precisamente o filme de Zara, uma história de uma noitada em Lisboa em que um homem heterossexual fica desarmado ao deixar-se atrair por uma mulher trans. É um filme que chegou a ficar na última shortlist das curtas-metragens nos Óscares do ano passado e é marcado por uma química intransponível entre Gaya de Medeiros e Ivo Canelas. Um verdadeiro “trabalho de amor”, capaz de abordar questões de género e identitárias com um tempo de cinema autêntico e verdadeiramente sem as limitações do filme de panfleto.

Depois, destaque natural para By Flávio, obra de Pedro Cabeleira que esteve na Berlinale e mostra uma mãe solteira com aspirações a ser “influencer” num date com um rapper que quer ser “mau rapaz”. Uma comédia de costumes feita com um olhar afiado, a penetrar numa mediocridade que é tão galopante numa nova geração presa às redes sociais.

Por fim, As Sacrificadas, que nos mostra  uma mulher que está numa encruzilhada da vida, entre seguir em frente e cuidar da mãe num verão de muitos incêndios. Retrato real de um Portugal triste e desconsolado num ângulo feminino suave. Destaque para uma interpretação estrondosa de Valerie Braddell.

São três curtas que mostram que o novo cinema português está cada vez mais estimulante.

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